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REVISTA DA ARMADA | 552
NRP SAGRES
DA CIRCUM-NAVEGAÇÃO
AO PÉRIPLO PELO
ATLÂNTICO
FLÂMULA AZUL
pós a curta estadia na Cidade do Cabo, de somente 8 horas
Apara a realização de fainas, o navio largou sob um céu cin-
zento e carregado, correspondendo ao semblante de quem não
pôde cumprir com a missão inicial – a circum-navegação – e tem
agora que rumar a Norte. O novo desiderato passa por navegar por
forma a evitar atracar noutros portos até Lisboa. Para tal há que meio de uma rada que podia ser histórica. A dita passagem ocor-
contar que corra tudo bem com uma tríade – a autonomia de com- reu durante o quarto noturno, entre a meia noite e as quatro da
bus vel, de alimentos e zero falhas nos equipamentos de bordo. manhã; por feliz coincidência, e sem “atropelos” à escala vigente, o
Apesar de se terem verifi cado os dois primeiros pressupostos, foi respe vo OQP teve “direito” a duas comemorações – por estar de
pelo terceiro fator que, aquela que seria a rada mais longa da quarto na ponte durante a transição de hemisfério e por ser o seu
história do navio, não se concre zou, como se verá adiante. aniversário. Uma prenda a dobrar para o aniversariante!
A largada sob uma intempérie serviu de mote para aquele que Porém o desafi o de contornar o con nente africano sem qual-
seria o maior período de propulsão exclusivamente à vela desta quer paragem estava prestes a esfumar-se. Devido a um pro-
viagem. Foram 11 dias a navegar ao sabor de ventos de setores blema técnico no grupo de produção de energia elétrica, surgiu a
favoráveis, que permi ram por diversas vezes a mudança dos necessidade de aportar àquele que era o porto mais próximo no
detentores da fl âmula azul. Este é o dis n vo conquistado pelo momento – a cidade do Mindelo, em Cabo Verde.
ofi cial de quarto à ponte (OQP) que, durante o seu quarto (de A no cia trouxe algum desânimo. Não pelo fato de se ir conhecer
4 horas) percorra mais milhas com propulsão exclusiva à vela. um novo porto após vários dias no mar, algo do gosto de qualquer
Durante 3 quartos consecu vos foram percorridas quase 120 marinheiro, mas pelo contexto em que a escala ia ser realizada,
milhas náu cas; foi neste período que o atual detentor da fl âmula em plena pandemia. E pelo atraso que acarretaria rela vamente
percorreu precisamente 40 milhas. Foram a ngidas velocidades à chegada a Lisboa.
de quase 12 nós, com nem metade do pano existente caçado.
MINDELO
ZONA INTERTROPICAL
A entrada no canal de São Vicente tornou-se um desafi o mais exi-
A fase dos ventos favoráveis acabou por se desvanecer à aproxi- gente do que se esperava. A forte corrente e o vento que se faziam
mação do Trópico de Capricórnio. Os ventos amainaram e surgiu sen r, permi am somente que o navio a ngisse os 2 nós com a
a necessidade de colocar a máquina para con nuar a navegação. máquina avante toda a força. Houve que adiar por diversas vezes
Com a entrada na zona intertropical, surgiu o clima tropical, a hora prevista da faina de chegada, obrigando o Monte Cara a
húmido e quente, que perdurou durante o terceiro terço da via- aguardar quase até ao pôr do sol para ver a Sagres a entrar na baía
gem. A passagem da linha do Equador tornou-se igualmente um do Mindelo. A atracação fi cará na memória de toda a guarnição,
momento marcante, não só pela recordação que cria em cada ele- pelas condições meteorológicas em que se realizou, sem o auxílio
mento da guarnição, como também pelo sen mento de se estar a de rebocadores.
Mindelo
Atlântico Sul
Rio de Janeiro
● PORTOS DA DIÁSPORA Cidade do Cabo
Montevideo
● CIDADES MAGALHÂNICAS
14 JUNHO 2020