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REVISTA DA ARMADA | 552
AS ARMADAS RIVAIS NA GUERRA
DA SUCESSÃO PORTUGUESA (1828-1832)
A IMPORTÂNCIA DO PODER NAVAL NO DESFECHO DA CONTENDA
1ª Parte
D. Pedro IV, D. Pedro I do Brasil D. Miguel I
PREFÁCIO ao abastecimento dos exércitos estacionados e mesmo no com-
bate naval direto com a frota inimiga. A Armada foi decisiva na
Guerra da Sucessão do rei português D. João VI, também tomada da cidade de Lisboa a 24 de Julho de 1833 e na consoli-
A conhecida pela guerra miguelista, guerra civil portuguesa, dação dessa posição estratégica.
ou guerra dos dois irmãos, que devastou o país de 1828 a 1832, No decurso do arƟ go idenƟ fi car-se-ão as diferentes uƟ lizações
pôs frente a frente liberais e absoluƟ stas. Embora assumindo da Marinha pelos dois lados e a sua importância no desfecho
um caráter de guerra civil, este confronto teve também um fi nal. Mostrar-se-á também que a uƟ lização da estratégia indi-
cunho internacional, uma vez que os dois candidatos ao trono reta seguida pelos liberais se mostrou superior à estratégia direta
recolhiam fortes apoios estrangeiros: D. Pedro era apoiado pela seguida pelos comandantes militares de D. Miguel.
maior potência maríƟ ma da altura, o Reino Unido, e D. Miguel A Guerra da Sucessão pode ainda hoje ser fonte de ensinamen-
apoiado pela Espanha de D. Fernando VII e pela Áustria. tos para a defesa de Portugal, na idenƟ fi cação das vulnerabilida-
Antes de morrer envenenado, em 1826, numa lenta agonia que des, na determinação da importância de pontos de recuo como
durou alguns dias, o Rei D. João VI nomeou como regente a sua a Madeira ou os Açores e na formulação da estratégia a seguir.
fi lha D. Isabel Maria de Bragança que, com esse ơ tulo, governou
durante dois anos, tendo depois abdicado a favor da sua sobri- ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
nha D. Maria da Glória, a futura Rainha D. Maria II. No entanto,
D. Miguel antecipou-se e fez-se coroar Rei de Portugal iniciando D. Isabel Maria de Bragança (1801-1876), então com 25 anos,
assim um confl ito prolongado com os parƟ dários de D. Pedro e exerceu o poder apoiada no Conselho de Regência que era cons-
de D. Maria da Glória. Ɵ tuído por altos dignitários do clero e da nobreza .
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Esta foi uma guerra prolongada em que a Marinha teve um PersisƟ a como pano de fundo a profunda divisão políƟ ca entre
peso decisivo no desfecho da contenda, desempenhando diver- absoluƟ stas e liberais, que já originara vários levantamentos
sos e importantes papéis ao longo do confl ito, desde o trans- militares e confrontações violentas, tendo o príncipe D. Miguel
porte de forças militares, à proteção do desembarque de tropas, sido expulso do país, por seu pai, em 1824, exatamente por estar
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