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REVISTA DA ARMADA | 560
ERASMUS MILITAR
CONCLUSÃO
A Escola Naval (EN) intensifi cou, na úlƟ ma década, o programa de mobilidade no ensino com congéneres estrangeiras. Foi esta a forma
escolhida para operacionalizar a internacionalização, um dos pilares estratégicos das insƟ tuições de ensino superior, contribuindo
para incrementar a qualidade do ensino e da inovação, bem como a visibilidade entre os seus pares.
Após a assinatura dum protocolo entre a EN portuguesa e a École Navale (Escola Naval francesa), sediada em Brest, decorrem desde
2011 e com caráter regular (com fi nanciamento do programa ERASMUS), aƟ vidades envolvendo estudantes, docentes e invesƟ gadores.
Este exemplo de mobilidade enquadra-se, igualmente (ver RA n.ºs 542 e 544), no programa de ERASMUS Militar, cujo objeƟ vo prin-
cipal é tornar mais abrangente a colaboração entre Academias Militares – quer na implementação de semestres comuns, quer na
implementação de uma universidade europeia militar – contribuindo assim para um ensino militar europeu, assente em referenciais
comuns, e promotor de invesƟ gação, de inovação e de exploração de novas tecnologias.
A ÉCOLE NAVALE
École Navale foi fundada em 1827 por ordem do rei Luís
A Filipe; funcionando inicialmente em navios (regra geral
denominados de Borda, em honra do cienƟ sta francês do século
XVIII, Charles de Borda), está, porém, sediada em terra fi rme, em
Brest, desde 1914. Foi destruída durante a Segunda Guerra Mun-
dial, sendo as suas atuais instalações, na Base Naval de Lanvéoc-
-Poulmic, também na região de Brest, inauguradas em 1969 pelo
Presidente Charles de Gaulle.
Pertencente à rede das Grandes Écoles, que integram as princi-
pais escolas de ensino universitário em França (designadamente
a École Polytechnique, Hautes Études Commerciales ou a École
NaƟ onale Supérieure d’Arts et MéƟ ers – Arts et MéƟ ers Paris-
Tech), a missão da École Navale é formar ofi ciais da Marinha
Francesa para comandar e administrar unidades operacionais, Cadete Romain Galas, da École Navale, estudante de mobilidade ERASMUS
nomeadamente navios, submarinos, forças e unidades aerona- durante um semestre.
vais, e como Comandos Marine (as forças especiais da Marinha
Francesa), bem como para o exercício de outras responsabilida- com base em critérios académicos, disciplinares e de apƟ dão
des no mar e em terra. militar-naval; numa primeira fase são selecionados os seis can-
A École Naval tem, agregado, um centro de invesƟ gação – o didatos com melhor desempenho no princípio do 3º semestre.
InsƟ tut de Recherche de l’École Navale (IRENAV) – com grande Esses seis cadetes voluntários frequentam então, extra-curri-
relevância cienơ fi ca na invesƟ gação, desenvolvimento e inova- cula e com caráter obrigatório, aulas de francês em termos gene-
ção, tanto em termos nacionais como internacionais. ralistas e com caráter específi co de vocabulário naval. No fi m do
período de avaliação conơ nua realizada no 3º semestre, selecio-
MOBILIDADE DE ESTUDANTES nam-se dois cadetes de acordo com os mesmos critérios.
Já durante o período de exames semestrais, e por forma a
Os intercâmbios entre a EN e a École Navale já se realizam desde robustecer as suas bases académicas, é proporcionada aos dois
2011, envolvendo cada ano, por regra, dois cadetes portugueses cadetes que irão frequentar um semestre em França, uma prepa-
e dois cadetes franceses. Os cadetes portugueses frequentam na ração personalizada em EletromagneƟ smo, Análise MatemáƟ ca
École Navale o equivalente ao nosso 4º semestre (localmente o IV e Termodinâmica.
2º semestre), enquanto que os cadetes franceses frequentam na Os cadetes selecionados para o programa são colocados no 2º
EN o 5º semestre de um curso tradicional. semestre do primeiro ano da École Navale. Este 1º ano corres-
Há já um total de 18 cadetes portugueses e de 16 cadetes france- pondendo ao terceiro ano do nosso ensino universitário, devido
ses que parƟ ciparam neste programa. A duração destas mobilida- a uma diferente estruturação no modo de admissão de alunos
des varia entre quatro e seis meses; no caso dos cadetes portugue- nas duas escolas navais.
ses, a data do seu regresso coincide com o início dos embarques Esta diferença resulta do facto de, em França, a frequência de
para a respeƟ va viagem de instrução nos navios da Marinha. um curso superior de engenharia, economia ou letras avançadas
– nas chamadas Grandes Écoles – depender da pré-frequência de
PROCESSO DE SELEÇÃO classes preparatórias de elevado nível cienơ fi co, às quais se dá o
nome de préparatoires (ou “prépar” na gíria académica).
A cada cadete do segundo ano dos cursos tradicionais da EN, Esta “preparação” dura normalmente dois anos (em áreas mais
das classes de Marinha, de Fuzileiros, e de Engenheiros Navais exigentes, pode ter uma duração superior). Durante estes anos é
dos ramos de Mecânica e de Armas e Eletrónica, é oferecida a feita formação de base intensiva em áreas de especial incidência
oportunidade de se candidatar a uma das duas vagas disponibili- em matemáƟ ca, economia, biologia e geologia, İ sica e química
zadas. A escolha dos alunos que parƟ cipam no programa é feita ou letras, de acordo com o perfi l do aluno.
24 MARÇO 2021