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REVISTA DA ARMADA | 561
Aproveitando a ida do navio a Cabo Verde, foram transportados Ao longo da navegação no Arquipélago
até ao arquipélago inúmeros caixotes com material de apoio a de Cabo Verde, foi efetuado o lança-
insƟ tuições, público ou privadas, de Portugal e de Cabo Verde. mento e monitorização de fl utuadores
derivantes WAVY, no âmbito do projeto
PROJETOS CIENTÍFICOS MELOA. O InsƟ tuto Hidrográfi co (IH) é
parceiro no projeto MELOA – fi nanciado
O NRP Almirante Gago CouƟ nho é um navio hidro-oceanográ- pelo programa da União Europeia Hori-
fi co, dispondo de signifi caƟ va polivalência em sistemas cienơ fi - zonte 2020, que teve início em dezem-
cos, destacando-se os sistemas sondadores mulƟ feixe de grande bro de 2017 e irá decorrer até fevereiro
resolução e o perfi lador acúsƟ co de corrente. Como meios orgâ- de 2021, visando desenvolver produtos
nicos, dispõe de uma lancha hidrográfi ca, também ela capacitada inovadores como é o caso dos fl utuado-
com um sistema sondador mulƟ feixe de grande resolução, e de res derivantes WAVY. Através destes fl u-
um bote com sistema de feixe simples; estes meios projetáveis tuadores, pretende-se garanƟ r o estabe-
possibilitam a capacidade de sondagem até praƟ camente ao lecimento de sistemas versáteis, de fácil
areal. lançamento, baixo nível de manutenção
Após largar da Base Naval de Lisboa (BNL) a 31 de dezembro e e baixo custo, para observação in situ
durante a navegação até ao Arquipélago de Cabo Verde, foram: (no local) nos ambientes marinhos, per- Entrega de material militar desƟ nado a in
efetuados LH de oportunidade pelo navio; lançadas boias deri- miƟ ndo ocupar lacunas nas observações
vantes no âmbito da cooperação com o GDP da NOAA; e reali- marinhas e incrementar a disponibilidade de dados deste Ɵ po nas
zadas colheitas de amostras de água superfi cial para análise de áreas costeiras e oceânicas.
microplásƟ cos.
O programa GDP pertence ao Sistema Global de Observação do LEVANTAMENTOS HIDROGRÁFICOS
Oceano (Global Ocean Observing System – GOOS), que contem-
pla já 1250 boias derivantes. Os dados das boias são adquiridos O navio aproveitou a oportunidade de passagem nas águas do
por satélite, processados e inseridos no Sistema de Telecomu- Arquipélago da Madeira, para a realização de LH em áreas de inte-
nicações Global (Global TelecomunicaƟ ons System – GTS), para resse da ilha de Porto Santo. A navegação e os trabalhos hidrográ-
distribuição e uso mundial. Os dados são usados para a monito- fi cos efetuados permiƟ ram cumprir o isolamento profi láƟ co para
rização e modelação dos oceanos e do clima, desenvolvimento toda a guarnição, antes de se iniciar o trânsito para Cabo Verde.
cienơ fi co e navegação. Aquando da entrada em águas arquipelágicas cabo-verdianas,
Como referido anteriormente, deu-se conƟ nuação ao projeto o navio conƟ nuou a sondagem de oportunidade durante o trân-
UNTIeD, que pretende estudar o impacto do maremoto que, sito; nos dias 10 a 12 de janeiro incidiu os trabalhos de sondagem
originado pelo grande colapso do fl anco leste da ilha do Fogo, em áreas previamente defi nidas como prioritárias pelo IH, desig-
aƟ ngiu a ilha de SanƟ ago há cerca de 70 mil anos atrás. Com base nadamente nos montes submarinos existentes a nordeste da Ilha
nos depósitos (volumes) descobertos no fundo marinho, entre as de SanƟ ago.
ilhas do Fogo e de SanƟ ago, bem como nos depósitos deixados O navio chegou a Porto Grande, na ilha de S. Vicente, a 13 de
pela onda do maremoto em zonas costeiras de SanƟ ago, preten- janeiro; este porto havia sido praƟ cado anteriormente em outu-
de-se modelar numericamente a geração e propagação de um bro de 2016, também numa missão da IniciaƟ va Mar Aberto.
possível maremoto e inundação da ilha de SanƟ ago. Para essa Durante a permanência do navio em S. Vicente, a equipa da Bri-
modelação havia pois que efetuar o levantamento baƟ métrico gada Hidrográfi ca (BH) efetuou o LH portuário com recurso ao sis-
do fundo marinho entre as ilhas, especialmente das zonas menos tema sondador mulƟ feixe (SMF). Em relação à Carta NáuƟ ca da
profundas, e caraterizar bem as evidências (volumes) encontra- zona (Porto Grande – Mindelo), ainda em vigor, foram: aumentada
das. Este foi, sem dúvida, um trabalho importante realizado pelo em 20% a área sondada na zona referida; efetuado o adensamento
navio hidrográfi co português. de sondagem junto ao cais; sondados dois wrecks não idenƟ fi ca-
dos na Carta; e constatado o desman-
telamento de destroços anteriormente
idenƟ fi cados.
Após a largada de Porto Grande, foram
fi nalizados os LH a sul de S. Vicente,
numa área com cerca de 41 milhas náu-
Ɵ cas de extensão até ao Ilhéu Raso; a 21
de janeiro rumou-se à ilha de SanƟ ago,
para dar conƟ nuidade à sondagem.
Nessas três semanas de navegação,
a guarnição contou com mais um ele-
mento a bordo, um Ofi cial Hidrógrafo
da GCCV, o que permiƟ u dar formação
e treino na área de Hidrografi a. O ofi -
cial cabo-verdiano acompanhou e inte-
grou todas as tarefas realizadas pela
equipa de hidrografi a do navio; teve
assim oportunidade de operar os equi-
pamentos para a aquisição e processa-
Modelo BaƟ métrico em 3D da área sondada em redor da ilha de SanƟ ago e do Monte Submarino a nordeste mento de dados mulƟ feixe do navio, de
da ilha (vista de sul)
parƟ cipar no levantamento portuário
10 ABRIL 2021