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REVISTA DA ARMADA | 562
O artisticamente decorativo (mas geograficamente grosseiro) mapa-mundo “neo-ptolomaico” do “Atlas Miller”, pintado por António de Holanda, tentando mostrar a
impossibilidade da passagem para o Oriente através do Ocidente (BnF, Paris)
O ATLAS FEITO PARA TENTAR
CONTRARIAR A VIAGEM DE FERNÃO
DE MAGALHÃES
1ª PARTE 1
“OS QUARENTA ANOS QUE MUDARAM O MUNDO” Paulo e Vasco da Gama em 1497-1499 (Oceano Índico e verdadeira
Índia, triunfando da corrida que então estava em curso, e que os
as quatro décadas que o autor destas linhas chamou “os qua- Portugueses ganharam); do florentino Américo Vespúcio em 1499-
N renta anos que mudaram o mundo”, desde c.1480 até 1522, 1501 (terras do Novo Mundo que esse mercador reconheceu na
deu-se a maior revolução geográfica da História da Humanidade. companhia de Portugueses e Castelhanos, e por isso vieram a ser
Foram o tempo do Rei D. João II (o “Príncipe Perfeito” de Portugal) baptizadas por Martin Waldsemüller em 1507 com o seu nome); e,
e o seu “Venturoso” sucessor D. Manuel I, e foram o tempo dos depois disso, nas primeiras duas décadas quinhentistas, Portugue-
Reis D. Fernando e D. Isabel (os “Reis Católicos” de Aragão e Cas- ses no Oriente, e Castelhanos no Ocidente.
tela) depois continuados pelo Imperador D. Carlos V, seu herdeiro. Assim ficou feito — no tempo de uma só geração…! — o essencial
Nessa época, durante os quarenta anos que mediaram entre as dos grandes descobrimentos geográficos mútuos, e dos grandes
viagens portuguesas de 1480-1485 do luso-galego Diogo Caao (a encontros intercontinentais de civilizações.
África, até Angola, a partir da base intermédia do castelo portu-
guês da Mina construído por Diogo de Azambuja em 1481-1482) e CARTOGRAFIA
a viagem castelhana de 1519-1522 do português Fernão de Maga-
lhães completada pelo basco Juan Sebastián Elcano (Pacífico e cir- A Cartografia — a “Ciência dos Príncipes” — veio a reflectir essa
cum-navegação da Terra), realizaram-se as mais importantes expe- extraordinária explosão dos conhecimentos geográficos e antro-
dições: do português Bartolomeu Dias, etc., em 1487-1488 (cabo pológicos, às vezes exoticamente ilustrada com luxuosas e exube-
que então chamou da Boa Esperança); do genovês saído de Portu- rantes iluminuras artísticas. E o mais brilhante resultado dessa re-
gal para Castela, Cristóvão Colombo, em 1492-1493 (terras desco- novação da “Ymago Mundi”, em que se deram as mãos a Ciência
nhecidas a Ocidente que então erroneamente identificou com as e a Arte, ficou patente no atlas português que hoje se conserva
Índias, e depois viriam a ser chamadas América); dos portugueses na Bibliothèque nationale de France, em Paris, e que é conhecido
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