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REVISTA DA ARMADA | 562
GUERRA NO PACÍFICO
MIDWAY – A ESTRATÉGIA JAPONESA
DR
TAPAR A “BRECHA”
O segundo fator era a chamada “doença da vi-
tória”. Os senhores da guerra japoneses, devido
às vitórias fáceis que tinham conseguido, estavam
convencidos de que a sua Marinha e o seu Exérci-
to eram invencíveis. Mesmo depois do desaire na
batalha de Mar de Coral, em que não consegui-
ram atingir os objetivos que se propunham, esta-
vam, ainda assim, convictos da sua invencibilida-
ISCO PARA PORTA-AVIÕES de, pelo que, com esta ilusão, voltaram-se decididamente para
a conquista de Midway.
De facto, no final da batalha do Mar de Coral, o plano de ope-
a Primavera de 1942, as conquistas e os sucessos da Marinha rações do ataque a Midway estava praticamente finalizado e o
NImperial Japonesa (MIJ) tinham sido alcançados de forma re- início da operação estava em marcha. O raide aéreo sobre Tóquio
lativamente fácil. O debate que se seguiu, ao mais alto nível na e outras cidades japonesas, efetuado a 18 de abril, foi o terceiro
liderança japonesa, visava decidir entre duas opções principais: fator que deu ao duplo objetivo de ocupação de Midway e à des-
– Isolar a Austrália, tomando de assalto várias ilhas no Pacífico truição da esquadra americana, um caráter de urgência. Tendo
Sul; ou concluído rapidamente que os aviões tinham sido lançados a par-
– Fazer o que Yamamoto desejava, terminar o que tinha sido tir de um ou mais porta-aviões que se aproximaram através da-
iniciado em Pearl Harbor, ou seja, destruir o que restava da es- quilo a que Yamamoto chamou de “brecha de Midway”, o Estado
quadra americana do Pacífico. Maior da MIJ ficou mais convencido da necessidade de controlar
A decisão final resultou num compromisso: o atol.
– Uma ação limitada contra a periferia da Austrália, que aconte- Cerca de três semanas depois do ataque de Doolittle, Yamamo-
ceria no início de maio com a tomada de Port Moresby, na Nova to promulgou o plano de operações de ataque e invasão de Mi-
Guiné; e dway, plano extremamente complexo devido ao enorme número
– Em junho, uma operação ofensiva de grande envergadura de forças e à sua dispersão pelo Pacífico. De facto, esta operação
para ocupar Midway e, ao mesmo tempo, atrair os porta-aviões incluía uma força de ataque e invasão das ilhas Aleutas, uma for-
americanos para uma emboscada, para os destruir na batalha de- ça de porta-aviões de bombardeamento a Midway e ataque aos
cisiva que Yamamoto há muito procurava concretizar. porta-aviões americanos, uma força de couraçados de apoio e de
O plano inicial japonês era expandir o seu domínio no Pacífico ataque final à esquadra americana e uma força de desembarque
até à ilha de Wake. Contudo, vários fatores vieram a conjugar-se de cinco mil homens.
para que a operação Midway passasse a ser da maior importân- Quando se fez ao mar, esta era a maior força naval alguma vez
cia para a estratégia japonesa. O primeiro desses fatores era a constituída. Tinha mais de duzentos navios incluindo onze coura-
çados, oito porta-aviões, vinte e dois cruzadores, sessenta e cinco
destruição dos porta-aviões americanos no Pacífico antes que a contratorpedeiros, vinte e um submarinos e cerca de setecentos
indústria de guerra americana conseguisse entrar em pleno fun- aviões embarcados e baseados em terra e vários navios auxiliares
cionamento. Este objetivo não tinha sido alcançado no dia 7 de de apoio. A superfície total dos conveses de todos os navios da
dezembro, devido à ausência dos porta-aviões americanos em esquadra japonesa era superior aos 1.000 hectares da superfície
Pearl Harbor, pelo que era necessário um isco para atrair a esqua- total do atol de Midway.
dra americana para uma batalha decisiva. Esse isco era precisa-
mente o ataque a Midway, pois Yamamoto sabia que os america-
nos não podiam dar-se ao luxo de perder uma posição estratégica Piedade Vaz
tão importante. CFR REF
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