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REVISTA DA ARMADA | 563
jo, em 1644; na defesa de Elvas, em 1645; no ataque a Badajoz no FUZILEIROS
ano seguinte, cabendo-lhe a montagem das escadas de assalto;
de novo na defesa de Elvas, em 1659, num momento decisivo em A Marinha preparava-se para um conflito que entendia como
que a claudicação da cidade abriria as portas ao inimigo até Lisboa; previsível e que, efectivamente, veio a acontecer a partir de 1961.
esteve presente no Ameixial e na retomada de Évora, em 1663; e, Uma preparação progressiva, onde teve cabimento a reactivação
finalmente, na decisiva e derradeira Batalha de Montes Claros. A dos fuzileiros, que surgem agora com novas capacidades ditadas
campanha militar da Restauração, que garantiu a independência de pelas condições da guerra subversiva. Agora preparados para um
Portugal e a afirmação da nova dinastia bragantina, foi mais uma novo tipo de guerra, com capacidades de combate nas regiões
das missões em que o Terço foi sempre envolvido com um prota- tropicais, em zonas onde os rios eram um importante meio de
gonismo notável. E alternou sempre as operações em terra, com o comunicação e a selva o seu teatro de operações. Nasciam assim
embarque anual na esquadra – porque era do mar que vinham os os novos fuzileiros, organizados em destacamentos de fuzileiros
meios financeiros indispensáveis à continuação da guerra –, com especiais, ou companhias de fuzileiros navais, cuja capacidade e
duas campanhas no Brasil e a participação numa expedição luso sucesso me dispenso de desenvolver agora. São conhecidas as
francesa contra uma fortaleza espanhola na ilha de Elba (1646). suas glórias, obtidas nos teatros de Angola, Guiné e Moçambi-
A paz foi assinada em 1667, quando reinava já D. Afonso VI, que, desde 1961 até ao fim do conflito em 1974. E são esses mes-
apesar das controvérsias de que foi acompanhada a sua subida mos fuzileiros que, agora, se ajustam ao novo contexto militar
ao trono. Nesse ano deu-se o golpe palaciano que lhe retirou o nacional, reorganizando-se em 1976 e preparando-se para ser a
poder, substituindo-o com regência do príncipe D. Pedro, mais componente anfíbia da Marinha Portuguesa. Preparando-se para
tarde rei D. Pedro II. O Terço não estava em Lisboa quando isso ser o elemento de projecção do poder naval, do mar para a terra,
aconteceu, mas foi chamado de imediato e, em 5 de Abril de determinante em qualquer marinha do mundo.
1668, foi encarregue, por alvará, da guarda pessoal do Príncipe.
Esta circunstância fez com que passasse a ser chamado, de forma
comum, por Regimento do Príncipe, alternada com a de Terço da
Armada. Ia caindo em desuso a expressão (e a organização) “ter-
ço”, que fora herdada das infantarias espanholas, e, em 1707, D.
João V vai consagrar o termo Regimento da Armada.
DE REGIMENTO DA ARMADA A CORPO DE MARI-
NHEIROS, PASSANDO PELA BRIGADA REAL DE
MARINHA
Vai longa esta história do Terço da Armada da Coroa de Portugal,
a infantaria da Marinha criada por Filipe IV, que completava quase
um século de existência, quando foi reestruturada por D. João V. Vi-
viam-se um tempo em que a soberania e prosperidade de Portugal
eram vistas como dependendo do seu poder naval, para garantir a
segurança do comércio ultramarino. Por isso, o primeiro regimento
da armada viria a ser aumentado para três regimentos – dois de
infantaria e um de artilharia – e, em 1797, foi criada a estrutura
que os juntava na Brigada Real de Marinha. Foi seu primeiro “ins-
pector” (comandante) o Almirante Marquês de Niza, que partiu
para o Mediterrâneo poucos meses depois da sua nomeação, co-
mandando uma esquadra que foi apoiar Nelson, em Nápoles e no
cerco de Malta.
Não é possível fazer aqui a história da Brigada, nem das unidades
que lhe sucederam no século XIX, como foi o Batalhão Naval e o
Corpo de Marinheiros Militares, em 1851. Especialmente esta últi-
ma unidade, que teve uma vida longa, interrompida pontualmente
por pequenos hiatos, tem uma história complexa que espelha a
evolução da Marinha Portuguesa, do tipo de navios que foram sur-
gindo e das suas exigências, bem como da evolução do combate Colaboração do CFR Semedo de Matos
naval até ao século XX. Foi do Corpo de Marinheiros que saíram
as forças de infantaria que estiveram em África nas campanhas de N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
ocupação territorial, tal como foi ali também que se organizaram
os batalhões expedicionários que combateram em Angola e Mo-
çambique, no contexto da Grande Guerra (1914-18). Contudo, nem Notas
sempre estiveram constituídas unidades de infantaria, embora elas 1 Excerto da pintura a óleo do Terreiro do Paço (1662), do holandês, Dirk Stoop.
tenham sido recuperadas inúmeras vezes, para missões diversas. Quadro da coleção do Museu de Lisboa – núcleo Palácio Pimenta - constituindo um
importante testemunho da sociedade da época. Realce para a guarda-real – o Terço
Nos últimos tempos da sua existência, o Corpo tinha funções di- da Armada da Coroa de Portugal - a prestar honras à chegada do Embaixador Extra-
versas, de gestão de pessoal, de instrução e de aprontamento, que ordinário de Portugal em Londres, após a assinatura do Tratado de Whitehall (1661).
O autor utilizará sempre as designações de Filipe III e Filipe IV (II e III de Portugal),
vieram a ser assumidas pela nova estrutura da Marinha, começada 2 por serem as mais conhecidas internacionalmente.
na segunda metade dos anos cinquenta do século XX.
JUNHO 2021 17