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A 23 de fevereiro de 1904, Vítor Hugo de Azevedo Coutinho é de destaque do Partido Democrático, sendo nessas circunstâncias
nomeado lente da cadeira de Hidrografia na Escola Naval. Seria o que é eleito deputado por Moçambique (1911-1915) e por Lisboa
início de uma longa carreira devotada ao ensino e ao estudo da Hi- (1915-1917) e senador por Viana do Castelo (1922).
drografia, da Matemática e da Geodesia, que lhe granjeará prestí-
gio junto das instituições académicas e científicas da época. Resul- CARGO NA PERÍODO DO MANDATO
tante dessas funções docentes na Escola Naval, publica, em 1906, CÂMARA DE DEPUTADOS
os “Apontamentos para o Curso Elementar de Hidrografia”, manual Deputado por Moçambique 1911 – 1915
que veio a ter grande sucesso entre os estudantes da disciplina. Presidente da Câmara 02DEZ13 – 12DEZ14
No ano seguinte edita, com o Comandante Fontoura da Costa,
as “Tábuas Náuticas” (1907), um manual de Cálculos Náuticos Deputado por Lisboa 1915 – 1917
que passará a ser presença obrigatória a bordo dos navios da Ma- Presidente da Câmara 24JUN15 – 27NOV15
rinha Portuguesa. Presidente da Câmara 02DEZ17 – 09DEZ17
Vítor de Azevedo Coutinho exerceu também funções docentes
no Liceu Passos Manuel (1906-1910) . Nesses quatro anos, a par
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da sua intensa atividade como professor, efetua comissões de
embarque em dois navios: no rebocador Bérrio (1906-1909), e no
vapor Lidador (1909-1910).
VIDA POLÍTICA
Com a implantação da República é nomeado, em 1910, ajudan-
te de campo e depois secretário particular, a 22 de outubro e a
23 dezembro, respetivamente, do Ministro da Marinha, Coman-
dante Azevedo Gomes. Nestes cargos, Azevedo Coutinho foi um
dos principais impulsionadores da Missão Hidrográfica da Costa
de Portugal, organismo passa a efetuar, até 1936, levantamentos
hidrográficos, a recolha de dados e estudos da costa portuguesa.
A 3 de setembro de 1911 retoma as suas funções de professor da
Escola Naval.
A sua carreira de oficial da Marinha vai cruzar-se com uma in-
tensa vida política – será uma das figuras marcantes da sociedade
portuguesa durante Primeira República. É nessas circunstâncias
que, a 2 de dezembro de 1913, é eleito Presidente da Câmara dos
Deputados. Voltará a assumir esse cargo em 1915 (24 de junho a
27 de novembro) e no ano de 1917 (2-7 de dezembro).
Carlos Manuel Baptista Valentim
CTEN TSN-HIS
Notas
1 A biografia de Vítor Hugo de Azevedo Coutinho tem sido objeto de algumas
sínteses, nomeadamente em revistas, obras coletivas e entradas de dicionários.
PRIOR, Gabriel, “Capitão-de-Mar-e-Guerra Vítor Hugo de Azevedo Coutinho”, Re-
vista Militar, Número 8-9, agosto-setembro, 1955, pp. 525-532. Oliveira e Lemos,
“Víctor Hugo de Azevedo Coutinho, no centenário do seu nascimento”, Anais do
Clube Militar Naval, outubro a dezembro de 1971, pp. 737-742. Mais recentemen-
te Fernando Mendonça Fava, “Victor Hugo de Azevedo Coutinho. Um republicano
Promovido a CTEN a 13 de julho de 1914, assume no final desse nascido em Macau”, Review of Culture, número 41, 2013, pp. 111-123.
ano as funções de Presidente do Ministério, em acumulação com 2 Dominado pela figura de Afonso Costa, o chefe republicano do Partido Democrá-
as de Ministro da Marinha. Fica assim associado a um Governo do tico, de quem Vítor Hugo Azevedo Coutinho era amigo próximo.
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Vamos seguir os dados do seu processo individual. Biblioteca Central da
Partido Democrático, ao qual presidiu efemeramente, entre 12 Marinha-Arquivo Histórico, Processo Individual de Vítor de Azevedo Coutinho, Cai-
de dezembro de 1914 e 25 de janeiro de 1915, num período mui- xas 735-1410.
to conturbado politicamente, dominado pelo posicionamento de 4 Ver António José Telo, História da Marinha Portuguesa. I. Homens, Doutrinas e
Portugal na Grande Guerra. Organização 1824-1974, Lisboa, Academia de Marinha, p. 198.
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Apoiante indefetível de Afonso Costa – uma das personalidades 5 Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico, Livro Mestre D fl. 52.
Em 1913 passa a ensinar no Instituto Feminino de Educação e Trabalho, que mais
mais marcantes, na chefia política partidária da Primeira República tarde adquire a designação de Instituto de Odivelas.
– Vítor de Azevedo Coutinho surge também como uma das figuras
28 SETEMBRO / OUTUBRO 2021