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REVISTA DA ARMADA | 566


                                       PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE MARÍTIMA

























             O Golfo da Guiné é atualmente a zona do globo com maior   seguranças do estado ribeirinho do GdG à entrada das águas ter-
            incidência de criminalidade marítima. Algumas companhias   ritoriais ou, em alternativa, poderá ser solicitada uma escolta à
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            proprietárias de navios promoveram a implementação a bor-  NIMASA  ou à Marinha/Guarda Costeira desse estado ribeirinho.
            do de três patamares de defesas próprias acima elencados.   Os raptos para resgate são, atualmente, a atividade menos
            E alguns estados ribeirinhos implementaram medidas adicio-  perigosa para os criminosos (o tempo de permanência a bordo
            nais de vigilância e dissuasão aérea (drones incluídos), ma-  é reduzido, i.e., aquando da chegada de auxílio já os crimino-
            rítima (naval incluída) e terrestre (rede de radares incluída).   sos se ausentaram há muito) e mais lucrativa . As companhias
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             Porém nem todos os países de bandeira permitem seguran-  proprietárias dos navios alvo de ataques preferem pagar rapi-
            ça privada armada a bordo (PCASP)  e os países ribeirinhos   damente os resgates , já que, regra geral, os criminosos levam
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            não aceitam ajuda internacional nas suas águas territoriais.   os reféns para locais pantanosos e insalubres nas margens dos
            Por exemplo, no caso da Somália, não havia uma Marinha/  sinuosos braços de mar do delta do rio Niger, onde podem
                                                                                         9
            Guarda Costeira, e o governo central tinha uma capacidade e   adoecer por malária e febre tifóide . Podem também ser alvo
            esfera de ação reduzidas, pelo que foi autorizado todo o tipo   de ataques por parte de bandos rivais que, não dispondo de
            de ações por parte da Comunidade Internacional contra os pi-  meios para ações no mar, não enjeitam enriquecer ilicitamen-
            ratas (incluindo a sua detenção e encaminhamento para ter-  te através de meras ações em terra.
            ceiros países para aí serem julgados). Na Nigéria, pelo contrá-  Em 2021 já estiveram na zona, em patrulha, navios de guerra
            rio, só as suas forças de segurança podem andar armadas nas   da Dinamarca, da Itália, da Espanha, do Brasil, de Portugal e
            águas territoriais; logo, todos os navios que necessitem de   dos Estados Unidos. No caso português, foi empenhado o NRP
            fundear, a aguardar vez num dos portos congestionado da re-  Setúbal entre 1 de março e 30 de maio, estando o NRP Zaire
            gião, estão vulneráveis, por não poderem ter PCASP a bordo.   permanentemente estacionado em São Tomé e Príncipe, ten-
             E caso as companhias proprietárias optem por ter PCASP a   do também por missão contribuir para a segurança marítima
            bordo, esse pessoal deverá desembarcar e ser substituído por   do Golfo da Guiné.



                                                                                                Paulo Cavaleiro Ângelo
                                                                                                            CMG
                                                                Coordenador do Comando Naval para a Missão de Fiscalização Conjunta e
                                                                       Capacitação Operacional Marítima da Guarda Costeira de STP


                                                                Notas
                                                                1   O International Maritime Bureau recomenda atualmente aos navios que se mante-
                                                                nham a mais de 250 milhas da costa da África Ocidental até lhes ser designado um
                                                                fundeadouro seguro e ou um lugar de atracação num porto ou terminal offshore.
                                                                2   Seguimento de contatos radar e avistamentos, alertando em tempo para aproxi-
                                                                mações intencionais.
                                                                3   Acrónimo anglo-saxónico para Privately Contracted Armed Security Personnel.
                                                                4   Lançadas à água para “enredar” as hélices das embarcações atacantes. A sua
                                                                ação poderá ser complementada com jatos de grande caudal de água, para tentar
                                                                afundar a embarcação atacante na aproximação ao costado do navio
                                                                5   Regra geral não são permitidas armas de fogo a bordo de navios de pesca / mer-
                                                                cantes / lazer / marítimo-turísticos.
                                                                6   Acrónimo de Nigerian Maritime Administration and Safety Agency.
                                                                7   O exército nigeriano libertou, em fevereiro deste ano, 14 tripulantes de um navio
                                                                pesqueiro, que estiveram captivos durante um mês, após o pagamento de 300 mil
                                                                dólares norte-americanos.
                                                                8   Estima-se ter totalizado cerca de 4 milhões de dólares em 2020.
                                                                9   Um marinheiro do Azerbeijão morreu durante um rapto ocorrido em janeiro deste
           NRP Setúbal fundeado em S. Tomé este ano, com o NRP Zaire de "braço dado"  ano. No ano passado morreram, em cativeiro, dois reféns.



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