Page 24 - Revista da Armada
P. 24

REVISTA DA ARMADA | 566

                                                               No  que  se  refere  ao  processo  de  descarbonização  global,
                                                              a  previsível  redução  global  do  consumo  de  petróleo  afetará
                                                              significativamente  a  economia  de  vários  países  da  região,
                                                              altamente dependentes da  exportação  de hidrocarbonetos,
                                                              designadamente a Nigéria.
                                                               Esta combinação, contribuirá significativamente para o aumento
                                                              de fluxos migratórios e de atividades ilícitas em toda a região do
                                                              Golfo, onde se encontra STP. A sua localização estratégica em pleno
                                                              Golfo, neste quadro, coloca o país sob pressão e aumenta o risco
                                                              sobre os seus espaços marítimos, que já é evidente no presente.
                                                               A  permeabilidade  das  suas  fronteiras  marítimas  juntamente
                                                              com a sua incapacidade de vigilância adequada será cada vez mais
                                                              explorada por atores externos para praticar ataques à navegação
                                                              em geral e aos interesses nacionais santomenses.
                                                               A pressão crescente sobre os bancos piscícolas do Golfo em geral,
          de  negócio  bastante  lucrativo  no  Golfo,  que  requer  uma  rede   motivada  também  pela  crescente  escassez  alimentar  na  costa
          mais sofisticada para o alimentar. Isso inclui não só negociadores,   continental, poderá motivar uma maior delapidação dos recursos
          intermediários,  facilitadores  e  extorsionários,  que  fazem  parte   piscícolas santomenses, privando o país deste recurso precioso de
          da rede de pirataria, mas também outros atores que atuam com   subsistência das suas populações. Não será de negligenciar, num
          caráter  oficial  ou  profissional,  tais  como  analistas  de  seguros  e   cenário mais pessimista, a ameaça a estâncias turísticas junto a
          riscos, negociadores profissionais e empresas de segurança. Existe,   costa, normalmente associadas a turismo de qualidade.
          portanto, uma mistura de atores - os piratas e seus associados – em   É neste contexto regional que se encontra regionalizado o NRP
          que todos sustentam este modelo de negócio. Existe também um   Zaire, há já mais de 3 anos, em missão de fiscalização conjunta
          grande sigilo em torno da negociação, do pagamento e da verdadeira   e,  complementarmente,  de  capacitação  operacional  marítima
          identidade dos atores criminosos e legítimos.       da Guarda Costeira de STP, prestando um relevante serviço ao
           g. Ameaça à segurança energética.                  Estado santomense e, concomitantemente, contribuindo para a
           Os  ataques  de  piratas  no  GdG  sempre  sinalizaram  uma   segurança marítima no GdG.
          ameaça  à  segurança  energética,  já  que  tradicionalmente  eram
          direcionados  para as instalações de petróleo  offshore,  que
          conheceu o seu auge em 2008, tendo paralisado as exportações
          de petróleo da Nigéria por meses, com implicações nos preços   EXPANSÃO DA CRIMINALIDADE NO GdG
          globais do petróleo. Isso levou a uma série de medidas por parte
          do  governo  nigeriano,  incluindo  a  amnistia  que  levou  a  uma   Até 2012 a criminalidade no GdG estava concentrada na
          cessação  de  ataques  contra  ativos  offshore de petróleo  e gás.   orla marítima, ocorrendo os ataques a navios até 40 milhas
                                                                da linha de costa, muitas vezes aquando da entrada e ou saí-
          Contudo, o ataque em julho do ano passado ao navio petroleiro   da de portos, nas aproximações aos terminais offshore e nos
          Sendje Berge marca o ressurgimento de uma ameaça, duradoura,   fundeadouros. O afastamento das linhas de navegação levou
          à segurança energética.
                                                                a uma alteração do modus operandi  dos potenciais atacan-
                                                                                           1
                                                                tes. Entre as novas táticas a que recorreram para aumentar a
          AS AMEAÇAS PREMENTES PARA SÃO TOMÉ                    alcance das suas ações, destaca-se a logística – os navios-mãe
                                                                (em alternativa embarcações rápidas e com maior autonomia
           As ameaças prementes para STP não estão, de todo, dissociadas   ou com outras em apoio em termos de víveres e combustível)
          dos grandes desafios futuros que se perfilam para a região do   – e a navegação sem referências visuais (perícias de marinhei-
          GdG.  O  maior  desafio,  porventura  o  mais  preocupante,  entre   ro de alto-mar). A distância (em média) dos ataques à linha de
          outros, é a combinação do crescimento populacional na região   costa vem aumentando todos os anos – 30 milhas em 2012,
          com o processo de descarbonização mundial.            48 milhas em 2018, 62 milhas em 2019 e atingindo as 150
           Quanto  ao  crescimento  populacional,  estima-se  que  a  região   milhas em 2020.
          concentre 25% da população mundial em 2050. A Nigéria será o
          3.º país mais populoso do mundo em 2050.













                                                                  Gulf of Guinea
                                                                  High risk area
                                                                  Medium risk area
                                                                  Low risk area



                População mundial: evolução anual por Região (1951-2100)
                    Fonte: United Nations Population Division (2021)


          24  SETEMBRO / OUTUBRO 2021
   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28   29