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REVISTA DA ARMADA | 566
          A CRIMINALIDADE MARÍTIMA



          NO GOLFO DA GUINÉ



          TIPOLOGIA ATUAL, AMEAÇAS PREMENTES

          PARA SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

          CONCLUSÃO




          Tal como foi desenvolvido na Parte I (ver edição 565 da RA), o Golfo da Guiné (GdG) é, atualmente, uma das mais perigosas e
          instáveis regiões marítimas do mundo, devido aos crescentes fenómenos de criminalidade marítima, pirataria, pesca ilegal, tráfico
          estupefacientes, imigração ilegal, tráfico de pessoas, entre outras.


          TENDÊNCIAS E PADRÕES                                de  costa,  motivado  em  grande  parte  por  um  maior  progresso
                                                              no  esforço  de  contra  pirataria  das  autoridades  nigerianas  em
            mbora os incidentes ocorridos até 2021 tenham acompanhado   reduzir  os  ataques  nas  suas  águas.  A  resiliência  e  adaptação
         Eprogressivamente  as  ocorrências  dos  anos  anteriores,  e  se   dos piratas motivará a exploração de áreas menos patrulhadas
          enquadrem no perfil da pirataria da região, há novas tendências   e monitorizadas na consecução das suas atividades criminosas.
          que  merecem  ser  analisadas.  Algumas  dessas  dinâmicas  são   c. Raptos no mar para resgate
          a  consolidação  de  indicadores  em  evolução  nos  últimos  anos,   O  rapto  no  mar  para  resgate  constitui-se  como  a  atividade
          outras são adaptações às respostas de contra pirataria por parte   criminal  mais  lucrativa  e  assenta,  sobretudo,  no  rapto  de
          de atores Estatais, e algumas são mesmo novas manifestações.   cidadãos ocidentais e asiáticos (representam 2/3 dos raptados).
          No  total,  estas  tendências  aumentaram  significativamente  o   Esta  tendência  conheceu  um  impulso  significativo  em  2020,
          perfil de ameaça de insegurança no GdG.             demonstrando um novo método de operação para otimizar os seus
           Estas são as tendências e padrões para o GdG:      ganhos financeiros. Existem indicadores de que os sequestros em
             a. Raio de ação                                  maior número possam estar ligados ao conhecimento da existência
           O aumento significativo do raio de ação dos piratas, conduzindo   de um teto estabelecido pelas seguradoras para o valor do resgate
          ataques para além das 200 milhas de costa, significa uma notável   por tripulante. Assim, os piratas raptam o maior número possível
          adaptação destes às respostas de segurança por parte da indústria de   de tripulantes para gerar o máximo “cash” possível de resgate.
          navegação e aos agentes de segurança nacionais. Tem-se registado   d. Variedade de alvos
          um aumento de ataques no recurso a navios com capacidade de   Inicialmente  os  ataques  piratas  incidiam  mais  sobre  grandes
          navegação oceânica (alguns capturados), designados de mother-  navios, tais como petroleiros, cargueiros e navios de apoio offshore.
          ship ou navio-mãe, aumentando significativamente o seu raio de   Desde 2020 tem-se registado uma maior exposição de navios de
          ação, gerando um efeito de surpresa e reduzindo a capacidade de   pesca a ataques piratas. Esta tendência poderá ser explicada, entre
          intervenção das autoridades.                        outras razões: por um lado, por o novo paradigma dominante de
             b. Dispersão dos ataques                         rapto de tripulantes para resgate se ter agora tornado dominante
           Os números de incidentes em  alto mar  indiciam  claramente   e, como o alvo é a tripulação, e não o navio ou a carga, todos os
          uma alteração no padrão de ataques, com um maior afastamento   tipos de navios são suscetíveis a ataques; por outro lado, os navios
                                                                                  de pesca podem ser alvos mais fáceis
                                                                                  de atacar, por serem mais vulneráveis;
                                                                                  também é possível que o envolvimento
                                                                                  de  navios  de  pesca  em  atividades
                                                                                  ilícitas, nomeadamente a pesca ilegal,
                                                                                  não declarada e não regulamentada,
                                                                                  os esteja a tornar mais suscetíveis aos
                                                                                  ataques de pirataria.
                                                                                      e. Visibilidade reduzida
                                                                                    Os piratas são, atualmente,  muito
                                                                                  mais discretos nas suas operações,
                                                                                  tendo  aperfeiçoado  táticas  mais
                                                                                  eficientes  sem  deixar  muitos  rastos
                                                                                  ou  provas.  A  maioria  dos  ataques
                                                                                  desenvolve-se no  arco  noturno,
                                                                                  quando  é  mais  difícil  a  deteção
                                                                                  atempada por parte das tripulações e
                                                                                  consequente ação evasiva.
                                                                                      f. Modelo de negócio
                                                                                   A mudança de paradigma nos ataques
                                                                                  piratas, de furtos e roubo para raptos no
                                                                                  mar para resgate, tornou-se um modelo


                                                                                           SETEMBRO / OUTUBRO 2021  23
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