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REVISTA DA ARMADA | 568
ÚLTIMA PÁGINA DO DIÁRIO
DE NAVEGAÇÃO
NRP OLIVEIRA E CARMO
Este é o nosso navio. É um navio com alma, e com um valor histórico-cultural imenso.
Este ano comemoram-se os 60 anos do combate naval na Índia Portuguesa, em Diu, entre a lancha Vega e as forças militares da União
Indiana. A desproporção de meios bélicos envolvidos levou a um desfecho inexorável.
As palavras que Camões utilizou nos Lusíadas para definir aqueles que pelos seus feitos jamais serão esquecidos, aplicam-se aqui hoje
na integra:
“Aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”
60 ANOS Ainda hoje recordo com emoção as milhas navegadas a bordo,
as muitas horas passadas no mar, as operações e exercícios
ara a História Naval, o dia 18 de Dezembro de 1961 ficou navais e as missões de: salvaguarda da vida humana no mar;
Pmarcado com a morte em combate do 2TEN Oliveira e Carmo busca e salvamento marítimo; vigilância e fiscalização das
– Comandante do NRP Vega – e de mais dois marinheiros; dois águas de jurisdição nacional; controlo da navegação mercante
outros elementos da guarnição ficaram gravemente feridos. e poluição marítima; controlo da Zona Económica Exclusiva;
Os valores militares dos caídos e ou feridos no campo da honra missões de interesse público; apoio às Regiões Autónomas
são, para mim, um exemplo e uma referência de elevado sentido (incluindo uma comissão nos Açores).
patriótico. São esses os valores que têm norteado a minha vida
profissional e pessoal. A “ALMA” DOS NAVIOS
Na minha juventude, no Colégio Militar tive o privilégio de me
cruzar com o “35” Jorge e com o “69” Diogo Oliveira e Carmo, e A ligação de amizade à família Oliveira e Carmo e a minha
viver e sentir o enorme orgulho dos filhos para com o seu pai, carreira como Oficial da Marinha geraram em mim um enorme
sendo que o Jorge nunca chegara a conhecê-lo. sentido de respeito, orgulho e admiração pelo Patrono do navio e
Este contacto com a família do Comandante Oliveira e Carmo fizeram com que tenha ficado para sempre ligado a esta corveta.
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marcou a minha carreira como oficial de Marinha. No final da Sempre senti que os navios não morrem, e que a sua missão não
minha formação na Escola Naval, quando tive a oportunidade termina no dia do seu abate. Procurei, em diversos momentos
de escolher o navio em que iria estagiar, a opção foi fácil. A da minha carreira, honrar este sentimento, e foi com enorme
corveta Oliveira e Carmo seria o meu primeiro navio; em 1986 satisfação que assisti à hercúlea tarefa de dar continuidade à
fui nomeado Chefe do Serviço de Navegação e Informações em vida de alguns navios de guerra, preparando-os para servirem de
Combate. Naveguei neste navio até ser indigitado, em 1988, recifes naturais ao largo de Portimão, projecto levado a cabo pela
para a especialização em Artilharia Naval. Ocean Revival, na pessoa de um visionário, o Dr. Luís Sá Couto.
Integrado nas comemorações do 25.º aniversário do combate Porquê, então, não escrever mais uma página no “Diário de
ao largo de Diu, planeei e executei uma saída para o mar, a 18 Navegação” do navio? Por incrível que pareça, o navio, desde o
de Dezembro de 1987, a fim de lançar ao mar uma coroa de seu afundamento a 30 de Outubro de 2012, já “navegou” cerca
de 380 metros para leste, determinado em se manter vivo e
flores. Embarcaram, na altura, os familiares do Comandante marcar a diferença.
Oliveira e Carmo e os sobreviventes da lancha Vega. Nesse dia Ligeiramente adornado a bombordo, a sua figura imponente e a
foi descerrada, na asa da ponte a bombordo, uma placa alusiva. sua silhueta são ainda bem perceptíveis, sendo fácil identificar a
Que orgulho senti na altura e, que orgulho sinto hoje, por ter ponte de comando, a roda de leme, a zona do castelo, a casa das
servido Portugal e a Marinha a bordo do NRP Oliveira e Carmo. máquinas; e é possível “circular” no seu interior entre os diversos
compartimentos.
RECIFE DE NAVIOS
Em formatura ordenada , a sul de Portimão, por volta da
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batimétrica dos 32 metros, encontra-se uma força naval – quatro
navios de guerra – representativa da Marinha. O projeto – o maior
recife artificial da Europa - pretendeu promover o potencial da
economia do mar através do turismo subaquático na região.
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Os navios foram preparados para interferir ao mínimo com
o ambiente, cumprindo escrupulosamente as convenções
internacionais para o efeito, designadamente a Convenção
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OSPAR . Esta esquadra está agora transformada num santuário
fervilhante de vida marinha, com um centro expositivo
complementar em terra, no Museu de Portimão.
24 DEZEMBRO 2021