Page 24 - Revista da Armada
P. 24

REVISTA DA ARMADA | 568
                             ÚLTIMA PÁGINA DO DIÁRIO



                             DE NAVEGAÇÃO



                             NRP OLIVEIRA E CARMO



         Este é o nosso navio. É um navio com alma, e com um valor histórico-cultural imenso.
         Este ano comemoram-se os 60 anos do combate naval na Índia Portuguesa, em Diu, entre a lancha Vega e as forças militares da União
         Indiana. A desproporção de meios bélicos envolvidos levou a um desfecho inexorável.
         As palavras que Camões utilizou nos Lusíadas para definir aqueles que pelos seus feitos jamais serão esquecidos, aplicam-se aqui hoje
         na integra:
         “Aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”

          60 ANOS                                              Ainda hoje recordo com emoção as milhas navegadas a bordo,
                                                              as  muitas  horas  passadas  no  mar,  as  operações  e  exercícios
            ara a História Naval, o dia 18 de Dezembro de 1961 ficou   navais e as missões de: salvaguarda da vida humana no mar;
         Pmarcado com a morte em combate do 2TEN Oliveira e Carmo   busca  e  salvamento  marítimo;  vigilância  e  fiscalização  das
          – Comandante do NRP Vega – e de mais dois marinheiros; dois   águas de jurisdição nacional; controlo da navegação mercante
          outros elementos da guarnição ficaram gravemente feridos.  e  poluição  marítima;  controlo  da  Zona  Económica  Exclusiva;
           Os valores militares dos caídos e ou feridos no campo da honra   missões  de  interesse  público;  apoio  às  Regiões  Autónomas
          são, para mim, um exemplo e uma referência de elevado sentido   (incluindo uma comissão nos Açores).
          patriótico. São esses os valores que têm norteado a minha vida
          profissional e pessoal.                             A “ALMA” DOS NAVIOS
           Na minha juventude, no Colégio Militar tive o privilégio de me
          cruzar com o “35” Jorge e com o “69” Diogo Oliveira e Carmo, e   A  ligação  de  amizade  à  família  Oliveira  e  Carmo  e  a  minha
          viver e sentir o enorme orgulho dos filhos para com o seu pai,   carreira como Oficial da Marinha geraram em mim um enorme
          sendo que o Jorge nunca chegara a conhecê-lo.       sentido de respeito, orgulho e admiração pelo Patrono do navio e
           Este contacto com a família do Comandante  Oliveira e Carmo   fizeram com que tenha ficado para sempre ligado a esta corveta.
                                             1
          marcou a minha carreira como oficial de Marinha. No final da   Sempre senti que os navios não morrem, e que a sua missão não
          minha formação na Escola Naval, quando tive a oportunidade   termina no dia do seu abate. Procurei, em diversos momentos
          de  escolher  o  navio  em  que  iria  estagiar,  a  opção  foi  fácil.  A   da  minha  carreira,  honrar  este  sentimento,  e  foi  com  enorme
          corveta Oliveira e Carmo seria o meu primeiro navio; em 1986   satisfação  que  assisti  à  hercúlea  tarefa  de  dar  continuidade  à
          fui nomeado Chefe do Serviço de Navegação e Informações em   vida de alguns navios de guerra, preparando-os para servirem de
          Combate.  Naveguei  neste  navio  até  ser  indigitado,  em  1988,   recifes naturais ao largo de Portimão, projecto levado a cabo pela
          para a especialização em Artilharia Naval.          Ocean Revival, na pessoa de um visionário, o Dr. Luís Sá Couto.
           Integrado nas comemorações do 25.º aniversário do combate   Porquê,  então,  não  escrever  mais  uma  página  no  “Diário  de
          ao largo de Diu, planeei e executei uma saída para o mar, a 18   Navegação” do navio? Por incrível que pareça, o navio, desde o
          de Dezembro de 1987, a fim de lançar ao mar uma coroa de   seu afundamento a 30 de Outubro de 2012, já “navegou” cerca
                                                              de  380  metros  para  leste,  determinado  em  se  manter  vivo  e
          flores.  Embarcaram,  na  altura,  os  familiares  do  Comandante   marcar a diferença.
          Oliveira e Carmo e os sobreviventes da lancha Vega. Nesse dia   Ligeiramente adornado a bombordo, a sua figura imponente e a
          foi descerrada, na asa da ponte a bombordo, uma placa alusiva.  sua silhueta são ainda bem perceptíveis, sendo fácil identificar a
           Que orgulho senti na altura e, que orgulho sinto hoje, por ter   ponte de comando, a roda de leme, a zona do castelo, a casa das
          servido Portugal e a Marinha a bordo do NRP Oliveira e Carmo.  máquinas; e é possível “circular” no seu interior entre os diversos
                                                              compartimentos.


                                                              RECIFE DE NAVIOS

                                                               Em  formatura ordenada ,  a  sul  de  Portimão,  por  volta  da
                                                                                   2
                                                              batimétrica dos 32 metros, encontra-se uma força naval – quatro
                                                              navios de guerra – representativa da Marinha. O projeto – o maior
                                                              recife artificial da Europa - pretendeu promover o potencial da
                                                              economia do mar através do turismo subaquático na região.
                                                                                      3
                                                               Os  navios  foram  preparados   para  interferir  ao  mínimo  com
                                                              o  ambiente,  cumprindo  escrupulosamente  as  convenções
                                                              internacionais  para  o  efeito,  designadamente  a  Convenção
                                                                   4
                                                              OSPAR . Esta esquadra está agora transformada num santuário
                                                              fervilhante  de  vida  marinha,  com  um  centro  expositivo
                                                              complementar em terra, no Museu de Portimão.


          24  DEZEMBRO 2021
   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28   29