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REVISTA DA ARMADA | 568



                                                                         MINISTÉRIO DA MARINHA
                                                                           REPARTIÇÃO DO GABINETE
                                                                                     ----
                                                                            DECRETO-LEI N.º 44972


                                                                  O 2TEN Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, em
                                                                 18 de Dezembro de 1961, nas águas do Estado da Índia
                                                                 Portuguesa, revelando acrisolado amor pátrio, alta cons-
                                                                 ciência do dever e elevadas virtudes militares, sacrificou
                                                                 gloriosa e heróicamente a sua vida em defesa da Pátria.
                                                                  O Decreto-Lei n.º 28210, de 23 de Novembro de 1937,
           Mergulho/Homenagem.                                   apenas prevê que seja feita de grau em grau hierárquico a
                                                                 promoção por distinção dos oficiais da Armada; no entan-
                                                                 to, a extraordinária e exemplar acção do segundo-tenente
           Os navios afundados são museus vivos, pela história prévia que
          carregam e pela vida marinha  que passaram a albergar. Entre   Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo contra o inimi-
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          eles, a corveta Oliveira e Carmo continuará a “navegar” nesta sua   go externo, premiada com a comenda da Ordem Militar
          segunda vida como navio descomissionado.               da Torre e Espada e a medalha de ouro de valor militar
                                                                 com palma, situa-se entre os mais edificantes feitos de
                                                                 armas que a nossa história regista e justifica, por isso, que
          MERGULHO – HOMENAGEM                                   a Nação o reconheça de forma excepcional.
                                                                  Nestes termos:
           NRP Oliveira e Carmo – tão grande navio e tão distinto patrono.   Usando da faculdade conferida pela 1.ª parte do n.º 2.º
          Um navio, mesmo no fundo do mar, continua vivo e activo, se   do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu
          bem que com uma nova missão – a da preservação dos oceanos.
          O  testemunho  de  um  emotivo  e  muito  especial  mergulho-  promulgo, para valer como lei, o seguinte:
          homenagem  fica  assim  registado  nesta  página  do  “Diário  de   Artigo único. É promovido, por distinção, a título póstu-
          Navegação” de forma singela.                           mo, ao posto de capitão-tenente o segundo-tenente Jor-
           Portimão, dia 12 de novembro. Na sede da SUBNAUTA juntámos   ge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo.
          três  amigos  mergulhadores,  dois  fotógrafos  subaquáticos  e   Publique-se e cumpra-se como nele se contém.
          dois instrutores , todos com a mesma expectativa e vontade –   Paços do Governo da República, 11 de Abril de 1963.
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          homenagear  um Herói do Mar. Associou-se a nós alguém com
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          extrema devoção e empenho na literacia dos oceanos – a Sónia
          Ell, fundadora da “Quando + 1 é = - 1 ”.            que  são  o  nosso  denominador  comum.  E  homenageamos o
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           Esta  “guarnição”  fantástica  desceu  ao  fundo  do  mar  e   Comandante Oliveira e Carmo, patrono do navio.
          “embarcou”  na  Oliveira  e Carmo.  Levámos  bem  fundo,  ao   Eu e o Jorge Oliveira e Carmo voltámos, neste dia, a reunirmo-
          seu interior, a bandeira nacional  –  símbolo  máximo  do  nosso   nos a bordo, no interior da ponte, num ambiente diferente, mas
          patriotismo e homenagem. Levámos a bandeira da Marinha, que   igualmente  cheio  de  emoções,  sendo  que  a  última  vez  que  o
          alguns de nós servimos com o maior orgulho, e fizemos questão   tínhamos feito, em 1987, era eu Guarda-Marinha.
          de deixar a bordo, na ponte, uma placa comemorativa para que
          outros tenham curiosidade em saber o porquê.
            Ao escrever no Diário de Navegação o relato deste mergulho,                       Fernando Braz de Oliveira
          estamos  a  partilhar  o  conhecimento  histórico,  as  emoções,                                  CMG
          as histórias de mar, a paixão pelos oceanos e sua preservação,   N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.



                                                                Nota
                                                                1   Promovido a CTEN a título póstumo (ver Caixa).
                                                                2   Formation one na lexicologia NATO.
                                                                3   Com a ajuda da Canadian Artificial Reef Consultant (CARC), responsável por mais de
                                                                23 imersões deliberadas de navios em todo o mundo.
                                                                4   Para poderem ser considerados recifes artificiais, os navios. foram limpos de todos
                                                                os materiais nocivos ao ambiente ou perigos para os mergulhadores.
                                                                5   Estes navios são hoje o refúgio para espécies de peixes, moluscos em toda a escala
                                                                da teia trófica. São um autêntico berçário e uma maternidade, potenciando a cria-
                                                                ção de uma imensa biodiversidade.
                                                                6   São eles o Artur Cardoso, o Paulo Renato Caçoete Anjos, o Paulo Bicho, o João
                                                                Encarnação e o Hugo Fernandes.
                                                                7   Este mergulho-homenagem é também uma forma de agregar todos aqueles que se
                                                                sentem ligados ao navio e ao seu patrono, quer tenham sido elementos da sua guar-
                                                                nição, quer tenham sido seus comandantes, quer sejam do curso da Escola Naval
                                                                cujo Patrono é o Comandante Oliveira e Carmo, quer sejam simplesmente amantes
                                                                do mar e sintam, um grande orgulho, em serem portugueses e na nossa história.
                                                                8   Alusão à responsabilidade que cada um têm de ser +1 a promover a preservação
           O autor, o Jorge Oliveira e Carmo e a Sónia Ell.     dos oceanos e assim garantir que -1 (menos uma) pessoa fica indiferente.



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