Page 160 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA
Sessão Solene Evocativa do Vice-Almirante
Sessão Solene Evocativa do Vice-Almirante
Jorge Maia Ramos Pereira por Ocasião do
Jorge Maia Ramos Pereira por Ocasião do
1º Centenário do seu Nascimento
1º Centenário do seu Nascimento
fim de comemorar o 1º centená- brilhante carreira naval, com variados
rio do nascimento do Vice- embarques, em guarda-marinha,
A-Almirante Jorge Maia Ramos segundo-tenente e primeiro-tenente,
Pereira, realizou-se, no passado dia destacando-se uma longa comissão no
5 de Abril, na Academia de Marinha, Extremo Oriente, de 1930 a 1932, a
uma sessão solene evocativa do ilus- bordo do cruzador “Adamastor”, com
tre oficial-general da nossa Armada, um expressivo louvor do respectivo
presidida pelo Vice-Almirante Mota comandante, pela sua extraordinária e
e Silva, Vice-Chefe do Estado-Maior competentíssima acção, técnica e de
da Armada, em representação do direcção, no âmbito da instalação eléc-
Almirante Chefe do Estado-Maior da trica e dos aparelhos de T.S.F. do
Armada. O Contra-Almirante Rogério navio. A sua primeira colocação na
d’Oliveira, Presidente da Academia Direcção do Serviço de Electricidade e
de Marinha, abriu a sessão proferin- Comunicações data de 13 de Outubro
do algumas breves palavras sobre a de 1932, onde viria a ser secretário,
figura do Vice-Almirante Ramos subdirector e director, cargo a que
Pereira, a que se seguiu a apresen- ascendeu em 23 de Outubro de 1944 e
tação dos três oradores da sessão. que deixou em 17 de Fevereiro de
Perante uma vasta e interessada 1954, já com o posto de Capitão-de-
audiência, que encheu completamente -Fragata. Durante essa longa per-
o auditório da Academia, foram manência de mais de 21 anos naquela
oradores o Vice-Almirante Vicente Direcção, com curtas intermitências,
Almeida d’Eça, o Contra-Almirante ao princípio, para mais alguns embar-
Médico Naval Joaquim Félix António e ques, ainda como primeiro-tenente,
o Comandante Guilherme Conceição designadamente como imediato dos
Silva, todos eles profissionalmente vin- contratorpedeiros “Lima” e “Douro”,
culados ao homenageado, o primeiro respectivamente em 1935 e em 1936,
no âmbito da Direcção do Serviço de Vice-Almirante Jorge Maia Ramos Pereira. foi notabilíssimo o seu labor no
Electricidade e Comunicações, e os domínio da radioelectricidade e das
dois últimos no aviso de 2ª classe “João de Lisboa”. radiocomunicações, nomeadamente em termos de construção e
O primeiro orador da tarde foi o Dr. Félix António, com uma experimentação de equipamentos próprios, fazendo jus à sua
comunicação intitulada “Vice-Almirante Ramos Pereira – Uma vida condição de distinto radioamador que foi, de planeamento e organi-
devotada à Pátria e à Marinha”. Seguiu-se o Vice-Almirante Almeida zação de cursos para oficiais, sargentos artífices e praças, de selecção
d’Eça, cuja comunicação teve por título “Vice-Almirante Ramos de instrutores, de elaboração de elementos de ensino e de recolha de
Pereira – Um valor no campo da radioelectricidade”. A intervenção material de instrução, sendo de destacar várias publicações técnicas
final, a cargo do Dr. Conceição Silva, versou o tema “Vice-Almirante de sua autoria, de elevado mérito, como um compêndio de
Ramos Pereira – O Comandante”. Radioelectricidade editado em 1952, que serviu de estudo a muitos
Do que foi dito pelos três oradores, que escalpelizaram a vida, pes- alunos. Além disso, fez parte de várias comissões consultivas e foi
soal, familiar, social e profissional, do Almirante Ramos Pereira, sem- delegado a algumas conferências internacionais, com manifesto
pre atentamente escutados por todos os circunstantes, e para que, rela- prestígio para a Marinha e o País.
tivamente aos que o não conheceram, se possa ficar com uma ideia, Foi sob a sua direcção que a rede das estações radionavais sofreu
ainda que incompleta, dessa figura tão marcante da nossa Marinha no uma notável modernização, quer em equipamento, quer em insta-
século passado, segue-se uma súmula do que aí foi referido: lações, de que a Estação Radionaval de Lisboa, desdobrada em cen-
Nascido a 6 de Abril de 1901 em Vila Praia de Âncora, concelho tral transmissora e central receptora, é um bom exemplo de avançada
de Caminha, veio viver para Lisboa a seguir ao advento da República, concepção técnica, ao mesmo tempo que eram instaladas novas
em 1910, em virtude de seu pai, que era médico, ter sido eleito depu- estações – algumas das quais sob a sua directa orientação – por forma
tado às Cortes Constituintes pelo distrito de Viana do Castelo, tendo a melhor cobrir a área em que a nossa actividade naval se desen-
sido sucessivamente eleito deputado e senador até ao golpe militar de volvia. Interessou-se particularmente pela radiogoniometria, de que é
28 de Maio de 1926. Tendo feito o curso liceal no Colégio Militar, exemplo emblemático o triângulo Apúlia - Montijo – Horta, com a
ingressou, após mais de dois anos de serviço no Exército, na Escola sua capacidade de cobertura aeronaval do Atlântico Norte, utilizada
Naval como aspirante de Marinha, cujo curso concluíu, classificado em âmbito quer nacional quer internacional, tendo sido dada a uma
em primeiro lugar, passados cerca de três anos, com promoção a dessas estações, a da Apúlia, muito merecidamente, o nome do
guarda-marinha em 29 de Fevereiro de 1924. Seguiu-se então uma Almirante Ramos Pereira.
14 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA