Page 157 - Revista da Armada
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S. João (uma semana) rima com carvão. Averbará 27 viagens, de assistência à frota
Nova saída, 10 navios, S. Pedro por um dia, e bacalhoeira em zona de guerra declarada,
a 2/09, franqueadas a barragens de defesa sob o comando do muito estimado e notável (4) (8)
submarina entra em Halifax para descanço. CFRAG José Martins, agora na Reserva, e
Após mais treze lugres dá-se volta à cam- algumas mistas, de comércio e assistência,
panha. Via Horta e com a barra patrulhada em que leva vinho para os USA e vinho e sal (3) (7)
por um navio de Sua Majestade ei-lo em para o Canadá, donde traz, respectivamente,
Lisboa, a 17 para uma demorada estadia assi- carga geral e ... bacalhau seco. Outros desti-
nalada pela mudança de comando e, de 15 a nos estão em Espanha, França, Reino Unido,
16/02, um violento ciclone a que por pouco Ilhas e o ... Brasil («assúcar (14)»). (2) (6)
não sucumbiu. Mas também transporta pessoal da Armada
A 12/06 larga depois de experimentada a para a recolha de redes e minas de barragem
máquina, carregados isco e material de guer- e a guarnição do novo NH «Almirante (1) (5)
ra e embarcados 7 sargentos e 36 praças para Lacerda». Os mais ilustres passageiros que
o Centro da Aviação Naval de Ponta neste período transportou foram o Arcebispo Cores que o “Gil Eannes” usou na chaminé.
Delgada. Aqui encontrou o «Douro» e o de Mitilene e o embaixador Teotónio Pereira 1 – Companhia alemã Hansa, de Bremen
«Lima» e, na Horta, o «Dão». Das Lages, nas que acompanharam uma imagem de Nossa 2 – Marinha de guerra portuguesa (1916-1918)
Flores, zarpa para os bancos onde chega a 28 Senhora da Boa Viagem para Gloucester. 3 – Transportes Marítimos do Estado
iniciando logo as suas tarefas. Quando em 1951 recebeu um radar ainda 4 – Rau & Santos
5 – 2ª guerra mundial
A rotina foi quebrada quando da escolta a não ia longe o dia em que, imerso num 6 – Marinha de guerra portuguesa (1924-1942)
um combóio de 40 navios constituída por denso nevoeiro, abasteceu de água um 7 – Sociedade Nacional dos Armadores de
contratorpedeiros e corvetas, destacou a «K bacalhoeiro com que chegara à fala sem Bacalhau (1ª)
150» a identificá-lo enquanto era sobrevoado nunca se terem chegado a ... ver. 8 - Sociedade Nacional dos Armadores de
por um ... hidroavião. O correio, os jornais, as encomendas que Bacalhau (2ª)
Aguardavam-no 35 ansiosas velas brancas traz e recolhe, a TSF para mensagens especi-
que «receberam a carinhosa assistência do ais, os abastecimentos, as consultas, os
veterano» navio antes de demandar medicamentos, o conforto duma enfermaria, Notas:
Godhavn onde chegou a tempo de assegurar o socorro duma sala de operações ou o (1) Mais de 10 navios tendo o cargueiro «Cubango»
um comovente funeral a um pescador do recolhimento da capela e, mais do que a elo- servido de transporte dos aviões da Armada.
«Maria da Glória». quência das estatísticas, a memória dos (2) Ilha de S. Nicolau.
(3) O que nos poderá dar uma ideia da amplitude da
Mais dois cruzeiros já com alguns baca- pescadores são testemunho da humanitária sublevação contra a Ditadura saída do 28/05 de 1926.
lhoeiros de regresso que em parte comboiou, missão cumprida com desvelo ao longo de (4) Actual Djacarta.
como outras vezes acontecera, ruma a ... tantos anos. (5) Um deles o «Lusitânia».
Nova Iorque. (6) Sri-Lanka e Estado Português da Índia, Gôa.
(7) Banco Nacional Ultramarino, o Banco emissor em
Salvado o forte Gay passa sob as pontes de todo o Ultramar excepto Angola, com sede na rua do
Brooklyn e Manhattan e atraca ao cais 33 Ouro e que depois de várias fusões, após 1974, desapa-
para embarcar ... bacalhau e ver 6 homens ... receu.
desertarem antes de, a 10 de Outubro, largar (8) O autor que vimos seguindo, o Comandante
para o Douro – Massarelos onde deixou a Amorim Loureiro procura evitar o uso da palavra
«Iceberg», ela própria híbrida do inglês (ice, gelo) e do
carga e uma semana depois, a 1/11, concluir alemão (berg, montanha).
na capital a 8ª campanha. (9) «O navio não dispunha dos planos do porto, por
A sua última viagem como navio da serem secretos, e não havia práticos.»
Marinha de Guerra foi eminentemente militar; (10) Dos Armadores de Navios de Pesca do
22 peças de artilharia e munições para a base Bacalhau. Na organização corporativa do Estado Novo
naval de Ponta Delgada, viaturas e aviões para o patronato estava organizado em Grémios e o traba-
o Exército e outra carga militar, além de mate- O “Gil Eannes” parte pela última vez para a assistên- lho em Sindicatos Nacionais, havendo, como «almofa-
da», as Casas dos Pescadores e, mais tarde, as Casas do
riais de construção que deu, ali, lugar a outra cia aos pescadores do bacalhau. Povo.
carga e, com as devidas honras, aos restos (11) O Cte José Maria Martins além de ser um mari-
mortais de dois pilotos navais, um 2º tenente e Ao serviço de duas bandeiras e de cinco nheiro competentíssimo era um homem de inesquecível
um 2º sargento, vítimas de acidente. diferentes armadores, oito vezes mudadas as afabilidade e um reputadíssimo ... fotógrafo!
(12) Não existe santo deste nome.
cores da chaminé, a cinco de Outubro de (13) E que daria azo, anos depois, ao que se tornará,
NAVIO CIVIL 1954 termina a derradeira viagem. De tudo tememos, no saudoso Despacho 100.
despojado, inclusive do nome, será vendido (14) Com o arroz e o café o lote de produtos mais de-
A 20/12/1941 terminava o seu serviço mili- em almoeda. Os que nele serviram e os que sejados.
(15) Em vésperas de desmantelamento numa emissão
tar-naval arriando a flâmula e o jaque a 14, serviu não o esquecerão. do programa «Memória do tempo» o Prof. Dr. Hermano
depois de retirada a artilharia e guarnição, subs- Melhor sorte terá, «in extremis», o navio Saraiva consegue a sua recuperação museológica.
tituída por uma tripulação sob o comando do (15) que lhe sucederá na missão que, com o (16) Típico do Estado Novo o título de uma notícia do
capitão da marinha mercante Cândido da Silva. nome e o sino, dele recebe. Este, patente no Diário de Notícias do início dos anos setenta acerca da
Porque a guerra continuava e o país perce- Museu da Marinha, na sala que evoca a que benção dos bacalhoeiros que partiam para a campanha
em que a frota, inequivocamente numerosa, já quase
bia, mais uma vez, que só excedendo-se a si foi a «maior frota bacalhoeira de pesca à seria a única de pesca do bacalhau à ... linha. Se fosse
própria, a sua, entretanto empobrecida, ma- linha do mundo» (16). por razões ecológicas ...
rinha mercante conseguia, para matar a fome Importa que navios símbolo de uma (17) Como em Londres, Portmouth, Paris, Nova
da população, suprir a aflitiva indisponibili- época, mercantes ou de guerra, sejam preser- Iorque, Toronto, Rio de Janeiro, ...
dade de cargueiros estrangeiros (13) é que o vados como apelativas imagens das suas
«Gil Eannes» foi engrossar por DL de Marinhas (17) ... Bibliografia:
3/02/1942 a frota de comércio com o sinal 1 - AMORIM LOUREIRO, Carlos Gomes de, A
de código CSAU e, na chaminé, as cores da História de Um Navio, O «Gil Eannes», Lisboa,
Gabinete de Estudos Das Pescas, 1956, 223 páginas.
Sociedade Nacional dos Armadores de Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves 2 - Diversos autores, Grande Enciclopédia Portuguesa
Bacalhau (S.N.A.B.). 1TEN REF e Brasileira , ?ª Ed. Lx., Enciclopédia Lda, s/ data.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 11