Page 304 - Revista da Armada
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Armas Submarinas baseadas
             Armas Submarinas baseadas


                             na super-cavitação
                             na super-cavitação






         UMA NOVA GERAÇÃO                   objecto imerso. De facto, a resistência de  Esta utilização artificiosa do fenómeno físi-
         DE ARMAS SUBMARINAS?               atrito produzida pela água é cerca de 1000  co da cavitação só é possível através de um
                                            vezes superior à produzida pelo ar e aumenta  processo de análise extremamente complexo,
               afundamento do “Kursk” em Agosto  com a velocidade. Quando um objecto se  dado que se trata de um problema de escoa-
               de 2000 foi envolvido numa trama  desloca sob a água, a componente da veloci-  mento bifásico (o escoamento envolve simul-
         Ode mistério e desinformação por   dade tangencial à superfície do corpo  taneamente duas fases, líquida e gasosa). O
         parte da Marinha e autoridades Russas.  diminui na parte frontal e aumenta na parte  desenho do “nariz” do torpedo ou projéctil,
         Apesar da insistência dos Russos na teoria de  posterior, enquanto que a pressão exercida  bem como o dispositivo de controlo da cavi-
         que o afundamento se deveu a uma colisão  pelo fluido sobre a superfície do corpo tem  dade (ventilação) é crítico para se obter o
         com outro submarino, rapidamente circulou  uma variação contrária. Se o aumento da  rendimento e comportamento adequados do
         a informação de que o “Kursk” estaria a testar  velocidade causar uma queda de pressão  dispositivo. Igualmente vitais são os sistemas
         um novo tipo de torpedo, cuja explosão aci-  suficientemente intensa, o líquido muda de  de propulsão e guiamento, aspectos que
         dental causou o seu afundamento. O novo  estado, formando cavidades de vapor de  serão considerados mais adiante.
         torpedo poderia ser o SS-N-16A Stallion, um  água adjacentes ao objecto em certos pontos
         conjunto torpedo/míssil com um alcance de  localizados. O fenómeno da cavitação é
         cerca de 200 milhas, ou uma nova versão do  normalmente evitado pelos engenheiros e O ESTADO-DE-ARTE DAS ARMAS
         torpedo ultra-rápido Shkval (Squall), capaz de  construtores navais, por causar perda de efi- SUBMARINAS ULTRA-RÁPIDAS
         atingir uma velocidade de 200 nós! Esta  ciência na propulsão e mesmo erosão e des-
         segunda possibilidade é mais interessante,  gaste das superfícies metálicas.  A Rússia é actualmente líder na tecnologia
         porque levanta o véu sobre o desenvolvi-  A super-cavitação é um caso extremo de  de armas submarinas baseadas na super-cavi-
         mento de uma nova geração de armas sub-  cavitação, no qual o objecto em movimento  tação. A tecnologia Russa encontra-se funda-
         marinas ultra-rápidas baseadas numa tecno-  é totalmente envolvido por uma cavidade de  mentada em décadas de investigação, e teve
         logia surpreendente, inovadora e pouco  gás a baixa pressão, o que reduz drastica-  como consequência prática a introdução do
         explorada, que permite a armas e veículos  mente a resistência de atrito. Se a forma do  torpedo Shkval. Os peritos ocidentais pensam
         submarinos atingir velocidades de centenas  “nariz” do objecto for adequada, pode obter-  que os cientistas russos foram os primeiros a
         de nós. Esta tecnologia é baseada no fenó-  -se super-cavitação com velocidades a partir  atingir velocidades supersónicas com objectos
         meno físico da super-cavitação. O princípio  de 50m/s. Uma vez formada, a cavidade  totalmente imersos. É de supor que a Rússia
         consiste em envolver o objecto em movi-  pode ser mantida e aumentada (“ventilada”)  tenha em curso um extenso programa de
         mento por uma cavidade de gás de modo a  injectando gás produzido pelo sistema de  investigação sobre armas baseadas na super-
         reduzir ao mínimo a superfície do corpo em  propulsão, de modo a evitar o contacto da  -cavitação, mas os resultados práticos desse
         contacto com a água, diminuindo drastica-  fase líquida com a superfície do objecto. A  programa são desconhecidos.
         mente a resistência de atrito.     potência necessária para atingir o regime de  Grande parte da tecnologia fundamental
           As aplicações potenciais da super-cavita-  super-cavitação é elevada. Mas uma vez  usada no torpedo Shkval foi desenvolvida no
         ção incluem torpedos ultra-rápidos, projécteis  atingido o regime de super-cavitação o coefi-  Instituto Ucraniano de Hidromecânica de
         submarinos para destruição de minas ou tor-  ciente de atrito baixa drasticamente, o que  Kiev, na Ucrânia; ainda nos tempos da antiga
         pedos em aproximação ao alvo (uma espécie  permite atingir grandes velocidades.  União Soviética. Este Instituto dispõe de um
         de Phalanx anti-submarino), armas tácticas
         ou estratégicas de longo alcance com uma
         combinação torpedo-míssil, ou mesmo sub-
         marinos de alta velocidade. O desenvolvi-
         mento de uma nova geração de armas sub-
         marinas baseadas na super-cavitação pode
         alterar por completo a estratégia e táctica
         navais. Por outro lado, sistemas torpedo-míssil
         com ogivas nucleares podem aumentar dras-
         ticamente a vulnerabilidade das grandes
         forças navais e anular os sistemas tipo
         “Guerra das Estrelas” para protecção das
         grandes cidades. Uma outra aplicação pos-
         sível, é a utilização de projécteis estáveis no
         ar e na água para neutralizar minas ou atingir
         submarinos á cota periscópica.


         O FENÓMENO
         DA SUPER-CAVITAÇÃO
                                            Figura 1: Ilustração do princípio da super-cavitação. O aumento brusco da velocidade do fluido entre o
                                            “nariz” e a superfície cilíndrica tem como consequência uma forte diminuição da pressão, e consequente for-
           Como é sabido, é necessário dispôr de  mação de uma “bolha” de vapor de água. A cavidade gasosa pode ser aumentada e estabilizada através da
         uma potência elevada para fazer deslocar um  injecção de gás a baixa pressão (“ventilação”), envolvendo por completo o objecto.
         14 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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