Page 334 - Revista da Armada
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Reminiscências Francesas na História
Reminiscências Francesas na História
da Aviação Naval Portuguesa
da Aviação Naval Portuguesa
1ª Parte
A génese da Aviação Naval
Portuguesa, que ficou a dever-
-se à concepção do Comte.
Sacadura Cabral, ocorreu num
quadro de cooperação luso-
-francesa, no período da 1ª
Grande Guerra. Essa coope-
ração desenvolveu-se em três
fases e em três âmbitos: em 1º
lugar, a formação técnica de
Pilotos e Mecânicos em esco- Schreck FBA - Tipo B.
las francesas; em 2º lugar, a
aquisição de diversos e suces- (França, Inglaterra e EUA). Da Marinha, os operacionais e a Escola de Aviação da
Armada. Como principal impulsionador
voluntários foram o 1TEN Artur de Sacadura
sivos tipos de hidroaviões de Cabral e o GMAR AN António Caseiro, que deste plano, Sacadura Cabral desenvolveu os
fabrico francês, que equiparam frequentaram o curso de pilotagem na escola estudos para o estabelecimento, organização
as nossas unidades até 1935; e, de Chartres, tal como outros oficiais do e localização do 1º Centro de Aviação
Marítima. Não tendo sido possível a insta-
Exército. Terminado este curso básico,
paralelamente a estes factos, o Sacadura Cabral especializou-se em hidroa- lação no Alfeite (1ª escolha), foi decidido
estabelecimento de um Centro viões no Centro de St. Raphael (na costa sul), recorrer, com caracter provisório, à Doca do
da Aviação Naval Francesa em enquanto que A. Caseiro se especializou em Bom Sucesso. Em 14/Dezembro/1917
chegaram ali os dois primeiros hidroaviões
aviões rápidos Voisin, em Ambérieu. Outros
S. Jacinto em 1918 (2), desti- 9 oficiais de Marinha foram sucessivamente FBA, e o Centro entra em operação, sob o
nado à vigilância anti-sub- brevetados em França, até 1920. comando do então CTEN Sacadura Cabral.
Aproveitando esta permanência em
marina da costa e portos a França, e tendo obtido delegação de com- OS AVIÕES FRANCESES NA
norte de S. Martinho do Porto petências do Ministro da Marinha, Sacadura AVIAÇÃO NAVAL PORTUGUESA
(ficando a vigilância daí para Cabral estabeleceu contactos com os meios Os primeiros hidroaviões recebidos de
técnicos e da indústria aeronáutica, o que lhe
sul a cargo do nosso Centro do permitiu avaliar os vários modelos de França em Janeiro de 1917 foram dois FBA
Bom Sucesso). hidroaviões em produção, como base para os (Franco-British Aviation) que, depois de mon-
seus planos de criação da futura Aviação tados em Vila Nova da Rainha, por pessoal
Marítima (1ª designação oficial). português já especializado, iniciaram a activi-
A INICIAÇÃO Regressado a Portugal em Setembro de dade de voo em Março desse ano. A mon-
1916, Sacadura ingressou pouco depois tagem dos aparelhos foi supervisionada pelo
Mesmo antes da declaração de guerra da como instrutor e Director da Instrução na Mecânico francês Roger Soubiran, que
Alemanha a Portugal (9/Março/1916), já em recém-criada Escola Militar de Aeronáutica, depois viria a ser contratado como Chefe das
1915 o Governo Português abrira concurso em Vila Nova da Rainha. Oficinas do Bom Sucesso, e seria o grande
entre os oficiais do Exército e da Marinha, Por Decreto nº 3395 de 28/Setem- colaborador de Sacadura Cabral na pre-
voluntários para se especializarem como bro/1917, é criado o Serviço de Aviação da paração e assistência aos aviões nas viagens
pilotos-aviadores em escolas estrangeiras Armada, que viria a enquadrar as unidades atlânticas.
Ao longo dos anos, foram adquiridos os
seguintes hidroaviões de fabrico francês:
Por encomenda de Abril/1917, receberam-
-se, já em 1918, dois Tellier-T3 e quatro
Donnet-Denhaut DD8.
Ainda em 1918, entraram em serviço mais
seis DD8 vindos de fábrica, e outros oito
recebidos da Aéronavale Francesa, quando
da sua retirada de S. Jacinto, após o
Armistício.
Em 1920 receberam-se mais três Tellier-T3.
Em 1924 o Comte. Sacadura Cabral
encomendou de França um motor Napier
Tellier - Tipo T3. Lion de 450 CV, com o qual pretendia
8 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA