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efectivos de pessoal da Aeronáutica
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                                                                               dição do Subsecretariado de Estado da
                                                                               Aeronáutica.
                                                                                 As propostas  de  Lei 186 e 187 foram
                                                                               objecto de larga  discussão na Assembleia
                                                                               Nacional e na Câmara Corporativa, tendo
                                                                               provocado reacções públicas e inter-
                                                                               venções de oficiais aviadores do Exército,
                                                                               pró-unificação, e de aviadores navais con-
                                                                               tra. Alguns depoimentos públicos de enti-
                                                                               dades competentes deram mais força a
                                                                               cada uma das correntes, cada qual usando
                                                                               a sua própria lógica de argumentação.
                                                                                 A questão fulcral era se a especialização
                                                                               e o comando operacional da Aviação
                                                                               Naval deveriam ou não manter-se na
                                                                               dependência da Marinha. Para os avia-
                                                                               dores navais, essa dependência era obvia-
                                                                               mente necessária e vantajosa, dada a sua
                                                                               especial missão de cooperação com as
         Desembarque em S. Vicente – Cabo Verde do Gruman Widgeon utilizado em trabalhos de fotogrametria.  forças navais. Isto, sem pôr em causa o
                                                                               comando superior ao nível da Defesa
         aérea. A execução de fotografia aérea ver-  num rumo adequado para efectuar uma  Nacional. Mas o poder político não quis
         tical como elemento indispensável para a  observação do Sol, avistou finalmente uma  entender que a importância estratégica da
         cartografia, tornou-se desde cedo uma  embarcação com os únicos náufragos  Aviação Naval não era função da sua
         tarefa habitual da Aviação Naval, cujas  sobreviventes. Tinham decorrido cerca de  dimensão (considerada diminuta), mas sim
         equipas trabalhavam em cooperação  2 semanas desde o afundamento do seu  da sua especialização.
         estreita com as missões hidrográficas da  navio. A persistência dos nossos aviadores,  Na Aviação Naval admitia-se que, por
         Marinha.                           beneficiada por mera casualidade de últi-  medida de economia e normalização de
           Utilizando aviões não especialmente  ma hora, permitiu o salvamento de algu-  procedimentos, pudessem ser concentra-
         criados para tais tarefas, mas sujeitos às  mas vidas.                das certas actividades, designadamente a
         adaptações indispensáveis, pondo em                                   instrução básica de voo, as grandes repa-
         acção a criatividade e o empenhamento da  UM FINAL POLÉMICO           rações e revisões dos aviões, e também a
         nossa gente, as missões de fotografia aérea                           utilização comum de certas infraestru-
         realizaram ao longo dos anos, em todas as  Até 1952, as forças aéreas portuguesas  turas e facilidades logísticas. Aliás,
         costas e portos dos territórios sob juris-  estavam divididas em duas: a Aeronáutica  alguns destes procedimentos estavam já
         dição portuguesa, um trabalho inestimá-  Militar dependente do Ministério do  em prática.
         vel, que ficou integrado na cartografia de  Exército e a Aeronáutica Naval do Minis-  A lógica da argumentação dos avia-
         alta qualidade hoje existente.     tério da Marinha.                  dores navais não chegou para vencer as
           Finalmente, devem ser referidas as  Pelo Dec-Lei 37909, de 1 de Agosto de  intenções e determinação do poder po-
         missões de busca de náufragos, muitas  1950, fora criado o cargo de Ministro da  lítico. E os altos responsáveis da Marinha
         vezes requeridas, mas nem sempre bem  Defesa Nacional, com a incumbência de  optaram por uma atitude de moderação,
         sucedidas.                         coordenar a política militar nacional, com  não se tendo envolvido em força nesta
           Durante a 2ª Guerra Mundial, os Cen-  autoridade sobre os ministérios do Exérci-  luta.
         tros do Bom Sucesso e de Ponta Delgada  to e da Marinha, e ainda sobre o Subsecre-  A Aviação Naval foi vencida. Mas não
         foram chamados a realizar algumas  tariado de Estado da Aeronáutica, igual-  convencida.
         dezenas de missões de busca de náu-  mente criado por este mesmo Dec-Lei.  Em 1 de Julho de 1952, pelo Dec. nº 38805,
         fragos dos navios torpedeados pelos sub-  A instituição deste novo departamento  os Serviços e Infraestruturas da Ae-
         marinos alemães. Essas missões eram  governamental foi manifestação iniludível  ronáutica Naval foram passados à de-
         geralmente efectuadas em complemento  da intenção política de unificar as aviações  pendência do Ministério da Defesa
         das missões de busca e salvamento efec-  militares, criando uma Força Aérea sob  Nacional, saindo da jurisdição do Mi-
         tuadas por navios da Marinha de Guerra.  comando centralizado a nível superior.  nistério da Marinha. Em 31 de Dezembro
           Um caso especial que teve grande pro-  Esta circunstância desencadeou viva  do mesmo ano o Dec. Lei nº 39071 esta-
         jecção, foi o do afundamento do paquete  polémica, com destaque para a reacção da  beleceu novas normas sobre quadros e
         inglês Avila Star, a oeste da Península  Aviação Naval, polémica que se desen-  efectivos da Aeronáutica Militar e das
         Ibérica, tendo sido pedida a intervenção do  rolou até à forçada extinção deste ramo da  então criadas Forças Aeronavais, depen-
         Centro do Bom Sucesso nas buscas dos  Marinha de Guerra, em 1952.     dentes do Subsecretariado de Estado da
         náufragos, mas já muitos dias depois do  O processo formal desta reformulação  Aeronáutica.
         afundamento do navio. Com vários hidros  institucional constou dos seguintes diplo-  Em consequência deste acto legislativo, a
         Grumman G-21, desenvolveu-se uma   mas governamentais:                Ordem da Armada determinou a pas-
         operação de busca sistemática cobrindo  a) – Proposta de Lei nº 186, de Janei-  sagem de todo o pessoal da Aeronáutica
         uma vasta área do Atlântico, voando-se  ro/1952, tratando da Organização Geral da  Naval ao referido Subsecretariado, ficando
         vários dias entre o nascer e o pôr do Sol.  Aeronáutica Militar;      na situação de  “deslocado”.
         Quando se decidiu suspender as buscas  b) – Proposta de Lei nº 187, com a mesma  No dia 1 de Janeiro de 1953 já não existia
         por se considerar inexistente qualquer  data da anterior, sobre o recrutamento, for-  Aviação Naval como ramo da Marinha de
         vestígio de náufragos na vasta área  mação e serviço militar nas forças aéreas;  Guerra.
         pesquisada, o último avião em operação,  c) – Dec. Lei nº 39071, de 31/Dezem-  As chamadas Forças Aeronavais con-
         tendo prolongado um pouco o seu voo  bro/1952, estabelecendo os quadros e  substanciaram uma fase de transição até à

         10 AGOSTO 2002 • REVISTA DA ARMADA
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