Page 267 - Revista da Armada
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Norte) formados por essa água é relati-
                                                                               vamente recente (fim dos anos setenta).
                                                                               O primeiro vórtice deste tipo a ser devi-
                                                                               damente identificado como tal foi
                                                                               encontrado ao largo das Bahamas
                                                                               (McDowell e Rossby, 1978), a mais de
                                                                               6000 km de distância da sua origem
                                                                               (Golfo de Cádiz) e conservando ainda as
                                                                               características termohalinas da Água
                                                                               Mediterrânica. Foi então apelidado de
                                                                               MEDDY (MEDiterranean EDDY), desi-
                                                                               gnação que passou a ser utilizada para
                                                                               este tipo de vórtices. Apesar de hoje
                                                                               haver algumas dúvidas sobre se era, de
                                                                               facto, um meddy (Prater and Rossby,
                                                                               1999), esta descoberta abriu um novo
                                                                               campo de investigação científica
                                                                               debruçado sobre a dinâmica destas
                                                                               estruturas e respectivos mecanismos de
                                                                               geração. Desde então, muitos desses
                                                                               vórtices têm sido identificados e segui-
                                                                               dos no seu trajecto na bacia oriental do
                                                                               Atlântico Norte, em especial ao largo da
                                                                               costa oeste da Península Ibérica (p. ex.,
                                                                               Käse et al, 1989; Bower et al., 1995) e
                                                                               na região das Canárias (Richardson et
                                                                               al., 1989).
                                                                                 Essas estruturas têm uma forma lenti-
                                                                               cular com diâmetros típicos entre 50 e
                                                                               100 km e extensão vertical de cerca de
                                                                               700 m (i.e., abrangendo as camadas
                                                                               entre 600 m e 1300 m de profundidade).
         Fig. 1 - Distribuição horizontal da salinidade média no Atlântico ao nível dos 1200 m (Maillard, 1986), ilustran-  Apresentam rotação sólida anticiclónica
         do a zona de influência da Água Mediterrânica no Oceano Atlântico.
                                                                               com períodos de 6 a 8 dias e veloci-
                                                                               dades azimutais que podem atingir 30
         anomalias na distribuição vertical das  que estão associados à existência de  cm s -1  (e.g., Armi e Zenk, 1984; Armi et
         propriedades termohalinas associadas à  mínimos locais da velocidade do som).  al., 1989). A maioria destes vórtices
         presença destes dois núcleos. A Fig. 2A  Este é pois um aspecto importante do  inclui simultaneamente os dois núcleos
         mostra os perfis de T e S numa estação  ponto de vista militar a ter em conta na  principais de Água Mediterrânica. A
         oceanográfica realizada em Janeiro de  região oriental do Atlântico Norte.  região do Cabo de S. Vicente foi identi-
         1998 ao largo da costa algarvia, assim                                ficada como um dos locais de geração
         como o correspondente perfil da veloci- 2. OS MEDDIES OU VÓRTICES DE  destes vórtices (Bower et al., 1995,
         dade do som. Note-se a existência dos  ÁGUA MEDITERRÂNICA             1997). Também há evidência obser-
         dois máximos relativos de T e S associa-                              vacional de que a geração destes pode
         dos aos núcleos acima referidos, e o  Apesar da existência da Água Medi-  estar associada à existência de canhões
         respectivo reflexo no perfil da veloci-  terrânica ser conhecida desde há muito  submarinos ao largo da costa portu-
         dade do som que evidencia dois máxi-  tempo, a descoberta de vórtices com  guesa, nomeadamente ao Canhão de
         mos (a cerca de 800 m e 1300 m) e dois  rotação anticiclónica (i.e., no sentido  Portimão (Fiúza et al., 1990; Serra e
         mínimos relativos (a cerca de 500 m e  dos ponteiros do relógio no Hemisfério  Ambar, 2001).
         900 m). A Fig 2B mostra esses perfis de T
         e S artificialmente modificados de modo  A                             B
         a eliminar a presença de Água Mediter-
         rânica na camada intermédia. O corres-
         pondente perfil da velocidade do som
         torna-se neste caso muito mais simplifi-
         cado, tendo apenas uma região de míni-
         mo absoluto a cerca de 1000 m de pro-
         fundidade. Como é óbvio, os efeitos da
         refracção do som correspondentes a
         cada um destes perfis da velocidade do
         som (Figs. 2A e 2B) resultam muito dife-
         rentes, nomeadamente no que diz
         respeito à localização de potenciais
         zonas de sombra (camadas onde os raios
         acústicos não penetram directamente e
         que estão associadas à existência de  Fig. 2 – (A) Perfil vertical da salinidade (azul), temperatura (vermelho) e velocidade do som (magenta), numa
         máximos locais da velocidade do som) e  estação (36° 24.57’N, 8° 55.49’W) ao largo da costa sul de Portugal realizada durante o Projecto europeu
         de canais de som (níveis onde a propa-  CANIGO; (B) Perfil vertical da salinidade (azul), temperatura (vermelho) e velocidade do som (magenta),
         gação do som é particularmente eficaz e  depois de se retirar os pontos T/S correspondentes à influência da Água Mediterrânica.
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2002  13
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