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de voo durante os seus 20 anos (1934-1953)
                                                                               foi sempre mantida por aviadores navais
                                                                               (4 sucessivamente). Por outro lado, o serviço
                                                                               estatal Transportes Aéreos Portugueses,
                                                                               em operação desde 1946, teve a participa-
                                                                               ção activa de 6 pilotos-aviadores navais e
                                                                               2 navegadores, todos eles envolvidos não só
                                                                               nas actividades de voo, mas também em
                                                                               funções técnicas, em instrução e em cargos
                                                                               de chefia. Nas duas transportadoras aéreas
                                                                               aqui referidas, também exerceram funções
                                                                               das suas especialidades vários outros ele-
                                                                               mentos da Aviação Naval, como mecânicos
                                                                               de avião, radiotelegrafistas e artífices de
                                                                               aviação, alguns deles actuando como instru-
                                                                               tores e chegando alguns a cargos de chefia.
                                                                                 Em suma, a extinção da Aviação Naval
                                                                               não se consumou ainda plenamente.
                                                                                 Perdeu-se o corpo, a estrutura material.
                                                                               Mas não a alma.
                                                                                 Para além dos contributos positivos que
                                                                               os sobreviventes continuam a prestar a
         Base Aeronaval do Montijo.                                            várias instituições, permanece um vínculo
                                                                               colectivo, patente na Associação dos Anti-
         instituição definitiva da Força Aérea unifi-  gerido a Escola de S. Jacinto. Em reforço  gos Membros da Aviação Naval. Associa-
         cada, em 1957.                     deste comando, foi assinalável a eficiente  ção que não tem estatutos formais, porque a
           Ingressaram naquelas Forças 37 oficiais  contribuição técnica dos especialistas ex-  solidariedade dos seus membros é natural e
         pilotos-aviadores, 2 observadores aero-  -navais. Nesta oportunidade cito aqui o  espontânea, sempre patenteada nas reu-
         náuticos e 5 engenheiros maquinistas de  seguinte depoimento de um antigo radio-  niões anuais de convívio.
         aviação, além da maioria do pessoal das  telegrafista e operador de radar aeronaval,  No dia 18 p.p. teve lugar o convívio de
         várias especialidades técnicas, e ainda pes-  hoje major reformado da Força Aérea: -  2002, na BA-6 do Montijo, sendo anfitriã
         soal civil.                        “...não esquecemos que foi naquela Unidade  (pela 2ª vez) a Esquadrilha de Helicópteros
           A Força Aérea foi formalmente criada  (BA6) que uma boa parte de nós, se não a maio-  da Marinha. Uma unidade operacional com
         pelo Dec. nº 41492 de 31 de Dezembro de  ria, deu o nosso melhor contributo: primeiro, na  meios aéreos que são parte integrante de
         1957, como ramo independente das Forças  Aviação Naval; depois e mais aturadamente, à  determinados navios, não representando,
         Armadas (**). O mesmo decreto estabele-  Força Aérea, o que muito nos orgulha e honra”.  portanto, um renascimento da Aviação
         ceu que o pessoal do antigo quadro das  O alto nível organizativo e operacional  Naval, em termos formais. Mas estou certo
         Forças Aeroterrestres passaria automatica-  das unidades A/S baseadas na Base  de que nessa Esquadrilha de Helicópteros
         mente ao novo quadro da Força Aérea,  Aeronaval do Montijo mereceu significa-  persiste o espírito aeronaval, garantindo
         enquanto que os antigos Aeronavais ti-  tivos elogios de entidades da NATO.  eficiência, qualidade e determinação de
         nham a opção de ingressar nesse novo  Mais tarde, na FAP, a generalidade do  bem servir.
         quadro ou regressar à Marinha. Opção que  pessoal oriundo da Aviação Naval con-  A terminar, direi que a Força Aérea
         deveria ser assumida individualmente até  tribuiu com o seu saber e empenhamento  Portuguesa é actualmente a legítima
         31 de Março de 1958.               para a consolidação técnica e organizativa  herdeira do património histórico da
           O quadro aeronaval foi extinto em 1 de  da nova instituição. Certamente por isso, foi  Aviação Naval, nas suas vertentes técnica e
         Abril de 1958.                     notório o bom acolhimento geral de que  operacional. Património que é apreciado e
           Dos oficiais-aviadores aeronavais, 8 in-  foram alvo. E é de salientar que os especia-  respeitado. Mas é à Marinha que compete
         gressaram voluntariamente na Força Aérea  listas que na Aviação Naval não tinham  preservar todo o manancial de valores indi-
         em 1958. Outros 15 só se decidiram em 1959.  acesso a postos de oficiais, beneficiaram de  viduais e colectivos que se criaram e desen-
         Os restantes 16 regressaram à Marinha.  promoções nesse quadro da FAP, tendo  volveram durante a curta vida da nossa
           Dos engenheiros maquinistas de avia-  mesmo atingido postos de oficial superior.  Aviação Naval. Assim o esperam todos os
         ção, 5 ingressaram na Força Aérea.  Quanto aos oficiais aviadores navais ingres-  que nela serviram.
                                            sados na FAP, num total de 23, o critério de
         REMINISCÊNCIAS POSITIVAS           integração praticado permitiu a imediata                 A.J.Silva Soares
                                            promoção de alguns ao posto seguinte. E,                CTEN Aviador REF
           Extinguiu-se a instituição. Mas não se  na continuidade das progressões, 11 deles
         perdeu o valioso potencial das capacidades  atingiram o nível de oficiais generais. É de  Notas
         profissionais dos seus efectivos humanos, a  assinalar que o General Conceição Silva, ex-  (*) – Este episódio foi publicado na Revista da
         todos os níveis e em todas as especiali-  -aeronaval, exerceu o alto cargo de Chefe  Armada nº 270, de Novembro de 1994.
                                                                               (**) – Por isso se estranha que o cinquentenário seja
         dades. Todo esse potencial se transferiu e  do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA).  festejado no corrente ano.
         projectou para a nascente Força Aérea  Por seu lado, dois dos engenheiros che-
         Portuguesa (FAP) e também para a Aviação  garam ao posto de brigadeiro, tendo  Bibliografia
         Comercial, já então em desenvolvimento.  desempenhado funções de Directores, um  - Diários das Secções da Assembleia Nacional e
           As Forças Aeronavais operaram ainda  dos quais nas OGMA.            Câmara Corporativa de 1952.
         cerca de 5 anos sob comando de oficiais ex-  Quanto ao protagonismo dos aviadores e  - Anais do Clube Militar Naval de Abril-Junho e
         -aviadores navais, neste caso os Coman-  técnicos da Aviação Naval nas actividades  Julho-Setembro de 1952.
         dantes Cardoso de Oliveira e Ferrer Caeiro,  da Aviação Comercial é de referir em  - Revista da Armada – nos 81 a 83 de Junho a Agosto
                                                                               de 1978.
         que na Base do Montijo, vieram repetir, ou  primeiro lugar a transportadora Aero  - “Quando a Marinha Tinha Asas...” – Viriato Tadeu –
         mesmo ampliar o sucesso com que tinham  Portuguesa, cuja regularíssima actividade  Edições Culturais da Marinha – 1984.
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2002 11
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