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11 de Setembro de 2001,
11 de Setembro de 2001,

Terrorismo ou Guerra
Terrorismo ou Guerra

Conclusão

ndicam-se a seguir mais uns capítulos A RÚSSIA E A OSCE Mas a Rússia tem mais razões para desejar
que vêm na sequência dos publicados apoiar os EUA contra os talibãs:
Iem artigos anteriores. Os dois primeiros Desde 1948/1949, quando o Ocidente Primeiro, os talibãs ligaram-se aos mais
relacionam-se com as tentativas de ir buscar redefiniu o inimigo, a União Soviética tentou ferozes inimigos do Exército Vermelho que
a legitimidade de complexas situações anti- sempre quebrar o isolamento político que a ocupou o Afeganistão. E, mesmo depois da
gas de violência, à actual guerra internacional nova situação bipolar lhe criava. Rússia ter saído do Afeganistão, a instabili-
contra o terrorismo global. É assim que hoje já Este objectivo começou a ter possibilidade dade provocada pela guerra civil que levou
se aponta o terrorismo como causa da quarta de se concretizar após a visita do Presidente os talibãs a Cabul obrigou à presença russa
guerra indo-paquistanesa em preparação, e Nixon a Moscovo, em 1972, com a criação da nas Repúblicas vizinhas da CEI, todas
se reduz o conflito israelo-palestiniano de Conferência para a Redução Mútua e islâmicas e abrangidas pelas separações de
mais de 50 anos ao confronto entre o terroris- Equilibrada de Forças na Europa (MBFR) com etnias referidas em artigo anterior. Nessa
mo do Hamas e a reacção defensiva que sede em Viena, em 1973, e com a criação da altura havia receio de que o fundamentalis-
provoca. É uma redução e generalização Conferência sobre a Segurança e Cooperação mo radical dos talibãs transpusesse a fron-
perigosa. na Europa (CSCE) que teve início em 1973 e teira Norte.
terminou com a assinatura da Acta Final de Segundo, porque os talibãs têm apoiado a
A CHINA E XINJIANG Helsínquia em 1 de Agosto de 1975. subversão chechena contra Moscovo.
Depois de diversas Conferências de Moscovo deseja que a comunidade interna-
A China, que só muito recentemente sen- Sequência, a CSCE foi institucionalizada, cional veja a instabilidade chechena como
tiu necessidade de fazer coincidir as suas criando estruturas permanentes e passando uma acção de minorias violentas apoiadas do
fronteiras culturais com o traçado mais limi- a designar-se Organização para a Segurança exterior e que deve ser incluída neste com-
tado das suas fronteiras geográficas, tem e Cooperação na Europa (OSCE), a partir de bate global contra o terrorismo, e não como
problemas de insegurança importantes em 1 de Janeiro de 1995. um desejo de autodeterminação da popu-
duas regiões: o Tibete e a remota Xinjiang. A OSCE ainda é hoje a única organização lação islâmica da República da Chechénia.
A situação no Tibete está controlada inter- regional para o tratamento de assuntos de Terceiro, porque os talibãs nasceram com
namente mas tem grande projecção interna- segurança onde a Rússia está em igualdade o apoio dos EUA, contra a opinião e o inte-
cional, dado o facto de o Tibete já ter sido um com os Estados Unidos e com as principais resse da Rússia, e agora os EUA arrepen-
Estado independente, ter uniformidade étni- potências europeias. dem-se e consideram-nos inimigos.
ca e ter criado uma cultura própria, ter como Porém, enquanto a Rússia deseja valorizar A Chechénia é uma República da Fede-
líder o chefe religioso de uma vasta comu- a OSCE, chegando a propor que a NATO lhe ração Russa e todos os países da CEI vizi-
nidade recentemente galardoado com o fique subordinada, como seu braço armado, nhos do Afeganistão são membros da OSCE.
Prémio Nobel da Paz, e ainda, por ter sido o Ocidente tem-lhe atribuído uma importân- Logo, estes são problemas que interessam a
“libertado à força” pelo exército chinês. Mas cia secundária, privilegiando os papeis da Portugal de forma especial, uma vez que
o terrorismo não tem sido preocupação. ONU, da NATO, da União Europeia e do assumiu a Presidência anual da OSCE em 1
Xinjiang, a grande província ocidental, é Conselho da Europa. de Janeiro de 2002.
menos falada no exterior mas vive uma per- No entanto, a OSCE é a única organiza-
turbação interna com alguma gravidade. ção que a Rússia aceita para a mediação e DA COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS
Nela convivem 12 das 55 minorias da China, resolução dos conflitos, ou para as acções de PARA PUNIR, ÀS GUERRA PUNITIVAS
sete das quais são islâmicas. A minoria ui- manutenção da paz, na área da Comu-
gure, com cerca de oito milhões, é a mais nidade de Estados Independentes (CEI). A propósito da possibilidade dos EUA
importante. Nesta região tem sido importante o papel decidirem “punir” os culpados através de
Na sua maioria são separatistas e indepen- da OSCE e têm sido muitas as oportu- uma acção militar, há quem entenda que
dentistas, vistos como terroristas pelo nidades de actuação. “punir não, porque os Tribunais é que têm
Governo de Pequim. E o certo é que recor- Depois do ataque terrorista de 11 de competência para punir”.
rem à violência, são islâmicos e admite-se Setembro, a Rússia vem assumindo o papel Mas, o que é facto, é que os EUA
que recebem apoio externo do terrorismo que entende adequado à sua categoria de declararam que iriam actuar militarmente
internacional. O movimento é muito antigo, grande potência. Dialogando directamente contra os terroristas considerados respon-
pois esta província já tinha declarado unila- com os Estados Unidos, respondeu clara e sáveis pelo crime praticado e contra os
teralmente a independência em 1945. afirmativamente à proposta de cooperação Estados que lhes dão guarida ou em que eles
Assim, a China não só manifestou pronta- na acção internacional contra o terrorismo, e se apoiam.
mente a sua solidariedade ao povo ameri- têm vindo a intervir junto dos países da Sem dúvida que os Estados Unidos estão a
cano, como apoia a luta contra o terrorismo. CEI, nomeadamente dos três que têm fron- responder com actos de guerra contra gru-
Mais ainda, em 11 de Outubro chamou a teiras com o Afeganistão (Turcomenistão, pos organizados e contra Estados. Nestas
atenção para as acções terroristas contra o Tajiquistão e Uzbequistão), no sentido de condições estão, como afirmaram, a executar
povo chinês na região de Xinjiang, e pediu a coordenar a participação destes na mesma “acções de guerra punitivas” , que nunca
simpatia internacional para a luta que está a acção internacional. É na verdade um foram, nem serão decididas por tribunais.
travar contra os elementos do Turquestão papel de grande importância e que muito “Punitivas” é a designação destas acções,
Oriental, luta que pretende ver inserida no prestigia, interna e externamente, a actual “punir” é o objectivo imediato. Tentar con-
combate internacional ao terrorismo global. presidência russa. trariar a repetição do inaceitável e melhorar a

8 FEVEREIRO 2002 • REVISTA DA ARMADA