Page 47 - Revista da Armada
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•Xinjiang
segurança internacional, é o objectivo último. Mas no ataque de 11 de Setembro tudo que permite uma muito maior eficácia pela
É evidente que há uma “ética” da guerra, surpreendeu e foram tão importantes as quase instantaneidade das fases dete-
por paradoxal que pareça, que fala do uso diferenças em relação às acções terroristas cção/ataque. Segundo, o controlo dos
proporcional da força e, sobretudo, que até aqui praticadas, que justificou plena- pequenos grupos militares terrestres com
defende a preservação das populações civis. mente a consideração de que se tratou de apoio de meios aéreos sofisticados foi
Esta ética perdeu-se na Segunda Grande um acto de guerra. muito eficaz e adequado tanto ao tipo de
Guerra, com o bombardeamento aéreo e sis- Estranhamente, o mais poderoso Estado acções planeadas, como ao meio em que se
temático das cidades da retaguarda, mas tem do mundo viu-se confrontado com a desenvolveram.
havido vontade de a recuperar, apesar da necessidade de declarar guerra não a outro Duas últimas considerações.
dificuldade que representa o poder indiscri- Estado mas a um indivíduo invisível e a Poderemos ser críticos em relação ao
minado das novas armas de destruição ma- uma organização que eram protegidos por comportamento dos EUA, nomeadamente
ciça. Por isso tem sido privilegiado o uso das um Governo irresponsável não reconheci- quanto aos critérios da sua acção externa.
armas inteligentes. do internacionalmente. Mas, ao ver o içar da Bandeira americana
E mais difícil ainda será recuperar a ética Falava-se há muito de terrorismo inter- sobre os escombros das torres gémeas, ao
quando o adversário é um homem rodeado nacional, mas este conceito estava somente ver a postura dos cidadãos e o toque do
por um pequeno grupo protegidos por um ligado à diferença de nacionalidade entre o Hino na abertura da Bolsa de Nova Iorque,
Estado, mas que são capazes de provocar, agressor e o agredido ou de qualquer deles três dias depois da catástrofe e ali mesmo
num só plano agressivo, mais mortos civis em relação à bandeira do território onde o ao lado, e ao ver a multidão em Times
do que os mortos militares sofridos nas últi- acto terrorista era praticado. Podia tam- Square na passagem do ano 2001/2002,
mas guerras convencionais. bém indicar o relacionamento e os apoios vejo os valores “patriotismo” e “soli-
frequentes entre os grupos terroristas de dariedade nacional” que sustêm uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS diversas nacionalidades. Mas a Al-Qaeda é superpotência. Os que desrespeitam ou
Mesmo numa época de acelerado desen- uma verdadeira multinacional com uma rejeitam aqueles valores pertencerão sem-
volvimento tecnológico não é o aparecimen- rede de sucursais em todos os paraísos da pre às potências restantes.
to de novas armas no início das guerras que violência. E não se conhecem bem ainda a Por outro lado, as análises da situação
vem surpreendendo, mas sim o modo como estrutura nem as filiais desta rede. Sabe-se pós 11 de Setembro levam ao pessimismo,
são usadas as capacidades conhecidas. contudo que é maior e mais organizada do quer pela insegurança que apontam, quer
Hitler bem deu a conhecer a modernização que se imaginava. pela dificuldade de combater as causas,
das suas Forças Armadas, mas surpreendeu Consequentemente e ao contrário do quer ainda pela frustração de ter que tro-
com o conceito de guerra relâmpago que que vinha sendo usual, a ameaça é agora car liberdades laboriosamente conquis-
rapidamente lhe permitiu submeter todos os provável e imprevisível, quanto à natureza, tadas pela segurança que estamos em risco
Estados, de Paris aos arredores de Moscovo quanto à origem, quanto ao alvo. de perder. Porém, com alguns custos e
e da Noruega ao deserto da Líbia. O Presidente Bush logo informou que muito engenho, o Homem sempre venceu
Recentemente já se conheciam muitos esta guerra diferente ia ser uma guerra as grandes crises. Os maiores saltos em
tipos de acções terroristas, desde o desvio de prolongada. Sendo assim, é cedo para tirar frente da Humanidade resultaram da luta
aviões aos ataques individuais suicidas, do conclusões ou lições. para vencer os maiores obstáculos.
sequestro de passageiros à ameaça de fazer No entanto, dois aspectos operacionais
explodir um avião sobre Paris, ou à utiliza- já se podem salientar: Primeiro, os meios
ção de armas de destruição maciça e indis- aéreos de detecção e colheita de infor- António Emílio Sacchetti
criminada, etc. mações não tripulados já estão armados, o VALM
REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2002 9