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Satélites de Comunicações
                      Satélites de Comunicações


            Como seria o Mundo de Hoje sem eles?
             Como seria o Mundo de Hoje sem eles?



         O ESPAÇO                                             CONCEITO DE
                                                              SATÉLITE DE
           Misterioso e fascinante, o “espaço” continua a maravilhar-nos e a  COMUNICAÇÕES
         por ele deixar fluir a nossa imaginação, continuando a alimentar
         dúvidas e ficções. Dos tempos de míticas interpretações aos dias  Um satélite de
         em que as caminhadas cientítficas nos trouxeram certezas, esse  comunicações em
         “vazio”, que em serenas noites de luar contemplamos extasiados,  termos conceptuais
         alberga hoje uma infinidade de objectos artificiais que nele flu-  funciona como um
         tuam ou se deslocam e cuja presença se manifesta no nosso quo-  repetidor, o qual re-
         tidiano sem que de tal nos apercebamos ou sequer suspeitemos.  cebe sinais modula-
           Esses objectos, os satélites artificiais da Terra concebidos pelo  dos numa determi-
         Homem, remontam aos anos 50, altura em que o primeiro  nada frequência e  Satélite no espaço.
         satélite, o Sputnik-1, foi lançado para o espaço – 4 de Outubro de  retransmite-os numa
         1957 -, descrevendo uma órbita à volta da Terra em 96 minutos e  outra, de uma forma amplificada.
         emitindo sinais de rádio (conhecidos pelos “beep- beep”) facil-  Uma estação em Terra “foca” o satélite e irradia para o espaço
         mente detectáveis por rádio amadores. As suas emissões  (uplink) sinais, mais ou menos potentes, dependendo da distância
         duraram 21 dias embora a sua permanência no espaço se tivesse  que os separa e do volume de informações que esse sinal com-
         prolongado por alguns meses, desintegrando-se depois na  porta. O satélite em órbita processa esses sinais e devolve-os à
         atmosfera.                                           Terra (downlink), onde milhões de receptores a milhares de
                                                              quilómetros de distância da sua origem os podem receber.
           Aquilo que na altura foi usado pelos soviéticos como uma  Embora outros meios de comunicação concorram com os
         forma de promoção nacional, evidenciando ao mundo a  satélites em termos económicos e de capacidade, como os cabos
         supremacia tecnológica, foi, igualmente sem dúvida, um passo  de fibra óptica, a sua mobilidade e a sua posição como que num
         gigantesco no caminho a percorrer pela Humanidade. Esta onda  mastro alto a olhar a Terra, fazendo chegar os sinais aos locais
         de choque, tal foi o impacte que a notícia causou em todo o plane-  mais recônditos, farão com que os satélites viagem connosco
         ta, fez despertar o mundo ocidental para uma realidade da qual  neste mundo das comunicações.
         não podia estar ausente: a conquista do espaço. A era espacial
         tinha começado e o mundo das comunicações iria revolucionar-  ONDE “MORA” UM SATÉLITE?
         -se. O que até então pertencia à ficção, tornou-se realidade no
         decurso de uma vida humana: o mundo e as pessoas iriam pas-  Os mecanismos de lançamento e de posicionamento de um
         sar a estar mais próximas. Assim o previu A. C. Clarke em 1945,  satélite no espaço, o que dele se espera, qual a superfície terrestre
         num artigo intitulado “Extraterrestrial Relays” publicado no  que virá por ele a ser coberta e os seus custos estão intrinsecamente
         Wireless World Magazine, ao chamar à atenção para a possibili-  ligados.
         dade de poderem vir a existir satélites em órbita à volta da Terra  De uma forma aproximada, podemos afirmar que a uma alti-
         com uma velocidade orbital tal, que daria a ilusão a um obser-  tude próxima dos 300kms, um satélite “observa” cerca de 2.3% da
         vador terrestre de tal satélite estar parado no espaço. Este con-  superfície terrestre. Devemos, contudo, ter presente que qualquer
         ceito comprovou-se como efectivamente válido, mas levou  objecto colocado a altitudes inferiores a 1.600 kms demora aproxi-
         alguns anos a ser concretizado. A dificuldade maior para a reali-  madamente duas horas a percorrer a sua órbita em torno da Terra.
         zação desse sonho prendia-se com o lançamento dos satélites e a  Assim, os chamados satélites de órbita baixa (LEO- Low Earth
         forma como vencer a distância até estes chegarem à posição de  Orbit) colocam-nos uma grande limitação que poderá ser uma
         órbita. O uso de foguetes propulsores foi já nesse artigo objecto  vantagem noutras circunstâncias: o de “varrerem” uma superfície
         da sua análise.                                      terrestre durante um período de tempo muito limitado – durante
                                                              alguns minutos apenas. Se tivermos presente que quanto maior for
                                                              a altitude a que um satélite se encontrar maior duração terá a sua
                                                              órbita à volta da Terra, isso permite-nos concluir que qualquer
                                                              receptor terrestre será “iluminado” por esse satélite por um período
                                                              de tempo mais dilatado. Sabe-se que um objecto colocado a uma
                                                              altitude de aproximadamente 36.000kms sobre o equador demora
                                                              24 horas a percorrer uma órbita completa em torno da Terra. Esta
                                                              órbita designa-se por “Órbita Geoestacionária” e, a esta altitude, o
                                                              satélite projecta um feixe, “iluminando” 42.4% da superfície ter-
                                                              restre de uma só vez, donde apenas 38% são aproveitados devido
                                                              a limitações angulares das antenas de recepção. Três satélites em
                                                              órbita geoestacionária distanciados entre si de 120º asseguram
                                                              uma cobertura total da superfície terrestre. A excepção reside nos
                                                              pólos para os quais há satélites com órbitas próprias.
                                                               Podemos, assim, concluir que esta órbita será a utilizada pelos
                                                              satélites de comunicações, que se pretendem “visíveis” 24 horas
                                                              por dia.
                                                               Não se pode no entanto menosprezar a importância dos satélites
         Satélites em órbita Geoestacionária.                 de órbita baixa, os quais desempenham um papel importantíssimo
         10 FEVEREIRO 2002 • REVISTA DA ARMADA
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