Page 48 - Revista da Armada
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Satélites de Comunicações
Satélites de Comunicações
Como seria o Mundo de Hoje sem eles?
Como seria o Mundo de Hoje sem eles?
O ESPAÇO CONCEITO DE
SATÉLITE DE
Misterioso e fascinante, o “espaço” continua a maravilhar-nos e a COMUNICAÇÕES
por ele deixar fluir a nossa imaginação, continuando a alimentar
dúvidas e ficções. Dos tempos de míticas interpretações aos dias Um satélite de
em que as caminhadas cientítficas nos trouxeram certezas, esse comunicações em
“vazio”, que em serenas noites de luar contemplamos extasiados, termos conceptuais
alberga hoje uma infinidade de objectos artificiais que nele flu- funciona como um
tuam ou se deslocam e cuja presença se manifesta no nosso quo- repetidor, o qual re-
tidiano sem que de tal nos apercebamos ou sequer suspeitemos. cebe sinais modula-
Esses objectos, os satélites artificiais da Terra concebidos pelo dos numa determi-
Homem, remontam aos anos 50, altura em que o primeiro nada frequência e Satélite no espaço.
satélite, o Sputnik-1, foi lançado para o espaço – 4 de Outubro de retransmite-os numa
1957 -, descrevendo uma órbita à volta da Terra em 96 minutos e outra, de uma forma amplificada.
emitindo sinais de rádio (conhecidos pelos “beep- beep”) facil- Uma estação em Terra “foca” o satélite e irradia para o espaço
mente detectáveis por rádio amadores. As suas emissões (uplink) sinais, mais ou menos potentes, dependendo da distância
duraram 21 dias embora a sua permanência no espaço se tivesse que os separa e do volume de informações que esse sinal com-
prolongado por alguns meses, desintegrando-se depois na porta. O satélite em órbita processa esses sinais e devolve-os à
atmosfera. Terra (downlink), onde milhões de receptores a milhares de
quilómetros de distância da sua origem os podem receber.
Aquilo que na altura foi usado pelos soviéticos como uma Embora outros meios de comunicação concorram com os
forma de promoção nacional, evidenciando ao mundo a satélites em termos económicos e de capacidade, como os cabos
supremacia tecnológica, foi, igualmente sem dúvida, um passo de fibra óptica, a sua mobilidade e a sua posição como que num
gigantesco no caminho a percorrer pela Humanidade. Esta onda mastro alto a olhar a Terra, fazendo chegar os sinais aos locais
de choque, tal foi o impacte que a notícia causou em todo o plane- mais recônditos, farão com que os satélites viagem connosco
ta, fez despertar o mundo ocidental para uma realidade da qual neste mundo das comunicações.
não podia estar ausente: a conquista do espaço. A era espacial
tinha começado e o mundo das comunicações iria revolucionar- ONDE “MORA” UM SATÉLITE?
-se. O que até então pertencia à ficção, tornou-se realidade no
decurso de uma vida humana: o mundo e as pessoas iriam pas- Os mecanismos de lançamento e de posicionamento de um
sar a estar mais próximas. Assim o previu A. C. Clarke em 1945, satélite no espaço, o que dele se espera, qual a superfície terrestre
num artigo intitulado “Extraterrestrial Relays” publicado no que virá por ele a ser coberta e os seus custos estão intrinsecamente
Wireless World Magazine, ao chamar à atenção para a possibili- ligados.
dade de poderem vir a existir satélites em órbita à volta da Terra De uma forma aproximada, podemos afirmar que a uma alti-
com uma velocidade orbital tal, que daria a ilusão a um obser- tude próxima dos 300kms, um satélite “observa” cerca de 2.3% da
vador terrestre de tal satélite estar parado no espaço. Este con- superfície terrestre. Devemos, contudo, ter presente que qualquer
ceito comprovou-se como efectivamente válido, mas levou objecto colocado a altitudes inferiores a 1.600 kms demora aproxi-
alguns anos a ser concretizado. A dificuldade maior para a reali- madamente duas horas a percorrer a sua órbita em torno da Terra.
zação desse sonho prendia-se com o lançamento dos satélites e a Assim, os chamados satélites de órbita baixa (LEO- Low Earth
forma como vencer a distância até estes chegarem à posição de Orbit) colocam-nos uma grande limitação que poderá ser uma
órbita. O uso de foguetes propulsores foi já nesse artigo objecto vantagem noutras circunstâncias: o de “varrerem” uma superfície
da sua análise. terrestre durante um período de tempo muito limitado – durante
alguns minutos apenas. Se tivermos presente que quanto maior for
a altitude a que um satélite se encontrar maior duração terá a sua
órbita à volta da Terra, isso permite-nos concluir que qualquer
receptor terrestre será “iluminado” por esse satélite por um período
de tempo mais dilatado. Sabe-se que um objecto colocado a uma
altitude de aproximadamente 36.000kms sobre o equador demora
24 horas a percorrer uma órbita completa em torno da Terra. Esta
órbita designa-se por “Órbita Geoestacionária” e, a esta altitude, o
satélite projecta um feixe, “iluminando” 42.4% da superfície ter-
restre de uma só vez, donde apenas 38% são aproveitados devido
a limitações angulares das antenas de recepção. Três satélites em
órbita geoestacionária distanciados entre si de 120º asseguram
uma cobertura total da superfície terrestre. A excepção reside nos
pólos para os quais há satélites com órbitas próprias.
Podemos, assim, concluir que esta órbita será a utilizada pelos
satélites de comunicações, que se pretendem “visíveis” 24 horas
por dia.
Não se pode no entanto menosprezar a importância dos satélites
Satélites em órbita Geoestacionária. de órbita baixa, os quais desempenham um papel importantíssimo
10 FEVEREIRO 2002 • REVISTA DA ARMADA