Page 346 - Revista da Armada
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a Sicília, Nelson manda reunir
                                                                                        todos os navios, entregando ao
                                                                                        Marquês o comando de uma di-
                                                                                        visão e ficando ele próprio a co-
                                                                                        mandar a outra. É nesta altura
                                                                                        de convívio mais próximo que
                                                                                        as relações entre ambos se tor-
                                                                                        nam mais amistosas. Quanto ao
                                                                                        temido ataque, nunca chega a
                                                                                        verificar-se (13).
                                                                                         Em finais de Junho a esqua-
                                                                                        dra anglo-lusa chega a Nápoles
                                                                                        e desembarca forças para ajudar
         A esquadra do Marquês de Nisa saúda os navios de Nelson, ao largo de Malta.    as tropas napolitanas do Carde-
                                                                                        al Ruffo a tomar conta da cida-
         hierárquico, pois o comandante de um dos  a assegurar a livre passagem dos seus na-  de. Nessa acção, que incluiu a tomada de
         navios portugueses – o inglês Simpson Mi-  vios no Estreito, mas a França seguia uma  Cápua e de Gaeta, toma parte um impor-
         tchell – tinha o posto de Chefe de Divisão  política semelhante (já Portugal, habituado  tante efectivo da Brigada Real de Marinha,
         (conforme atrás referido, as promoções na  a fazer valer os seus direitos pela força das  não inferior ao contingente inglês.
         Marinha Portuguesa eram mais rápidas do  armas, não tinha quaisquer escrúpulos em   A 25 de Agosto, D. Domingos vê ser-lhe,
         que as na sua congénere britânica). Quan-  arcar com a impopularidade de uma acção  novamente, confiado o bloqueio de Malta,
         do, entre Março e Junho de 1799, a esqua-  de diplomacia armada junto de um daque-  desta vez à frente de uma força combinada.
         dra portuguesa é dispersa em vários ser-  les estados). Nelson aceita a oferta e é, então,  Mas eis que a 9 de Outubro o bergantim “Gai-
         viços de assistência à força naval britânica,  enviada a nau “Afonso de Albuquerque”,  vota do Mar” chega com ordens do Ministro
         surge, de novo, o problema das inversões  sob o comando do
         hierárquicas. Para obviar às reclamações,  chefe de divisão Do-
         Nelson emite, a 13 de Abril, um inédito  nald Campbell, que,   Carta de Nelson a Lord Spencer,
         despacho, de acordo com o qual os chefes  após uma clara de-  Primeiro-Lorde do Almirantado Britânico
         de divisão da esquadra portuguesa pas-  monstração de força   “Vanguard”, Liorne, 29 de Novembro de 1798
         sam a ser considerados hierarquicamen-  (com visíveis danos
         te inferiores aos seus Capitães-de-Mar-e-  “colaterais” do lado   Estou tão habituado a escrever livremente o que penso, que não con-
         Guerra (a quem ele orgulhosamente chama  mourisco), coroa de   seguirei exprimir-me numa carta formal. Confio que Vossa Senhoria me
         “our good brave Captains”).        sucesso as suas dili-  não denunciará, caso eu exponha com demasiada liberdade o que vejo e
                                                                o que sei.
           Nesse espaço de tempo, as tropas napoli-  gências. Dali a pou-  Em minha opinião, a esquadra portuguesa é de uma total inutilidade.
         tanas, após os primeiros êxitos, tinham so-  co mais de um mês,   O Marquês de Nisa tem, decerto, as melhores intenções, mas ignora to-
         frido sérios reveses e os franceses tinham  o Marquês voltaria a   talmente os assuntos do Mar. Estou à espera de os ouvir dizer que sofreram
         avançado sobre Nápoles, cujo rei empre-  oferecer os seus ser-  todo o tipo de azares e que regressaram a Nápoles.
                                                                  Todos os seus comandantes são comodoros e é ridículo ouvi-los falar
         endera a fuga. Nelson dera ao Marquês de  viços, desta vez jun-  dos seus postos e da impossibilidade de servirem sob as ordens dos meus
         Nisa instruções para queimar a esquadra na-  to do bei de Tunes,   bons e bravos capitães-de-mar-e-guerra. No entanto, os homens que tal
         politana no caso de não haver tempo para a  cujos navios conti-  afirmam são ingleses.
         reaparelhar e trazê-la para mar aberto. Face  nuavam a flagelar a   Digo que Nisa é, de longe, o melhor de entre eles, e espero manter com
         à urgência da situação (tinha, já, embarcado  navegação inglesa.   ele uma harmoniosa relação.
         vários refugiados, entre os quais um gran-  Seria, para o efeito,
         de número de cardeais vindos de Roma), o  enviado o Comandante Pinto Guedes, che-  da Marinha para que a esquadra portugue-
         almirante português optara por esta última  fe do estado -maior da força portuguesa, a  sa regresse a Lisboa. Face aos insistentes pe-
         solução. Como o rei de Nápoles se mostra-  bordo do brulote inglês “Stromboli”.  didos do seu camarada britânico que, desta
         ra desagradado com este desfecho, Nelson   Em Maio, ao tomar conhecimento da  feita, não lhe regateia elogios, o Marquês re-
         imputara aos portugueses toda a responsa-  vinda de uma esquadra francesa para o  tarda a sua partida até 13 de Dezembro, al-
         bilidade da decisão, sem se atrever, porém, a  Mediterrâneo, com o intento de se juntar  tura em que os seus navios são rendidos, no
         acusá-los abertamente de negligência.  a uma outra, espanhola, para, juntas, ata-  bloqueio, por navios ingleses. Antes de partir
           Não obstante estes desentendimentos,  carem Minorca – onde estava sediado o  recebe uma carta de agradecimento do Con-
         Nisa continua a mostrar-se solícito e, em  comando britânico do Mediterrâneo – e  gresso de Malta e uma menção de apreço da
         Abril de 1799, oferece a                                                           Rainha de Nápoles. Dirige-
         Nelson os seus préstimos                                                           se, então, a Trieste.
         para convencer o bei de                                                             Ali chega, em Janeiro
         Tripoli a abrir as hostilida-                                                      de 1800, vindo de Lisboa,
         des com a França – através                                                         um comboio de reabaste-
         do apresamento dos navios                                                          cimento com mantimentos
         franceses surtos naquele                                                           e dinheiro para a esqua-
         porto e aprisionamento                                                             dra. Os navios iniciam o
         dos cidadãos gauleses que                                                          regresso a 12 de Feverei-
         ali se encontrassem -, uma                                                         ro, chegando ao seu desti-
         vez que os ingleses não ti-                                                        no em finais de Abril.
         nham tido sucesso nas suas                                                          Tendo recebido oficial-
         tentativas. Refira-se que a                                                         mente o reconhecimen-
         Inglaterra mantinha rela-                                                          to da Coroa Britânica, o
         ções diplomáticas com os                                                           Príncipe Real agracia o
         estados barbarescos do                                                             Marquês Nisa em carta
         Norte de África, de modo   A ilha de Malta, onde, por duas vezes, o Marquês de Nisa conduziu um bloqueio naval.  régia de 6 de Junho.

         20  NOVEMBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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