Page 347 - Revista da Armada
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empenhava todas as suas capacidades para - SACHETTI, António Emílio Ferraz, “A Posição de
honrar a sua Pátria. Portugal no Mundo e os Seus Reflexos nas FA”, Janus
A sua brilhante carreira foi abrupta e preco- 98 (suplemento especial), Lisboa, Público-UAL, 1998
- VÁRIOS, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasi-
cemente interrompida quando, de regresso a leira, Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia,
Portugal, foi surpreendido em Konigsberg por 1967, vol. 18, pp.761-764 (NISA, Marqueses de)
um ataque de varíola, ao qual não resistiu. A Agradecimentos
30 de Junho de 1802, longe do solo pátrio, o Ao Sr. Almirante Ferraz Sachetti pelos prestáveis
grande Marquês de Nisa, Almirante da Esqua- esclarecimentos.
dra portuguesa e gentil-homem da câmara de
D. Maria I, deixava o mundo dos vivos. Notas
(1) Na categoria de “voluntário exercitante” (cria-
Na sua curta – mas intensa - vida atingira da em 1774), equivalente a grumete, mas com acesso
o topo de uma carreira naval recheada de su- à carreira de oficial.
cessos e recebera as maiores honrarias que a (2) Esta esquadra, como o nome indica, destinava-
sua bravura, a sua lealdade e a sua virtude se à protecção da costa continental portuguesa. Por-
tugal dispunha, ainda de outras duas esquadras: a do
lhe haviam granjeado, entre as quais a Grã- Atlântico, destinada a proteger as linhas de navega-
cruz da Ordem de S. Januário de Nápoles, a ção entre a Europa e a América, e a do Estreito, que
comenda da Ordem de Santiago, o grau de fazia a protecção da navegação entre o Mediterrâneo
Cavaleiro de Malta e a Granada de Ouro das e o Atlântico e conduzia acções contra os “ninhos” de
campanhas do Rossilhão e Catalunha. piratas que infestavam o Norte de África.
(3) Este posto, ainda referido ao tempo em que
Fiel servidor da Coroa, não admitindo grande parte dos oficiais de marinha era oriunda do
nada que pudesse ferir minimamente a sua Exército, foi em 1797, integrado no posto de Vice-
dignidade ou a honra do seu país, nunca se Almirante.
servira da sua alta nobreza para obter favo- (4) Equivalente ao actual posto de Comodoro.
(5) Equivalente a Contra-Almirante, designação
res pes soais. Para os que tiveram a honra de que, mais tarde, viria a grupar os postos de Chefe
servir sob as suas ordens ficava a imagem de de Divisão e de Chefe de Esquadra.
um Comandante firme e disciplinador, mas (6) Que pouco tempo antes (em Junho desse ano)
incansável em velar pelo bem-estar dos seus infligira uma completa derrota à esquadra espanhola
subordinados contra tudo e contra todos, em ao largo do Cabo de S. Vicente, tendo por esse feito
recebido o título de Conde de S. Vicente.
suma, um dos mais ilustres marinheiros que (7) E não só, pois incluía também artilheiros.
a Lusa Terra alguma vez produziu (14). (8) O Terço da Armada Real, que a antecedera, era
Z formado por pessoal do Exército embarcado.
(9) Navio incendiário que, carregado de materiais
Jorge Manuel Moreira Silva inflamáveis ou explosivos, era largado em chamas
1TEN junto dos navios inimigos. Era particularmente efi-
caz contra bloqueios ou esquadras fundeadas. Já no
Bibliografia séc. XVI tinham sido utilizados pelos ingleses contra
- AMARAL, Pedro Miguel Correia do, “Almiran- os navios da Invencível Armada.
te Marquês de Nisa, D. Domingos Xavier de Lima”, (10) Nelson era, na verdade, mais moderno, pois
200 Anos da Companhia de Guardas-Marinhas e da Sua tinha o posto de Contra-Almirante.
A ÚLTIMA MISSÃO Real Academia, Lisboa, Instituto Hidrográfico, Janeiro (11) Para os franceses ficou esta última designação,
de 1985, pp. 175-176 que é o nome da baía onde o combate se travou.
No final de 1800, D. Domingos é nomeado - CRUZ JÚNIOR, A., O Mundo Marítimo Português (12) Acabaria por furar o bloqueio naval inglês,
embaixador na corte do Czar Alexandre I da na Segunda Metade do Século XVIII, Lisboa, Edições deixando para trás o seu exército.
Culturais da Marinha, Setembro de 2002
(13) Surge, no entanto, uma polémica entre Nelson
Rússia, para onde se dirige, ainda a tempo - ESPARTEIRO, António Marques, O Almirante Mar- e o Almirantado britânico por aquele se ter recusado
de assistir à coroação daquele soberano. Ali, quês de Nisa, Edições Culturais da Marinha, 1987 a dirigir-se a Minorca. Supostamente tal recusa teria
a sua gentileza, o seu cavalheirismo e a sua - ESPARTEIRO, António Marques, Três Séculos a ver com o romance vivido entre o almirante e Lady
franqueza, aliados ao seu bom senso e ao seu no Mar (1640-1910), Lisboa, Ministério da Mari- Hamilton, a esposa do cônsul inglês em Nápoles.
(14) Não deixa de ser estranho que nos cursos, co-
tacto diplomático, muito contribuíram para nha, 1974-87 lóquios e conferências sobre História Militar Portu-
- FONSECA, Henrique Alexandre da, “Almirantes
ilustrar o nome de Portugal naquelas remo- Célebres - O Marquês de Nisa”, Revista da Armada, guesa do Século XVIII, esta ilustre figura seja siste-
tas paragens. Na Paz, tal como na Guerra, nº68, Lisboa, Maio de 1977 maticamente esquecida.
Cartas de Nelson ao Marquês de Nisa
“Vanguard”, no mar, 8 de Setembro de 1798, No 2º Bloqueio de Malta
Considero de lamentar, tal como – estou certo – deve considerar V. Exa., que a vos- Palermo, 24 de Outubro de 1799
sa esquadra não se tenha juntado a mim antes de 1 de Agosto, em que nem um úni-
co navio francês nos teria escapado; mas como tal são eventos passados, é necessário Meu Caro Marquês,
olhar em frente para o próximo serviço que possamos prestar à nossa Causa Comum, Desejo ardentemente que Vossa Excelência não pense em abandonar
que, na minha opinião, é evitar que o Exército Francês receba abastecimento por mar Malta antes de eu dispôr de forças adequadas para vos render. Em bre-
a partir de Alexandria. O Comandante Hood explicará, estou certo, as minhas inten- ve teremos pronto um exército para enviar para lá, e eu ainda espero lá
ções nesse aspecto. encontrar-vos, com os navios de Sua Mui Leal Majestade quando a ilha
O Comandante Hood tem instruções para não abandonar Alexandria antes de 30 de se render. Vós fostes o primeiro no bloqueio, e confio que lá estareis na
Setembro, o que excede a duração das suas provisões. Rogo, assim, a V. Exa. que con- altura da rendição.
sidere o benefício de rendê-lo naquela missão até 20 de Outubro, altura em que espero A conduta de Vossa Excelência granjeou-vos a estima e o afecto
ter os navios – assim como o Comandante Hood - prontos para regressar a Alexandria. do governador Ball, das tropas e oficiais britânicos, e de todo o povo
Estou naturalmente, a considerar a previsão mais pessimista, pois espero ter os navios maltês; e dá-me o ensejo de juntar o nome de Nelson ao dos vossos
prontos muito antes daquela data. mais fervorosos admiradores, como oficial e como amigo. Escrevo a
Tendo enviado um Expresso a Constantinopla, tenho motivos para crer que o Grande Ball sobre as operações em terra; ele mostrar-vos-á a carta, pois não
Senhor [sultão] não só enviará um exército para a Síria, mas também nos fará chegar navios posso escrever duas cartas sobre o mesmo assunto.
de guerra, com galés, bombardeiros, etc., para destruir todos os navios em Alexandria. Sir William e Lady Hamilton envim-vos os mais calorosos cum-
Que V. Exa. seja parte integrante destes felizes acontecimentos é o desejo sincero do primentos;
Vosso mui obediente, fiel, humilde servidor E crede-me para sempre vosso reconhecido e afectuoso amigo…
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2004 21