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Curso de Promoção a Oficial General (CPOG) e mação”, uma ”carruagem-força” com três ca- deparando com três parcelas importantes e distin-
o CEMC – na sede do IESM em Pedrouços, já a racterísticas fundamentais: “conjunta” na sua tas – o problema, a condição e a solução.
partir de Novembro, e dos cursos “específicos” aplicação no teatro, “distribuída e ligada em O problema deriva do requisito estratégico,
dos ramos, nomeadamente o CGNG no caso da rede” no desenvolvimento da acção e “decisiva” isto é, que papel e função representam para a
Marinha, nas instalações dos ex-ISNG e Institu- nos resultados e efeitos daquela aplicação, ou respectiva liderança política as forças milita-
to de Altos Estudos da Força Aérea (AEFA) que se melhor, no uso de uma força accionada financei- res nacionais.
mantêm nos respectivos patrimónios. ramente pela motricidade do investimento e a ter A condição assenta na envolvente e ambiente
Admite-se que o próprio CCNG possa ser de correr sobre carris orçamentalmente sustentá- operacionais, e que têm a ver com o panorama
transferido para a sede durante este semestre, a veis e operacionalmente expedicionários. estratégico, incluindo as capacidades tecnológi-
que corresponde a sua actual duração, depois Desse paradigma não resisto a uma rápida cas que poderão ser usadas contra nós ou o am-
do seu arranque na Junqueira a partir da próxi- incursão no campo doutrinário do “conjunto”, biente político nas potenciais áreas de conflito.
ma segunda-feira. acicatado pela mistificação, desfocagem se se A solução é o que constitui a antevisão das fu-
Valha a verdade que a Marinha há largo tempo quiser, de um conceito por vezes desvirtuado e turas guerras e formas de combate, ou seja, aque-
vinha reconhecendo o mérito e a oportunidade de um slogan não raras vezes identificado com las características e capacidades que se imagina
de uma reforma no sector do ESM. poderes “fetiches” de erróneos economicismos orientarem as operações conjuntas no futuro.
Precisamente por isso e porque va- Então temos como certo que a fina-
loriza os pressupostos básicos de qual- lidade será fazer evoluir o “conjunto”
quer processo reformador, designada- (“jointness”) da importante e pesada ta-
mente a racionalização de estruturas, refa de desconflituar a concorrência de
a economia de meios e a optimização capacidades próprias dos ramos e for-
de recursos, procurou posicionar-se de ças afins (aviação naval, fuzileiros, por
forma construtiva nos trabalhos do Con- exemplo) para a dignificante missão de
selho Coordenador do ESM (CCESM), integração do “conjunto” (“jointness”)
recém -criado na dependência do Mi- até ao nível mais baixo em que o am-
nistro da Defesa Nacional (MDN), e biente operacional de intervenção lhe
que desenvolveu os projectos de Decre- confira sentido.
to-Lei (DL) e Portaria (PT) respeitantes à Explicitou Donnald Rumsfeld, em Ja-
criação e regulamentação do IESM. neiro de 2002, que “.... os “comandan-
Essa pro-actividade foi temperada tes conjuntos” não irão combater com
pela abertura, franqueza e transparên- os sistemas da Marinha, do Exército ou
cia no debate e, como não poderia dei- A conhecida Biblioteca do ISNG. da Força Aérea. O que eles pretenderão
xar de ser, pela defesa das especificida- é “combater com sistemas conjuntos e
des e interesses que a qualificação dos quadros e milagrosos efeitos. Por isso, a necessidade de inter-operáveis. Terão de contar com todas as ca-
superiores da Marinha determina e as suas ma- prevenir e clarificar algumas ideias e preconceitos pacidades, não apenas as que qualquer dos ra-
trizes histórica, cultural e identitária obrigam. sobre o “conjunto” (“joint”), e que terá mais a ver mos recomende, mas simplesmente todas, e fazer
Mas essa postura pro-activa traduziu também com o espírito do que sobre o processo em si. com que tal aplicação seja coerente e racional, e
um outro espírito, o do sentimento e percepção Dizia em 2002, o General Giorgios Antonako- dessa forma serem capazes de fazer incidir o po-
da necessidade de mudança, em ambiente de poulos, CEMGFA grego, que as FA´s do seu país tencial de combate e o poder de fogo num deter-
escassez de recursos que não pode deixar de estavam a ser reorganizadas com novas estru- minado alvo e de uma específica forma ...”.
condicionar as opções e as escolhas. turas, em ordem a conseguir uma melhor co- Este é o efectivo sentido e alcance do “conjun-
Os nossos aliados foram mais lestos a concre- operação entre os três ramos, para logo alertar to” que por vezes se deturpa ou desvirtua, quan-
tizar esta mudança, com a sabedoria do respeito da impossibilidade de se contar com resultados do, por desígnios menos claros, se deslocaliza do
pelas idiossincrasias modeladas por aqueles re- imediatos. Reconhecia ele que o “busilis” é o teatro de operações tal conceito.
ferenciais próprios de cada uma das partes en- “espírito do conjunto”. Trata-se de um objectivo Acresce que se há forças que de há muito co-
volvidas no processo e com outra prodigalidade prolongado e cujo sucesso reclama um ambien- nhecem os benefícios, sinergias e condicionan-
de recursos que permitiu, na maior parte dos te operacional climatizado por forte espírito de tes do “conjunto”, e já agora do “combinado”,
casos, manter os Institutos dos ramos. Indepen- confiança e respeito mútuo. com as suas componentes “esquadra”, “avia-
dentemente dessa coabitação, reconheceram Atingir, em pleno, esse ambiente e esse espí- ção” e “fuzileiros” navais, e a tradicional voca-
facilmente que o sucesso da iniciativa assentava rito, só será exequível em tempo demorado re- ção de cooperação com forças congéneres de
na observância daquelas singularidades e assim querendo grande esforço e transparência de pro- outros países e integração em forças multinacio-
deverá acontecer entre nós. pósitos, como aconteceu na maioria dos países nais, são, como é fácil descobrir, precisamente
A Marinha pretende que a nova instituição aliados. Esta é uma útil e sensata chamada de as Marinhas através daquelas componentes de
seja bem sucedida, mas tem por certo que esse atenção que bem alerta contra apetências hege- força, e em especial as suas forças navais. Estas,
sucesso se correlaciona fortemente com requisi- mónicas ou voluntaristas, bem ou mal intencio- mais do que quaisquer outras, têm plena cons-
tos de qualidade, eficácia, equidade, confiança nadas ou disfarçadas. ciência, estão bem cientes da nova natureza do
e boa fé. Esquecê-lo pode ser contra-producen- Acontece que no processo de “transforma- conflito, ameaças e missões, assim como do va-
te, senão mesmo desastroso, com desfecho que ção de força conjunta” convergem conceitos lor da multinacionalidade, parcerias e coope-
a ninguém pode interessar. impulsionadores dessa reforma e que inclui ração internacional.
Embora amplamente conhecido, lembrarei QG´s conjuntos permanentes ou conjunturais, Em tempo de conclusão permitam-me recor-
rapidamente o novo paradigma das FA´s. Nesse em função da rotina, do emprego e dimensão rer alegoricamente a um célebre desempenho
arquétipo deve merecer ponderação adequada da força, da colaboração íntima com organiza- teatral que povoa a nossa memória, onde se afir-
a questão cultural, como resultado de um so- ções e agências civis, da avaliação da situação mava que “as árvores não se abatem; as árvores
matório de práticas, costumes e mentalidades, operacional em rede e do modelo de “opera- morrem de pé”.
que hoje continuam a funcionar em cada um ções baseadas nos efeitos” a produzir pela força Com a presença dos nossos convidados e
dos ramos, por maior que seja a realidade e o conjunta, onde se inscreve o conceito de “rapid amigos, não temos dúvidas de que será assim
discurso da acção conjunta (“joint”). decisive operations”(RDO). que iremos encerrar, com o sabor doce de ter-
Poderemos enunciar em poucas palavras e Esse conceito operacional conjunto tem sub- mos chegado ao coração da Marinha e de nela
figurativamente esse paradigma. Trata-se de lo- jacente uma visão prospectiva de como as forças se despertar já o sentimento, genuinamente
comover sob tracção da máquina da “transfor- conjuntas conduzirão as futuras operações, aí se luso, da saudade.
12 NOVEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA