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Mas o português discernido, determinado e já esquecidos mas igualmente relevantes, como dicional recurso ao “outsourcing” de qualifica-
confiante reconhece que é imperioso soltar uma a invasão indiana do Estado Português da Índia, dos docentes e conferencistas da comunidade
outra consciência, a da modernidade, com apos- que de perto e profundamente nos abalou, tudo académica e da Administração Pública, a par de
ta na inovação e no futuro, na mudança reforma- isto a enfileirar com a obtenção de sede própria iniciativas de aperfeiçoamento e melhoria das
dora para estar à altura dos desafios e da compe- e independência orgânico-admi nistrativa do Insti- condições de trabalho oferecidas aos nossos es-
tição. Só esse pode ser o nosso ânimo e estado tuto, nas suas actuais instalações da Junqueira. tudantes, principal razão de ser da acção e do
de alma, porque só assim perscrutaremos lucida- Aproveito para um sincero preito de home- esforço que a missão nos responsabiliza.
mente o futuro, com acrescida confiança porque nagem a um grande mestre desta casa, recen- Alertava o Padre Fernando de Oliveira na sua
sustentada e temperada pela esperança, não con- temente desaparecido do nosso convívio – o “Arte da guerra do mar”: “.... do mal esperamos
fundível com ingenuidade ou impreparação. Comandante Virgílio de Carvalho. A ele se ficou emenda, e do bem arreceamos perda ....”.
De facto, admitimos que a tradição seja su- a dever, em boa medida, a escola que desen- Não vamos esquecer o conselho, antes com
plantada pelos tempos de mudança, o que não espírito aberto e afeito à mudança, abraçando
invalida um espaço de homenagem ao passado com entusiasmo crítico esta nova viagem no ESM,
e à memória futura, conjugando-se numa razão com a esperança que não se verifiquem abusos
adicional para esta celebração. nem se cometam erros de experiências menos
Muitos países têm mudado nestes últimos bem sucedidas que ameacem ruptura. Não pre-
anos e hoje, estar actualizado passa, não por tendemos esse desenlace mas também não des-
levar o passado para o futuro, mas ao contrário denhamos reacção a comportamentos desviantes
- por projectar um futuro exequível e assim en- do interesse comum, conjunto e singular.
tender o que tem de ser feito no presente. Permitam-me uma mensagem final: o corpo
Hoje um país faz-se e sobrevive em função pode morrer, mas o espírito, esse prevalece, não
da sua capacidade de ser distinto dos outros no acaba nem falece!
mundo globalizado. E o que mais influencia o Como atrás citei, “... as árvores também se
que cada um de nós faz num dado contexto é abatem ...”, mas o Almirante CEMA quis que
o entendimento colectivo e partilhado desse esta morresse de pé e dignamente.
mesmo conceito. Foi o que tentámos com esta sessão e cúmpli-
Para isso e no âmbito das FA´s são necessários ce companhia convidados e camaradas, bons
quadros capazes, formados e alinhados com amigos. Com uma certeza e determinação – a
novos desafios, nivelados pelas boas práticas e a Marinha estará, com as suas virtudes e defeitos,
actualização que os nossos parceiros reforçada- na primeira linha de construção reformadora e
mente exibem. Para tal desiderato releva como da modernidade, porque sempre foi essa a sua
prioritária a moldura educativa onde se inscreve postura modelada pela histórica descoberta do
o ESM, no respeito pela matriz cultural de cada Vitral da escadaria do Instituto. mundo e do outro, e porque sempre procurou,
elemento e parte do todo. como é timbre da sua cultura de serviço que não
Em nome dessa exigência é legítimo ques- volveu os conceitos que operacionalizaram a de poder, contribuir para a defesa do país e as-
tionar: mas afinal que se espera desta iniciativa “maritimidade” e a triangulação estratégica por- sim melhor desempenhar o seu papel e oferecer
de mudança? tuguesa, com a sistematização do consequente utilidade à comunidade que se destina servir.
Ao fim e ao cabo, uma esperança de encon- pilar atlântico no reposicionamento do país de- Até por essa idiossincrasia não pode dispen-
trar respostas sérias e sólidas para prioridades e duzível de um conceito estratégico nacional. sar um sentido crítico e de rejeição pelo que de
necessidades próprias de uma agenda de Defe- Assim e com o nosso ilustre camarada e aca- enganoso, manobreiro ou erróneo se perfilar. Só
sa e evitar rupturas desencadeadas por eventuais démico também, se foi fazendo a viagem e aqui esta pode ser a atitude consentânea com a inteli-
tentativas de imposição de estratégias alheias. escalámos, cumprindo uma rota de que a Ma- gência livre e a devoção incondicional dos seus
E ainda que tudo corra aparentemente bem, rinha se pode orgulhar. Mas se ela e os seus ofi- servidores, homens e mulheres, à causa pública.
mesmo assim será útil não esquecer o adágio ciais estão orgulhosos do nosso Instituto, sabem Assim será, não me resta dúvida.
naval: “calmaria e mar banzeiro, acautela-te também a sustentada validade do preceito “la- Quanto ao nosso Instituto permitam-me que
marinheiro” bor omnia vincit improbus”, o trabalho perseve- conclua, reproduzindo o que recentemente afir-
Afirmei ser hora de mudança, mas não o deixa rante e atento que tem pela frente, como Virgílio mei perante a guarnição:
de ser, também, de homenagem e de memória. tornou proverbial em fragmentos de dois versos “A Marinha guardá-lo-á na sua História e na
De homenagem ao passado, na pessoa dos das “Geórgicas”. sua Memória, os Marinheiros no seu coração”
seus antigos Directores, Professores e elementos Hoje, como ontem, mais uma vez nos pre- Neste tempo e circunstância, num tempo atri-
das respectivas guarnições. paramos para uma nova escala de mudança, bulado que tem de ser também de esperança
Foi uma plêiade de ilustres antecessores, continuando a singradura com novos modelos no nosso devir histórico, a presença do Coman-
muitos anónimos mas todos dignos, felizmen- e instrumentos de marear ou como tal divulga- dante da Marinha e a companhia dos nossos
te alguns aqui presentes, a quem aproveito para dos, numa atitude de abertura construtiva natu- convidados e amigos, a vossa companhia, foi
reiterar o enaltecimento da obra que resultou ralmente atenta às vicissitudes da nova marea- um bálsamo e um privilégio. Ao Senhor Almi-
da sua dedicação e labor directivo, reportada ção do ESM. rante CEMA o nosso MUITO OBRIGADO e a
à criação do Curso Naval de Guerra, junto do Por isso é importante reter estas memórias da todos.... UM ATÉ SEMPRE!”
Estado-Maior Naval, no longínquo terceiro dia viagem navegada, advertidos pela locução latina Com esta transcrição da “Última Aula”, por
de Fevereiro de 1920. “ad perpetuam rei memoriam” - para perpetuar ocasião da cerimónia de encerramento do Ins-
De memória para futuro, revigorando assim a memória do facto - neste caso as coordenadas tituto Superior Naval de Guerra no passado dia
aquele passado e um presente que hoje nos reú- referenciais para as etapas futuras. 29 de Setembro, pretendeu a Revista da Armada
ne para deixar testemunho vivo no enriqueci- A importância dessa matriz de referência associar-se ao evento que marca o fecho de um
mento desse tempo ido, de um histórico ano de deve-se à prática continuada de procura da qua- ciclo do ensino superior militar na Marinha, na
1948, em que mal acabada de nascer, a nova lidade, sobriedade e eficácia do ensino ministra- sua componente de formação militar de carreira
criatura jurídico-institucional assistia já atónita a do, mais valorizado pelos laços de cooperação dos oficiais, registando-o para memória futura na
efemérides relevantes na esfera internacional que cultivados com a Universidade portuguesa (a evocação de todos os oficiais que honraram a le-
o Comandante Reis Madeira acabou de evocar. este respeito, a presença dos Senhores Reitores genda “Docere Ad Vincere” do Instituto, contri-
Se saltássemos o tempo para 1961/62, daría- explicita essa ligação que, privilégio do Instituto, buíram para o cumprimento da sua missão e dos
mos conta no Mundo de outros acontecimentos cedo extravazou para planos pessoais) e o tra- outros mais que nele se pós-graduaram. Z
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2005 13