Page 339 - Revista da Armada
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Mas o português discernido, determinado e  já esquecidos mas igualmente relevantes, como  dicional recurso ao “outsourcing” de qualifica-
         confiante reconhece que é imperioso soltar uma  a invasão indiana do Estado Português da Índia,  dos docentes e conferencistas da comunidade
         outra consciência, a da modernidade, com apos-  que de perto e profundamente nos abalou, tudo  académica e da Administração Pública, a par de
         ta na inovação e no futuro, na mudança reforma-  isto a enfileirar com a obtenção de sede própria  iniciativas de aperfeiçoamento e melhoria das
         dora para estar à altura dos desafios e da compe-  e independência orgânico-admi nistrativa do Insti-  condições de trabalho oferecidas aos nossos es-
         tição. Só esse pode ser o nosso ânimo e estado  tuto, nas suas actuais instalações da Junqueira.   tudantes, principal razão de ser da acção e do
         de alma, porque só assim perscrutaremos lucida-  Aproveito para um sincero preito de home-  esforço que a missão nos responsabiliza.
         mente o futuro, com acrescida confiança porque  nagem a um grande mestre desta casa, recen-  Alertava o Padre Fernando de Oliveira na sua
         sustentada e temperada pela esperança, não con-  temente desaparecido do nosso convívio – o  “Arte da guerra do mar”: “.... do mal esperamos
         fundível com ingenuidade ou impreparação.   Comandante Virgílio de Carvalho. A ele se ficou  emenda, e do bem arreceamos perda ....”.
           De facto, admitimos que a tradição seja su-  a dever, em boa medida, a escola que desen-  Não vamos esquecer o conselho, antes com
         plantada pelos tempos de mudança, o que não                           espírito aberto e afeito à mudança, abraçando
         invalida um espaço de homenagem ao passado                            com entusiasmo crítico esta nova viagem no ESM,
         e à memória futura, conjugando-se numa razão                          com a esperança que não se verifiquem abusos
         adicional para esta celebração.                                       nem se cometam erros de experiências menos
           Muitos países têm mudado nestes últimos                             bem sucedidas que ameacem ruptura. Não pre-
         anos e hoje, estar actualizado passa, não por                         tendemos esse desenlace mas também não des-
         levar o passado para o futuro, mas ao contrário                       denhamos reacção a comportamentos desviantes
         - por projectar um futuro exequível e assim en-                       do interesse comum, conjunto e singular.
         tender o que tem de ser feito no presente.                              Permitam-me uma mensagem final: o corpo
           Hoje um país faz-se e sobrevive em função                           pode morrer, mas o espírito, esse prevalece, não
         da sua capacidade de ser distinto dos outros no                       acaba nem falece!
         mundo globalizado. E o que mais influencia o                             Como atrás citei, “... as árvores também se
         que cada um de nós faz num dado contexto é                            abatem ...”, mas o Almirante CEMA quis que
         o entendimento colectivo e partilhado desse                           esta morresse de pé e dignamente.
         mesmo conceito.                                                         Foi o que tentámos com esta sessão e cúmpli-
           Para isso e no âmbito das FA´s são necessários                      ce companhia convidados e camaradas, bons
         quadros capazes, formados e alinhados com                             amigos. Com uma certeza e determinação – a
         novos desafios, nivelados pelas boas práticas e a                      Marinha estará, com as suas virtudes e defeitos,
         actualização que os nossos parceiros reforçada-                       na primeira linha de construção reformadora e
         mente exibem. Para tal desiderato releva como                         da modernidade, porque sempre foi essa a sua
         prioritária a moldura educativa onde se inscreve                      postura modelada pela histórica descoberta do
         o ESM, no respeito pela matriz cultural de cada   Vitral da escadaria do Instituto.  mundo e do outro, e porque sempre procurou,
         elemento e parte do todo.                                             como é timbre da sua cultura de serviço que não
           Em nome dessa exigência é legítimo ques-  volveu os conceitos que operacionalizaram a  de poder, contribuir para a defesa do país e as-
         tionar: mas afinal que se espera desta iniciativa  “maritimidade” e a triangulação estratégica por-  sim melhor desempenhar o seu papel e oferecer
         de mudança?                        tuguesa, com a sistematização do consequente  utilidade à comunidade que se destina servir.
           Ao fim e ao cabo, uma esperança de encon-  pilar atlântico no reposicionamento do país de-  Até por essa idiossincrasia não pode dispen-
         trar respostas sérias e sólidas para prioridades e  duzível de um conceito estratégico nacional.   sar um sentido crítico e de rejeição pelo que de
         necessidades próprias de uma agenda de Defe-  Assim e com o nosso ilustre camarada e aca-  enganoso, manobreiro ou erróneo se perfilar. Só
         sa e evitar rupturas desencadeadas por eventuais  démico também, se foi fazendo a viagem e aqui  esta pode ser a atitude consentânea com a inteli-
         tentativas de imposição de estratégias alheias.   escalámos, cumprindo uma rota de que a Ma-  gência livre e a devoção incondicional dos seus
           E ainda que tudo corra aparentemente bem,  rinha se pode orgulhar. Mas se ela e os seus ofi-  servidores, homens e mulheres, à causa pública.
         mesmo assim será útil não esquecer o adágio  ciais estão orgulhosos do nosso Instituto, sabem  Assim será, não me resta dúvida.
         naval: “calmaria e mar banzeiro, acautela-te  também a sustentada validade do preceito “la-  Quanto ao nosso Instituto permitam-me que
         marinheiro”                        bor omnia vincit improbus”, o trabalho perseve-  conclua, reproduzindo o que recentemente afir-
           Afirmei ser hora de mudança, mas não o deixa  rante e atento que tem pela frente, como Virgílio  mei perante a guarnição:
         de ser, também, de homenagem e de memória.  tornou proverbial em fragmentos de dois versos   “A Marinha guardá-lo-á na sua História e na
           De homenagem ao passado, na pessoa dos  das “Geórgicas”.            sua Memória, os Marinheiros no seu coração”
         seus antigos Directores, Professores e elementos   Hoje, como ontem, mais uma vez nos pre-  Neste tempo e circunstância, num tempo atri-
         das respectivas guarnições.        paramos para uma nova escala de mudança,  bulado que tem de ser também de esperança
           Foi uma plêiade de ilustres antecessores,  continuando a singradura com novos modelos  no nosso devir histórico, a presença do Coman-
         muitos anónimos mas todos dignos, felizmen-  e instrumentos de marear ou como tal divulga-  dante da Marinha e a companhia dos nossos
         te alguns aqui presentes, a quem aproveito para  dos, numa atitude de abertura construtiva natu-  convidados e amigos, a vossa companhia, foi
         reiterar o enaltecimento da obra que resultou  ralmente atenta às vicissitudes da nova marea-  um bálsamo e um privilégio. Ao Senhor Almi-
         da sua dedicação e labor directivo, reportada  ção do ESM.            rante CEMA o nosso MUITO OBRIGADO e a
         à criação do Curso Naval de Guerra, junto do   Por isso é importante reter estas memórias da  todos.... UM ATÉ SEMPRE!”
         Estado-Maior Naval, no longínquo terceiro dia  viagem navegada, advertidos pela locução latina   Com esta transcrição da “Última Aula”, por
         de Fevereiro de 1920.              “ad perpetuam rei memoriam” - para perpetuar  ocasião da cerimónia de encerramento do Ins-
           De memória para futuro, revigorando assim  a memória do facto - neste caso as coordenadas  tituto Superior Naval de Guerra no passado dia
         aquele passado e um presente que hoje nos reú-  referenciais para as etapas futuras.   29 de Setembro, pretendeu a Revista da Armada
         ne para deixar testemunho vivo no enriqueci-  A importância dessa matriz de referência  associar-se ao evento que marca o fecho de um
         mento desse tempo ido, de um histórico ano de  deve-se à prática continuada de procura da qua-  ciclo do ensino superior militar na Marinha, na
         1948, em que mal acabada de nascer, a nova  lidade, sobriedade e eficácia do ensino ministra-  sua componente de formação militar de carreira
         criatura jurídico-institucional assistia já atónita a  do, mais valorizado pelos laços de cooperação  dos oficiais, registando-o para memória futura na
         efemérides relevantes na esfera internacional que  cultivados com a Universidade portuguesa (a  evocação de todos os oficiais que honraram a le-
         o Comandante Reis Madeira acabou de evocar.  este respeito, a presença dos Senhores Reitores  genda “Docere Ad Vincere” do Instituto, contri-
           Se saltássemos o tempo para 1961/62, daría-  explicita essa ligação que, privilégio do Instituto,  buíram para o cumprimento da sua missão e dos
         mos conta no Mundo de outros acontecimentos  cedo extravazou para planos pessoais) e o tra-  outros mais que nele se pós-graduaram.  Z
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