Page 84 - Revista da Armada
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O fim do petróleo vai levar-nos para uma nova dimensão épica
da história da humanidade
INTRODUÇÃO
o primeiro dos artigos desta série vi-
mos que o período da invenção à
Ninovação é grande, normalmente de
várias décadas. Desta forma, as tecnologias
que vamos usar nos próximos anos já estão
inventadas, só lhes falta o aperfeiçoamento
prático que permita a sua produção e utili-
zação em larga escala. Por outro lado, no úl-
timo artigo, vimos que o petróleo está perto
de atingir o pico de produção, haverá mais
procura do que a oferta e consequentemente
o seu preço vai aumentar, bem como a luta aos electrodomésticos, aos químicos domés- Não podemos esperar muito do gás natural,
pelo que resta. ticos (ceras, detergentes, etc.), aos perfumes, e que fornece actualmente cerca de 1/5 da ener-
Então como poderão milhões de pessoas muito mais. A indústria farmacêutica sofre de gia global, já que tem a mesma curva de deple-
por todo o mundo continuar a usar o seu au- iguais limitações e será também atrofiada. ção do petróleo com um retardo de aproxima-
tomóvel todos os dias? Será possível manter Mesmo outras indústrias serão muito afec- damente uma década. A procura de gás natural
viagens aéreas baratas depois do pico do pe- tadas directa ou indirectamente. Por exem- na América do Norte começou já a ultrapassar
tróleo? E como transportaremos os produtos plo, a indústria da construção civil também a oferta, sobretudo a partir do momento em
baratos criados nos quatro cantos do mundo deve muito à petroquímica, nalguns tipos de que as centrais energéticas passaram a usar o
pela globalização? cimento, sobretudo no alcatrão e em especial gás excedente para produzir electricidade. O
Haverá esperança nas energias alternativas? na movimentação de máquinas. gás pode ser usado nos automóveis, com sim-
Falta também lembrar a extrema importân- ples modificações, mas não serve para navios,
INVENTÁRIO DE PROBLEMAS cia do petróleo na agricultura, não só para o aviões ou mesmo tractores e ceifeiras. Imagi-
funcionamento de todas as máquinas agríco- ne-se, por exemplo, os problemas que virão
Antes de fazermos uma breve viagem pelas las, mas em especial para sustentar a moder- quando o gás começar a faltar nos países frios
energias alternativas actuais vejamos o lote dos na agricultura que depende inteiramente dos em que as canalizações congelam.
principais problemas que se avizinham. A mo- pesticidas e herbicidas, para manter as cultu- O carvão mineral representa cerca de 1/4
bilidade está no lote dos principais problemas ras saudáveis e os adubos e fertilizantes que da energia total a nível global (24% em 1997
a resolver. O petróleo usado nos transportes é permitem o cultivo em solos pouco produti- e previsto 22% em 2020) de acordo com o
virtualmente insubstituível, por ser um líqui- vos. Nos países ocidentais estima-se que por “International Energy Outlook 2000” da EIA.
do de fácil transporte à pressão atmosférica e cada caloria que o consumidor ingere, são Como substituto do petróleo é inadequado,
por ter uma relação massa/energia fabulosa. gastas 10 calorias em petróleo. porque é mais pesado que o petróleo, entre
Os motores de explosão interna podem ser Estamos a aproximar-nos dos 6 500 milhões 50 a 200%, por cada unidade de energia.
adaptados para usar gás natural ou etanol, no de pessoas a viver na Terra e, mantendo-se a Substituir o petróleo por carvão levaria a uma
entanto, isso não passaria de uma solução de tendência actual, daqui por 50 anos, segundo expansão da actividade mineira, que por sua
curto prazo já que nunca se conseguirão pro- a ONU, seremos mais de 9 000 milhões. O vez conduziria à degradação ambiental nas
duzir as quantidades de combustível que hoje nosso planeta não terá capacidade para ali- áreas de exploração e ao aumento das emis-
o mundo consome. Os transportes marítimos e mentar mais de 2 000 milhões sem a ajuda sões de gases que provocam o efeito de estufa.
aéreos irão sofrer os mesmos problemas. A in- dos petroquímicos. Ao contrário dos combustíveis petrolíferos e
dústria naval ainda pode arquitectar eficientes Continuará a população mundial a crescer do gás, no carvão é praticamente impossível
velas modernas para minimizar o consumo de exponencialmente? a afinação rigorosa do ponto de combustão.
combustível, mas a indústria aeronáutica não Por isso ele é usado em centrais energéticas
tem no horizonte um combustível estável, uni- E AS ENERGIAS ALTERNATIVAS? para obter electricidade, desperdiçando as-
forme e energético como o jet-fuel. sim metade do seu conteúdo energético. De
Difícil também será a produção de electri- Será que podemos ter esperança nas qualquer das formas para recolher o carvão
cidade já que cerca de três quartos é produ- energias alternativas, em especial nas re- são precisas inúmeras máquinas, quase to-
zida a partir de combustíveis fósseis, petróleo, nováveis? das movidas a gasóleo. Uma única central
gás e carvão. Com o aproximar do Pico do De acordo com a American Energy Infor- alimentada a carvão produz por ano milhões
Petróleo a produção de electricidade vai ter mation Administration (EIA) e a International de toneladas de resíduos sólidos. A central ter-
que depender cada vez mais do carvão e do Energy Agency (IEA), prevê-se que o consumo moeléctrica de Sines é a empresa portuguesa
gás. Além de uma subida do preço da electri- mundial de energia suba em média 2% ao ano. que mais contribui para o efeito de estufa.
cidade, tal pode também levar a um aumento Este crescimento faz prever que o consumo A queima de carvão nas residências po-
da poluição atmosférica, o que contraria o ob- em 2040 seja o dobro do actual. A previsão lui a atmosfera com fumos ácidos, que con-
jectivo da diminuição de C02 tão defendida de maior consumo é para a Ásia que se situa têm partículas e gases ácidos. Por último, os
pelo protocolo de Quioto. nos 3,7%, os países não pertencentes à OCDE combustíveis líquidos obtidos a partir do car-
Quem também não tem alternativas é a in- (Organização de Cooperação de Desenvolvi- vão são pouco eficazes e requerem enormes
dústria petroquímica que está na base de qua- mento Económico) 3% e a América Central e quantidades de água.
se todos os produtos que consumimos ou usa- do Sul 2,8%. A Europa regista a previsão de Se pensarmos na energia nuclear pensa-
mos, desde os plásticos, ao calçado, à roupa, menor consumo na ordem de 1%. mos também logo nos riscos de acidentes
10 MARÇO 2007 U REVISTA DA ARMADA