Page 87 - Revista da Armada
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da em 1801 por Humphrey Davy, que realizou suportar muitas atmosferas. Os veículos, aero- população e da industrialização.
estudos em electroquímica usando carbono e naves e sistemas de distribuição actualmente A análise dos recursos energéticos acaba
ácido nítrico. Mas o advogado e cientista in- existentes não são adaptáveis ao hidrogénio. sempre por se render a uma perspectiva des-
glês, William Grove (1811–1896), é que foi O hidrogénio não proporciona a produção de confortável mas inevitável: mesmo que se in-
considerado o precursor das células de com- fertilizantes nem dos plásticos que continuam tensifique agora a mudança para os recursos
bustível. A “Célula de Grove”, como era cha- a ser precisos nas viaturas a hidrogénio. energéticos alternativos, após o pico de extrac-
mada, usava um eléctrodo de platina imerso ção petrolífera as nações industriais terão me-
em ácido nítrico e um eléctrodo de zinco imer- REFLEXÃO FINAL nos energia disponível para realizar o trabalho
so em sulfato de zinco para gerar uma corrente útil incluindo o fabrico e transporte de bens, a
de 12 amperes e uma tensão de 1.8 volts. Uma Se o pico da exploração do Petróleo for atin- agricultura, e o aquecimento das residências.
vez mais encontramos um longo período des- gido na próxima década há sérias dúvidas que As alternativas disponíveis dificilmente supor-
de a invenção até à inovação, que verdadei- estejamos preparados para enfrentar a “Longa tarão os tipos de infra-estruturas de transportes,
ramente ainda não aconteceu. Emergência” de que James Howard Kunstler alimentação ou habitação que possuímos ac-
O hidrogénio, pode ser obtido a tualmente. Desta forma, a transição
partir de diversas fontes renováveis para a nova forma de vida implicará
a partir da água (electrólise, foto um redesenho quase completo das
electrólise, foto biológica) e a partir sociedades industriais.
de recursos fósseis (carvão, gasoli- A solução para a crise energética só
na, metano, gás natural). Espera-se pode ser enfrentada com as energias
que venha a ser uma solução para a renováveis e pela preservação. No en-
geração de energia no próprio local tanto, para alcançar uma transição su-
de consumo, nas indústrias, residên- ave entre as energias não renováveis e
cias, centros comerciais, além da sua as renováveis, seriam necessárias dé-
utilização em automóveis, aviões, cadas e nós não temos décadas antes
motos, autocarros e equipamentos de ocorrerem os picos na extracção
portáteis, tal como o telemóvel e do petróleo e do gás natural.
computador portátil. Nesta perspectiva é urgente poupar
Já foram investidos mais de dois o petróleo que resta pois só com ele
biliões de dólares pelas grandes in- Projecto de um navio movido a energia solar, vento, energia das ondas se fazem os plásticos e os petroquí-
dústrias automobilísticas no desen- e hidrogénio apresentado na Exposição Mundial de Nagoya, Japão, em micos necessários à agricultura. Pre-
volvimento de automóveis (carros, 2005. http://www.2wglobal.com/www/aboutUs/environment/orcelle- cisamos de desenvolver e explorar a
GreenFlagship/index.jsp.
camiões e autocarros) movidos por alta velocidade energias renováveis.
células de combustível, prevendo-se Será muito mais fácil gerar electrici-
a produção em massa para a nova dade do que implementar a “socie-
geração de veículos movida a hidro- dade do hidrogénio” o que significa
génio dentro de 15 anos, segundo a que no futuro, por exemplo, será mais
BMW. A General Motors espera pro- provável andar de TGV do que voar a
duzir até ao ano de 2020, um milhão partir da OTA.
de automóveis movidos por célula a Actualmente, os nossos gover-
combustível. nantes acreditam que o futuro dos
Segundo o departamento de ener- portugueses passa pelo desenvolvi-
gia dos EUA, se o país utilizasse, em mento de novas tecnologias. Se há
10% da sua frota, veículos movidos Navio híbrido (http://www.solarsailor.com/. área com futuro é precisamente a do
por células de combustível, poupavam-se fala no seu livro “O Fim do Petróleo”. A hu- desenvolvimento de sistemas que melhorem
800.000 barris de petróleo por dia, ou seja manidade não está, nem quer estar prepara- a eficiência energética e produzam energia.
cerca de 13% das importações. da para abdicar do conforto conquistado no Temos em Portugal a sorte de ter um clima
Há, sem dúvidas, um movimento em di- último século. Kunstler relata-nos o que nos ameno e muitas fontes titânicas de energia,
recção à economia baseada no hidrogénio, espera depois de ultrapassarmos o pico glo- podemos ser bons nesta área. Para tal é preci-
no entanto, é preciso fazer ainda muito para bal da produção petrolífera e iniciarmos, mais so um elevado investimento em investigação,
a colocar a funcionar. São precisos sistemas cedo do que pensamos, a longa trajectória de que por certo dará os seus frutos.
eficientes adaptados para usarem hidrogénio, depleção – mudanças económicas, políticas Muito provavelmente o leitor após ter lido
infra-estruturas para o produzir, armazenar e sociais a uma escala épica - A Longa Emer- estes artigos ficou confuso e preocupado, ain-
e distribuir. A dúvida que existe é se haverá gência. Entraremos num território inexplorado da não acredita bem que o mundo está à bei-
tempo para fazer tudo isso antes do petróleo da História. ra de entrar numa crise tremenda em resultado
começar a diminuir significativamente e afec- Com base no que se sabe actualmente ne- do fim do petróleo. Recomendo-lhe que faça
tar profundamente a vida da nossa sociedade. nhuma combinação das chamadas novas ener- o que eu fiz, comece por procurar no Google
Há quem argumente que o hidrogénio não gias ou procedimentos energéticos permitirá o termo “Peak Oil”. Encontrará imensa infor-
é um verdadeiro substituto dos combustíveis manter a vida quotidiana da forma a que nos mação e verá que o que foi apresentado nes-
fósseis porque é actualmente fabricado es- habituámos. Os combustíveis fósseis represen- te artigo e no anterior é suportado por factos
sencialmente a partir do gás de metano, sen- tam mais de 85% no actual fornecimento ener- palpáveis, relatados por fontes altamente res-
do precisa mais energia para o fabrico do que gético global. Em Portugal temos uma enorme peitadas.
aquela que o hidrogénio depois vai fornecer. É dependência do petróleo importado da ordem Termino a pensar na edição nº 800 da Re-
portanto um “condutor” de energia e não uma dos 70% (energia primária), e uma dependên- vista da Armada, daqui a 35 anos, onde espero
fonte. O hidrogénio líquido ocupa um volume cia do exterior de quase 90%, quando inclu- ser capaz de explicar como afinal a humanida-
4 a 11 vezes superior ao de uma quantidade ímos o gás natural e o carvão. Nenhuma das de conseguiu um rumo capaz de compensar a
energeticamente equivalente de gasolina ou alternativas ao petróleo convencional aqui diminuição da produção de petróleo.
diesel. Para estar no estado líquido precisa de apresentadas se aproxima sequer a este valor, Z
arrefecer até aos 253º C negativos. Como gás mesmo sem considerar o incremento neces- A. Dias Correia
comprimido precisa de depósitos capazes de sário no futuro para responder ao aumento da CFR
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2007 13