Page 51 - Revista da Armada
P. 51

SITUAÇÃO EM PORTUGAL               lativamente às duas situações possíveis: navios   Aqui a informação deverá ser analisada de
                                            de bandeira portuguesa a navegar em qualquer  modo a permitir a acção da Marinha com os
           Em Portugal, o Código ISPS foi introduzido  parte do mundo; e navios de outras bandeiras a  seus meios próprios, ou em cooperação com
         no ordenamento jurídico interno pelo Decreto-  navegar em águas portuguesas.  outras entidades entendidas como adequadas
         Lei nº 226/2006, de 15NOV. No artº 17 deste   Nestes casos, é importante criar mecanismos  em função de cada caso.
         diploma legal estabelece-se que os planos de  de apoio aos navios que poderão passar pela
         protecção da instalação portuária devem conter  aproximação a outras entidades que tenham o  CONSIDERAÇÕES FINAIS
         os procedimentos de resposta em caso de acti-  mesmo problema e tentar que, em parceria com
         vação do SSAS quando um navio se encontre  Marinhas e/ou Guardas Costeiras de outros paí-  Tentando acautelar os interesses do sector
         nessa instalação portuária. O artº 22 estatui que  ses se salvaguarde a segurança dos marítimos  marítimo-portuário no âmbito do terrorismo
         o plano de protecção do navio deve estabelecer  dos navios de bandeira portuguesa, não esque-  e pirataria, a OMI aprovou o Código ISPS que
         os locais a bordo onde se situam os co-                                      contém, entre muitas medidas ten-
         mandos de activação do SSAS (alínea                                          dentes a minimizar os riscos associa-
         h) do nº 4) e os procedimentos, orien-                                       dos a este tipo de transporte, a obriga-
         tações e instruções para uma correcta                                        toriedade dos navios possuírem um
         utilização deste sistema (alínea i)). O                                      sistema de alerta para ser acciona-
         artº 37º, alínea g), do nº 1, estabele-                                      do quando estejam sob ameaça ou
         ce que a não existência do SSAS nos                                          tenham sofrido um ataque daque-
         termos previstos, indicia uma contra-                                        la natureza. O sinal dos navios que
         -ordenação tipificada como infracção                                          arvoram bandeira portuguesa tem
         grave, cuja sanção varia de 2200 a                                           sido recebido no MRCC Lisboa, por
         3700 euros. No artº 42º deste mesmo                                          entendimento nesse sentido com a
         diploma, é ainda referido, relativamen-                                      Administração Marítima, mas não
         te aos navios de bandeira portuguesa,                                        foram, até agora, estabelecidos pro-
         que o sinal de alerta é transmitido, a                                       cedimentos de resposta e de apoio
         título transitório, e até à instalação de-  Local onde o navio Hércules foi alvo de dois ataques de pirataria  neste tipo de situações.
         finitiva do Sistema de Controlo de Trá-                                         Desta forma, é necessário que se
         fego Marítimo, para o MRCC – tendo-se optado                          pense na melhor forma de poder responder
         pelo MRCC Lisboa. Desde a implementação                               a este tipo de ameaças recorrendo a meca-
         desta nova regulamentação, o sistema de aler-                         nismos de cooperação institucional - ao nível
         ta de protecção foi activado por parte de navios                      das autoridades portuguesas -, ou mesmo in-
         de bandeira portuguesa em algumas dezenas de                          ternacional, à semelhança do que outros paí-
         vezes, tendo sido apenas, e felizmente, uma vez                       ses estão a fazer, numa base de cooperação
         numa situação real. Nas restantes tratava-se de                       com as autoridades competentes dos Estados
         testes ou de alertas falsos.                                          costeiros situados perto das rotas dos seus na-
           No caso real, tratou-se de um ataque – re-                          vios. Atento o modelo institucional português,
         plicado durante o mesmo dia por um segundo                            cabe à Administração Marítima e à Marinha/
         grupo de piratas -, de piratas ao navio Herkules,                     AMN reflectir sobre esta questão, e sobre os
         em 24 de Julho de 2008, quando se encontrava                          potenciais impactes a vários níveis, de modo
         a navegar a cerca de 15 milhas náuticas a sul da                      a encontrar uma forma de responder, de forma
         bóia de entrada em Port Harcourt, no Golfo da                         eficaz, aos problemas que possam surgir neste
         Guiné, provindo daquele porto. Foi abordado   Fluxo de informação do SSAS de navios portugueses   âmbito, especialmente nos locais onde existem
         por uma embarcação com cerca de 20 homens   a navegar em qualquer parte do mundo.  interesses para a navegação portuguesa.
         armados que depois de algumas manobras eva-                             Deve ter-se presente que qualquer atraso na
         sivas por parte do capitão do navio consegui-                         resposta pode ser determinante no futuro do
         ram entrar a bordo e conduzir o navio para um                         navio e da sua tripulação. Para que a resposta
         fundeadouro próximo da costa. Depois de estes                         seja rápida e eficaz é imperioso que os pro-
         piratas terem saído de bordo, uma outra embar-                        cedimentos a adoptar estejam perfeitamente
         cação com oito homens armados acercou-se do                           estabelecidos e que as autoridades nacionais
         navio com o mesmo intuito. O sinal foi recebi-                        conheçam a forma de actuar em cada situa-
         do no MRCC Lisboa e transmitido à Autorida-                           ção. Defende-se, assim, a elaboração de um
         de Competente para a Protecção do Transporte                          plano de resposta que contemple as diferen-
         Marítimo e dos Portos (ACPTMP).                                       tes modalidades de actuação em função do
                                                                               navio e do local do ataque ou da ameaça
         O QUE FAZER PERANTE UM SSAS                                           que envolva a Marinha/AMN e a Administra-
                                                                               ção Marítima.
           Como já referido, a recepção do SSAS de                                                             Z
         um navio português é feita no MRCC Lisboa                                                 J. Velho Gouveia
         que encaminha a informação para a ACPTMP   Fluxo de informação do SSAS de navios estrangei-    CTEN DGAM
                                             ros a navegar em espaços marítimos sob jurisdição
         e para a Direcção-Geral da Autoridade Maríti-  portuguesa.            Notas:
         ma. Este modelo segue, aliás, o que sucede em                         CC VTS/AIS – Centro Costeiro do VTS/AIS
         muitos Estados costeiros, no seguimento da re-  cendo, contudo, o necessário envolvimento do   CNCM – Centro Nacional Coordenador Marítimo
         ferida MSC Circular nº 1073, de 10JUN2003,  Ministério dos Negócios Estrangeiros.  COMAR – Centro de Operações da Marinha
                                                                               OPC – Oficial de Protecção da Companhia
         sobre o envolvimento dos MRCC nas questões   Nestas situações, que deverão, presumível e
         atinentes à segurança marítima no âmbito secu-  desejavelmente, ser menos frequentes, haverá   Referências:
         rity. Uma vez assim recebido o sinal de alerta,  que acautelar outro tipo de interesses atenden-  Código ISPS
         há que ter presente o que fazer e da forma mais  do à proximidade de território nacional e ainda   IMO MSC Circular nº 1072, de 26JUN2003
                                                                               IMO MSC Circular nº 1073, de 10JUN2003
         célere possível. Nas figuras seguintes apresenta-  mais se se tratar de navios que pretendam de-  DL nº 226/2006, de 15NOV
         -se o que poderia ser o fluxo de informação re-  mandar portos portugueses.  Revista Safety at Sea, nº 476, OUT2008, pp. 12-18
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2009  13
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56