Page 22 - Revista da Armada
P. 22
Conversando com…
Elementos da guarnição da «Bartolomeu Dias»
Tudo correu como prevíamos. Passada a (VG), enriquecida ao longo dos anos pela expe- Foto 1SAR FZ Pereirasob comando holandês, que se experimentou os
prancha, explicada a nossa presença o Ofi- riência das diversas missões desempenhadas por equipamentos da cozinha, incorporando, opor-
cial de Serviço acompanhou-nos à Câma- aqueles navios. tunamente, dois novos fornos convectores, um
ra onde a breve trecho fomos apresentados ao significativo salto qualitativo, a pensar (muito
oficial de Relações Públicas que nos informou Assim, foram determinadas as necessidades importante!) na cozinha portuguesa (estufados,
como tinham organizado a nossa visita. Seguimo- para aquele que seria o primeiro de uma nova assados, etc.). Aliás, numa partilha de experiên-
-lo numa ronda pelo navio, exterior e interior, de classe de navios. Houve a preocupação, na deter- cias gastronómicas entre Marinhas, foi confec-
ponta a ponta, ou mais correctamente de proa à minação de necessidades transversais a todos os cionado um arroz de pato muito apreciado pe-
popa e da casa das máquinas à ponte. Departamentos de bordo, dotando-os dos equi- los… Holandeses.
pamentos e material que satisfizesse os requisitos,
As linhas do navio, mais escorreitas e daí mais a doutrina e a legislação nacionais. RA – E no OST? No Operational SeaTraining,
esbeltas, tornam-no mais acessível tanto pelo ex- em Inglaterra?
terior (convés corrido) como no interior (um úni- Nesta fase já dispunha das pessoas conside-
co corredor) este devidamente seccionado por radas chave neste processo, uma pequena equi- ML – No Plano deTreino tínhamos inspecções
portas estanques. pa constituída pelo sargento L (Abastecimentos) inesperadas de Higiene e Segurança Alimentar
Coelho, o Fiel do Navio, o cabo L Nicolau e os (HSA) e às quintas-feiras, o Dia da Guerra, em
O desenho revela, de fora para dentro, outra marinheiros L Moreno e Gomes que, elaboradas Postos de Combate (PC), sob a pressão de diver-
filosofia de concepção, o que
também se traduz no regresso e justificadas as propostas e devidamente auto- sas ameaças simultâneas ser-
aos problemas típicos de uma rizadas, procedeu à emissão das consequentes víamos uma Refeição Rápida
Marinha não autónoma, feita requisições à DA. (action messing) que tem de
de retalhos, excepto nos Pro- ser confeccionada para toda a
gramas de «Magalhães Cor- Entretanto, com a chegada do Chefe de Ser- guarnição (177 Elementos) em
reia» (anos 30) sobretudo in- viço, a equipa, já na Holanda, procedeu numa 30 minutos e de ser tomada
glês, e no de «Mendonça Dias» primeira fase, durante três meses, à morosa con- em quatro turnos, de 8 minu-
(anos 60), digamos, luso fran- ferência do material entregue pelos holandeses, tos cada (desde o seu Posto de
cês, uma vez perdida a nossa o lote de bordo, na Base Naval de Den Helder, combate ao refeitório de praças
capacidade de construir navios que ia, no que toca a sobressalentes, da mais ele- e regresso), portanto ficar servi-
de guerra (a derradeira classe mentar anilha ao mais complexoTWT (Traveling da em 32 minutos.
«Almirante») e apesar do êxito Wave Tube) e cujo conhecimento sustentaria, a
do desenho das corvetas que partir duma base de dados, toda a futura movi- RA – Uma coisa ligeira,
permitiram relançar a constru- mentação deste material. não?
ção naval-militar da nossa vizi-
nha Espanha, hoje exportadora De Outubro a Janeiro de 2009 foi a vez de ML – Água, um prato quen-
de vasos de guerra. se proceder à recepção, numa segunda fase, do te (por exemplo strogonoff),
material enviado de Lisboa pela DA (dos deter- uma peça de fruta e uma barra
A nossa conversa, visitado o gentes, passando pela palamenta, o material de energética ou, alternativamen-
sistema de geração de energia desporto, as bandeiras, por aí fora, até ao mais te, um chocolate ou um bolo).
de alimentação e de propulsão, insignificante item do expediente) e, finalmente, Usamos, claro, pratos e talhe-
absolutamente determinante para o bom desem- na terceira fase, à da recepção do Pequeno Equi- res descartáveis, em plástico
penho de qualquer navio, sobretudo os militares, pamento adquirido pela DN. para ser mais rápida a arruma-
começou por onde todo e qualquer projecto, ção e a limpeza.
mesmo antes de ser concretizado, arranca; a lo- Com a Guarnição, instalada numa unidade da Durante os PC distribuímos um motivacional
gística, sem a qual nada pode ser feito. Força Aérea holandesa, em Maaskamp, o nosso e revigorante Lanche Rápido (action snack) cons-
pessoal, enquadrado pelos holandeses, com o tituído por água e uma barra energética ou um
O 1TEN AN (primeiro tenente de Administra- navio atracado ou a navegar, foi sendo iniciado chocolate. Os limites são mais apertados.
ção Naval) Monteiro Lopes, Chefe do Departa- nas suas funções perante os equipamentos e os RA – Não servem vinho?
mento de Logística (CDLOG) que já nos tinha compartimentos atribuídos ao DL. ML – Nos primeiros OST, sim mas actual-
sido apresentado, obviando, na ausência de mente, não.
distintivos, a sempre morosa identificação das Como a totalidade da Guarnição só embar- RA – Éramos das raras Marinha de Guerra
classes, como actualmente ocorre, recebeu-nos cou no dia da entrega (16 de Janeiro – Mudança onde se servia vinho às refeições. Porque sabía-
no Gabinete de Logística onde ficámos a saber de Bandeira), foi então, já a navegar, mas ainda mos beber, éramos, em Londonderry, os úni-
que esta sua missão teve inicio quando foi con- cos dispensados de participar na Polícia Na-
tactado, na Direcção de Abastecimentos (DA), val mista.
pelo futuro Comandante do Navio, CFR Vizi- ML – Mas não é tudo…
nha Mirones, aceitando de imediato o desafio, RA – Diga?
cerca de uns seis meses antes de integrar a nova ML – Em Combate temos de estar prontos a
Guarnição. fornecer, no âmbito da Batalha Interna, todos os
sobressalentes que nos pedirem e fazê-los chegar
O passo seguinte foi, cerca de três meses an- ao local, o que implica o perfeito conhecimento
tes da partida, o seu destacamento para a Direc- da situação (fumos, fogos, inundações…) do na-
ção de Navios (DN), a Unidade onde se foram vio. E vencê-la…
congregando todos os indigitados para segui- Os Socorristas, em PC, são o pessoal da Taifa,
rem para a Holanda iniciando, assim, as suas devidamente treinados na estabilização dos feri-
novas funções. dos, supervisionados pelo sargento Enfermeiro.
Temos uma enfermaria com quatro camas e em
Aí, contou-nos, iniciou aquela que seria a 1.º Grau de Prontidão o Refeitório é convertido
sua primeira grande tarefa, certamente uma das em Enfermaria de Combate
mais interessantes que foi, como frisou, preparar RA - Não têm médico?
o primeiro apetrechamento do navio, tomando ML - Só em missões especiais…como foi o
como referência as bases de dados de material caso do OST.
existente nas fragatas Classe «Vasco da Gama»
22 FEVEREIRO 2010 U REVISTA DA ARMADA