Page 23 - Revista da Armada
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RA - Parece-me que ficaríamos muito tempo            RA – E o melhor?                                   seleccionado e eram homens com muito mais
a conversar…                                          SF – Por vezes havia, entre cursos, intervalos     idade e, claro, experiência.
                                                    de uma semana e nessa altura a Marinha man-
  Noutro ponto do navio, na Casa de Operação        dava-nos regressar. Foi o que aconteceu lá para        PS – Também fomos seleccionados…
da Goalkeeper (GK), diante do 1SAR ETA (Elec-       trinta de Abril que são os feriados da Rainha. A       RA – Não tenho dúvidas. E quando vieram
trotécnico, ramo de armas) Silva Freire (SF), pe-   Marinha Portuguesa pagou-nos o bilhete de re-        para o navio?
rante o ruído convencemo-nos,erradamente,que        gresso e volta.                                        PS – Começámos por tomar conhecimento dos
estávamos numa zona pressurizada do navio e           RA – Depois, o OST?                                nossos Postos, dos nossos paióis, a montar a nos-
indagando das tubagens em presença soubemos           SF – O OST correu melhor do que esperáva-          sa organização, a receber o material que nos foi
estar diante dos guias de ondas dos radares de      mos. Tudo correu bem, vê-se até pela classifica-      entregue e a proceder à arrumação do material
artilharia, que o já citado TWT está aqui e que os  ção que nos foi atribuída.                           do nosso Serviço.
magnetrões estão nos radares, um deles na peça,       RA – Sabemos que a Guarnição da «Bartolo-            RA – Quantos Manobras a bordo?
uma Otto Melara de 76 mm, permitindo operar         meu Dias» está de parabéns!                            PS – Somos sete, um cabo, três 1MAR’s e três
em duas bandas de frequência.                         O fotógrafo do navio, o 1MAR de Manobra            2MAR’s MS …
                                                    Pinto Silva (PS), já nos tirou uma fotografia. É a      Perante a nossa expressão interrogativa avan-
  À nossa pergunta de quando e como começou         altura dele ser entrevistado. Aí está ele. Vamos     çou logo.
este desafio, respondeu-nos que a nomeação foi       até à Ponte? Obrigado!                                 …A especialidade de Manobra e Serviços, a
no rodar de 2006/7 e que nesse ano frequentou,        Já na Ponte onde tem o seu Posto de Faina e        nova designação!
como pré-requisito para seguirem para a Holan-      de Combate como Marinheiro de Leme (sabe-              RA – Estou a ver outro logótipo na passadeira
da, na Escola de Tecnologias Navais da Armada       mos como tem que ser eficaz na sua actuação)          daquele marinheiro…
(ETNA - que congrega no Alfeite, devidamente                                                               PS – Eu sou da antiga classe. Os outros têm
remodeladas, as antigas escolas dos dois Gru-       perguntámos-lhe quando nascera e pronto nos
pos de Escolas), alguns                             respondeu,1983,com um leve sotaque do Norte,                                  também um volante e
cursos, um deles o de                               talvez da Invicta, de tradições marinheiras, recor-                           fazem de condutores
Procedimento Digital Si-                            demos 1415, antes e depois, e continuámos…                                    auto.
nal (PDF), que tratava da
matemática dos sinais                                 RA – Tens portanto 26 anos. Não te digo o                                     RA – Então, tu estives-
(dois meses) e o Curso                              ano em que nasci pois tu não acreditas (risos).                               te na “Sagres”?
Avançado de Limitação                               Foste voluntário?
de Avarias para sargentos                                                                                                           PS – Não. Tive essa
(um mês).                                             PS – Vim ainda no Serviço Militar Obrigató-                                 oportunidade mas não
                                                    rio. Em 2003.                                                                 fui. Estive cerca de dois
  Em Janeiro de 2008,                                                                                                             anos e meio nas corvetas,
disse-nos, fomos para a                               RA – Como foi?                                                              na «Pereira d’ Eça».
Holanda onde frequen-                                 PS –Ao princípio não foi ideia que me fascinas-
támos outros cursos de                              se, estar longe da Família, mas depois acabei por                               RA – Sabes quem
pré-requisito como o do                             ter um gosto por isto. Tanto que cá fiquei.                                    era? Um Oficial da Ar-
Sistema de Combate do                                 RA – A tua Família de onde é?                                               mada…
navio, o SEWACO, e os                                 PS – Do Porto, mais concretamente de Ma-
mini Cursos, entre outros,                          tosinhos.                                                                       PS – Já soube a histó-
de Manuseamento de                                    RA – Não tens o sotaque típico do Porto.                                    ria… Mas não era gene-
Mísseis, do Míssil «Har-                              PS – Tenho um bocadinho…                                                    ral? É a «General Pereira
poon», etc.                                           RA – Só te fica bem! Quando foste convoca-                                   d’Eça». Já foi abatida…
                                                    do, claro que já eras marinheiro. Quando vieste
  RA – E depois?                                    para o navio?                                                                   RA – Não te apanhei.
  SF – Frequentámos ainda, durante cinco me-          PS –Vim logo no princípio. Fui convocado em                                 Mas o Bartolomeu Dias,
ses, o curso da GK, uma arma de defesa A/A de       Março de 2007, e fiquei em terra, na Esquadri-                                 sabes quem foi?
curto alcance, anti-mísseis e anti-aérea e também   lha de Submarinos, a aguardar e em Setembro fui
de superfície (Somália!). Neste caso, a partir da-  logo para a Holanda tirar cursos.                                               PS – Sei! (gargalhadas)
qui, através duma câmara de televisão montada         RA – E que cursos foram?                           Desse temos de saber a história toda.
na antena do radar. O Centro de Operações dá-         PS – Foram o Curso da Semi-rígida, Reabaste-
-nos o Azimute e Distância e dirá para onde quer    cimento, Navegação e Marinheiro do Leme em             RA – Acerca da Holanda, o que mais te im-
que apontemos.                                      águas restritas e no Reabastecimento no Mar, o       pressionou?
  RA – Muito diferente do correspondente Pha-       RAS (Refuelling At Sea).
lanx das «Vasco da Gama»?                             RA – Antigamente era um posto altamente              PS – São trabalhadores e têm uma boa orga-
  SF – Sim!Tem sete canos, um calibre de 30mm                                                            nização. São bastante profissionais em tudo o
e um ritmo de 4.200 tiros/minuto e a da VG tem                                                           que fazem. Foi o que mais me surpreendeu no
seis de 20mm mas 4500 tiros/min. A GK usa ba-                                                            carácter deles.
las com titânio (as MPDF) actuando por impacto
e cessando automaticamente o tiro assim que o                                                              RA – E no convívio social?
alvo der sinais de ter sido atingido. Temos ainda                                                          PS – Na cultura, a nível social? São muito dife-
as munições TP, de Training Practice.                                                                    rentes de nós. Mais descontraídos que nós. Tem
  RA – As de Treino. E como foi a estada na                                                              uma vida social mais folgada. Nós limitamo-nos
Holanda?                                                                                                 mais ao trabalho e eles têm mais tempo para a di-
  SF – O mais difícil foi estar fora da família                                                          versão. O grande contraste deve ser, mais, esse.
quatro meses e a… alimentação holandesa que                                                                RA – Depois foram para o OST…
é muito diferente da portuguesa. Vá lá que entre                                                           PS – Em Inglaterra, em Plymouth. Foi o nosso
cursos podíamos vir a Portugal.                                                                          grande treino, a nossa preparação. Ninguém ti-
  Os cursos eram dados em inglês e o Holan-                                                              nha ainda feito um OST, como eu, e fiquei mui-
deses falavam claramente e isso, do nosso lado,                                                          to surpreendido com a prontidão, com a rapidez
era tido em consideração para a nomeação. Di-                                                            com que tínhamos de actuar em determinados
fícil era quando os instrutores começavam a fa-                                                          exercícios… fez-nos ter mais conhecimentos do
lar entre eles em Holandês. Não conseguíamos                                                             que tínhamos… Fomos obrigados, entre aspas, a
apanhar nada.                                                                                            saber mais a nível das nossas funções. Saí do OST
  Fora isso, os fins-de-semana eram passados em                                                           a saber mais 300% do que sabia…
Den Helder, a cidade a norte da Base.                                                                      RA – Em inglês? Já sabias…
                                                                                                           PS – Não domino mas sinto-me à vontade, sei
                                                                                                         exprimir-me. Na Holanda os cursos foram todos
                                                                                                         em inglês e mesmo no mais complicado, como
                                                                                                         o de Marinheiro de Leme, foi um marinheiro ho-
                                                                                                         landês que me ensinou tudo. As ordens eram-me
                                                                                                         dadas em inglês pelo comandante holandês qua-
                                                                                                         se até à mudança de Bandeira. Era assim…

                                                                                                         REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2010 23
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