Page 25 - Revista da Armada
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de registo mas como, neste navio, o «MCCIS»          quando isto começasse a abanar tudo.                 Testemunha, no passado, de que os nossos
(em perfeito inglês!) que faz isso tudo, eu fiquei      RA – E agora?                                    melhores “embaixadores” eram, por onde pas-
na Ponte. Fazia leme e vigia…                          AC – Habituei-me. Ainda enjoo mas já não         sávamos, as nossas praças, sempre de uniforme,
                                                                                                        congratulei-me que o próximo entrevistado fosse
  RA – E que fazes, agora?                           é a mesma coisa. De vez em quando tomo um          um jovem da Taifa,o Despenseiro do Comandan-
  AC – Mandaram-me, de novo, para o CO. No           comprimidozinho.                                   te, porque se o saber receber é muito importan-
«MCCIS» só temos de o actualizar e mandar as                                                            te, mais acertado o indicarem-nos um actor cujo
mensagens das posições dos navios, do nosso na-        RA – E as instalações a bordo?                   timbre é, sobretudo, a discrição.
vio e estamos lá as duas MIF’s. A navegar, traba-      AC – São boas. Temos um alojamento para
lho no CO embora em Postos de Combate passe          as seis praças MIF’s. Não é grande mas é sufi-        O M TFD Reis Camacho (RC) começou por
à Ponte, como vigia.                                 ciente.                                            nos dizer que estava no navio desde 2007 e mais
  RA – Mas fazes Radar?                                RA – E projectos?                                especificamente.
  AC – Fiz! ... Mas atracada, pertenço à Ponte.        AC – Não vou renovar. Não havendo vagas é
  RA – Isso traduz-se em…                            melhor sair agora, que ainda sou nova, do que        RC – Sou Criado de Mesa com a especialidade
  AC – Actualizar as cartas náuticas e publica-      daqui a seis anos…                                 de Ajudante de Confecção…
ções à minha responsabilidade e introduzir os          RA – É pena. Assim sendo… os nossos since-
Avisos à Navegação.                                  ros votos do maior êxito. Obrigado.                  RA – A Arte, cremos, de Empratar…
  Estão aqui nestas gavetas (donde retirou uma)        Conversámos sobre a imprescindível Logística       RC –Talvez. Em Postos de Combate sou Socor-
Esta por exemplo já é um bocado antiga… tem          (os Recursos; materiais e humanos),depois sobre    rista na Enfermaria de Emergência que funciona
muitas alterações.                                   as Armas que justificam a sua tipologia militar e,  na Câmara dos Oficiais.
  RA – A de aterragem a Lisboa. Cá está a Praia      enquanto Plataforma Marítima Móvel, na Ponte,        RA – Sim. Por partes. Qual a tua formação?
das Maçãs…                                           falámos com o seu Marinheiro do Leme e, no in-       RC – Antes de vir para o navio fiz, na Escola
  Diz-me que é que te                                                                                   de Abastecimentos, em Vila Franca, um Curso
surpreendeu mais quan-                               terior,da Navegação,sem esquecer a Energia sem
to à Armada Real Holan-                              a qual nada funciona…                                                       de Bufete que implica
desa (RDN) e quanto à                                                                                                            confeccionar alguns pra-
população? Deve de ha-                                 Não fosse um navio de guerra um mundo de                                  tos e montar uma sala de
ver, calculo, uma diferen-                           avançadas tecnologias, altamente condensadas,                               Bufete.
ça substancial entre Vila                            concentradas e articuladas, operacionalmente
Viçosa e Den Helder?                                 conduzidas por uma equipa de equipas extre-                                   RA – Gostaria de saber
  AC – (sorrisos) Surpre-                            mamente especializadas mas interagindo,muitas                               o que te motivou para
endeu-me a maneira da                                vezes por cima de fronteiras que embora bem de-                             esta especialidade.
navegação deles, que é                               finidas se interpenetram porque, aqui, “estamos
muito diferente da nossa,                            todos no mesmo barco”, em três pinceladas fica-                                RC –Vim para a Arma-
eu acho! A maneira deles                             ria o esboço dum momento tão especial, como                                 da em 2001 e a especiali-
fazerem tudo… Pronto!                                este, da vida de um navio.                                                  dade TFD veio por tradi-
Mesmo dentro do navio                                                                                                            ção de família.Temos um
é tudo completamente                                   Porém, um navio da Armada é mais do que                                   restaurante em Albufeira
diferente.                                           um navio da Marinha de Guerra, a imagem do                                  e o meu Avô andava na
  RA – Mais especifica-                               Ramo Naval das FAs perante os cidadãos nacio-                               pesca…
mente.                                               nais e no estrangeiro a imagem do próprio país,
  AC – São muito mais                                o nosso. Esta capacidade de projectar uma ima-                                RA – Lógico. E aqui,
liberais, eu acho! É muito mais avançada que a       gem, fundamental para o ego nacional, é, fora                               quais as tuas funções…
nossa, eu penso que sim. A nível de tudo…            de portas, essencial para a avaliação de Portu-
  RA – A nível técnico?                              gal… hoje.                                                                    RC – Quando o Sr. Co-
  AC – Também.                                                                                                                   mandante recebe visitas
  RA – E os cursos? Em Inglês…                         Daí que a Diplomacia, cuja missão é resolver                              temos que dar resposta
  AC – Eu estudei mais o Francês, o Inglês não       os conflitos antes da guerra, sempre tenha con-                              ao serviço de mesa pois,
era o meu forte. Foi por isso que pus Opera-         siderado as suas Marinhas de Guerra como fac-                               quanto ao mais, é o sar-
ções em segundo lugar… mas desenrasquei-             tor de projecção dum Poder eficiente antes de,      gento TF, que é o Despenseiro, quem determina
-me. Quando saímos todos daqui é que aprendi         deseja-se que muito antes, de se ter de fazer a    a ementa.
mais… é que a maneira de fazer as coisas é dife-     sua eficaz demonstração, oferecendo, a par da         RA – Os Despenseiros vêm de fora?
rente da nossa, pelo menos.                          sua imagem bélica, uma capacidade de entendi-        RC – Não. São oriundos da Taifa.
  RA – Como? É para eu saber…                        mento, de aproximação, de acolhimento em que         RA – Disseste que eras Socorrista…
  AC – Por exemplo, nos exercícios… na ma-           cada elemento da guarnição é, mesmo que não          RC – Sim. Fiz, durante duas semanas, o cur-
nobra de homem ao mar, é diferente… não sei          acredite nisso, tão importante como o Embaixa-     so na Escola de Saúde Militar, comum aos três
explicar.                                            dor que representa o nosso país.                   Ramos das Forças Armadas, em Campo de Ou-
  RA – Tiveste contactos com a população fora                                                           rique.
do ambiente naval?                                                                                        RA – Ah! A que funcionava no Hospital de
  AC – Não…                                                                                             Marinha foi encerrada há anos… E para a Ho-
  RA – Um acontecimento marcante?                                                                       landa?
  AC – O OST, em Inglaterra. É custoso, nem                                                               RC – Fui com os outros para a Armada Holan-
sequer tinha estado embarcada. Foi uma expe-                                                            desa, com a Guarnição mais reduzida. Éramos
riência nova.                                                                                           mais Taifas por membro da Guarnição.
  RA – És primeiro marinheiro?                                                                            RA – E lá?
  AC – Não. Ainda sou segunda marinheira.                                                                 RC – Diferente. A Marinha é diferente. Os ma-
  RA – Foi o primeiro embarque… a partir de                                                             rinheiros usam cabelo comprido e brincos. São
Den Helder?                                                                                             simpáticos…
  AC – Foi horrível o enjoo. Se é assim no pri-                                                           RA – Esperamos que possas aplicar os teus
meiro dia e tenho de ficar três anos, devo morrer                                                        conhecimentos com sucesso e agradecemos-te,
aqui, pensei. Foi o pior dia da minha vida, fartei-                                                     como a todos, a disponibilidade para comparti-
-me de vomitar. Não esperava enjoar tanto e pra-                                                        lhar com os leitores da Revista da Armada todas
ticamente não estava mar nenhum. Só pensava                                                             estas impressões.
                                                                                                          Ao Comando do navio a Revista da Armada
                                                                                                        agradece a oportunidade fazendo votos de con-
                                                                                                        tinuados sucessos do N.R.P. «Bartolomeu Dias»
                                                                                                        e de cada elemento da sua Guarnição.

                                                                                                                                                           Z
                                                                                                                Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves

                                                                                                                                                               1TEN

                                                                                                                REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2010 25
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