Page 15 - Revista da Armada
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vessia do Tejo. O novo centro de                                                                    cil acesso a novas redes viárias, com

gravidade do porto deverá surgir                                                                    maiores fundos, migrando assim do

junto à Foz.                                                                                        centro das cidades onde tinham tido

Considero que Portugal tem                                                                          berço, num processo dirigido para a

uma posição relevante no contex-                                                                    diminuição dos custos operacionais,

to das Nações Marítimas, mas pre-                                                                   com o consequente embaratecimen-

cisa fazer vingar nos Fóruns ade-                                                                   to das mercadorias.

quados, Bruxelas e Estrasburgo,                                                                                                   O Porto de Lisboa situa-se no

essa situação privilegiada, porque                                                                  cruzamento da maior intensidade

é nossa “uma vastíssima zona des-                                                                   de tráfego marítimo mundial, re-

se atlântico” (dois terços do Mar                                                                   presentando 20% de toda a carga

da União Europeia em termos de                                                                      processada nos portos nacionais e

ZEE). Devemos canalizar as nossas                                                                   44% da carga contentorizada. Mas

energias no aproveitamento dos re-                                                                  está a definhar. E, quando um por-
cursos marítimos e no objectivo de Fig. 5 – Carga contentorizada movimentada nos portos nacionais.
                                                                                                    to definha, isto reflecte-se em toda

duplicar até 2025 a contribuição da economia final de 2009 circulavam em todo o globo a zona metropolitana envolvente.

do Mar na formação da riqueza nacional. mais de 200 milhões de TEUS. Para respon- É, pois, importante travar este processo,

A ancestral vocação marítima do nosso der a tal movimento, os portos de todo o não só pela importância que o Porto de Lisboa

País tem de prevalecer. O Mar foi o nosso mundo adaptaram os seus cais e alargaram tem, mas também pela que poderá vir a ter a

destino, o Mar tem de fazer parte do nos- as áreas de parqueamento.                                 nível da economia nacional. Para tal, precisa

so futuro.                                                                                                                        de se preparar, como outros já

                                                                                                                                  fizeram, para receber os futu-

SÍNTESE CONCLUSIVA                                                                                                                ros porta-contentores, não se

                                                                                                                                  vendo outra alternativa para

A zona da Golada já esteve                                                                                                        tal fim a não ser o local abri-

fechada, de forma natural, du-                                                                                                    gado que resultará da obra do

rante mais de 50 anos. Reabriu                                                                                                    fecho da Golada (Fig. 6).

por intervenção do homem,                                                                                                         Considera-se um erro estra-

tendo como pricipais conse-                                                                                                       tégico a aposta feita na expan-

quências um maior esforço                                                                                                         são do Terminal de Alcântara,

de dragagens na Barra Sul e o                                                                                                     mesmo que a título provisó-

desaparecimento do grande                                                                                                         rio. Será sempre uma perda de

areal da Caparica.                                                                                                                tempo e um desperdício de di-

O último estudo especifica-                                                                                                        nheiro, pelo que se recomen-

mente dedicado ao fecho da                                                                                                        da vivamente o reinício dos

Golada, de1989, conclui que a                                                                                                     estudos conducentes à obra

obra é, do ponto de vista fisio-  Fig. 6 – Uma das possibilidades de aproveitamento da parte terminal da margem esquerda do Tejo.  do fecho da Golada. Esta obra
gráfico, não só possível como                                                                                                      permitirá uma solução virada

desejável, com a vantagem adicional de criar, Mas esta revolução não só continua, como para o futuro, relançando a maritimidade

na parte terminal da margem esquerda do irá ter um novo salto com o alargamento do nacional, e contituindo um sólido contribu-

Tejo, uma zona de águas tranquilas, com Canal do Panamá em 2014, o que irá pro- to para que em 2025 possa duplicar a con-

grandes fundos naturais, susceptível de ser pocionar o aparecimento de novos navios tribuição da economia do mar na formação

aproveitada pela APL para criação de novas com mais de 300m de comprimento e 16m da riqueza nacional.

infra-estruturas.                             ou mais de calado.                                                                                             Z

A revolução do transporte normalizado Para se prepararem para esta evolução, os Síntese do ciclo de conferências «O Porto de Lisboa e a

através da contentorização, nascida em 1956, grandes portos criaram infra-estruturas novas, Golada do Tejo», apresentado na Academia de Marinha e coor-

criou raizes e não mais parou de crescer. No mais ao mar, em locais desimpedidos e de fá- denado pelo ALMIRANTE FRANCISCO VIDAL ABREU.

                       Mahan e Karl Popper
                    na Academia de Marinha

Na sessão de abertura do Simpósio de          gração, de todas as manifestações do poder              A forma como esse poder tem sido exerci-
         História Marítima, na Academia de    nacional que têm o mar como meio físico de            do, ao longo dos tempos, se estudado aten-
         Marinha, em Novembro de 2009, fo-    afirmação. A geografia, a demografia, a eco-             tamente, pode fornecer, para os dias de hoje,
ram feitas algumas afirmações que merecem      nomia, o carácter do povo, as marinhas civis,         orientações de grande utilidade, dirigidas
ser sublinhadas independentemente do real     a marinha militar, o sistema de autoridade            para áreas tão diversas como a segurança, a
valor de todos os trabalhos apresentados.     marítima, a estrutura científica ligada ao mar,        defesa, a economia, a investigação científica,
                                              a cultura marítima, etc., constituem exemplos         ou até mesmo o moral e o brio da nação”.
  Assim, na exposição efectuada pelo Presi-   desses elementos de poder. Isto é, a abrangên-
dente daAcademia,Almirante Vieira Matias,     cia do poder do estado no mar vai, pensamos,            Por sua vez o Prof. Doutor João Carlos Es-
é de registar sobre a expressão “sea power”:  para além do tradicional conceito do poder            pada na sua longa dissertação sobre “O Poder
“O poder do estado no mar é uma tradução      marítimo ao integrar, numa visão abrangente,          do Estado no Mar e a História do Ocidente”
nossa da expressão “sea power”, da autoria    sistémica, tudo o que contribua para a edifica-        refere-se a Karl Popper, que não sendo pro-
de Mahan, mas nunca por ele definida. Po-      ção do poder nacional ligado ao mar.                  priamente um historiador mas sim um filó-
demos entendê-lo como o somatório, a inte-                                                          sofo nos deixa páginas veementes em defesa

                                                                                                                                  REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2010 15
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