Page 23 - Revista da Armada
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Vice-almirante António Ladislau Parreira

                          Um Herói da República Esquecido
AMarinha contribuiu decisivamente
        para o êxito do movimento revo-     “Afonso de Albuquerque” guarnece pos-       do Zambeze, comissão que seria interrom-
        lucionário que levou à instituição  tos militares na capital de Moçambique,     pida, de Outubro de 99 a Setembro de
                                            de 27 de Janeiro a 7 de Fevereiro de 1895,  1900, quando se especializa em artilharia
da República em Portugal, não só através tendo sido novamente condecorado com           na respectiva escola – a fragata “D. Fernan-
da intervenção de algumas das suas uni- a Torre e Espada por feitos em campanha.        do II e Glória”, fundeada no rio Tejo.
dades navais, cite-se o caso dos cruzado- Embarca depois em águas moçambicanas
res “Adamastor” e “S. Rafael”, como                                                       Novamente em Moçambique, em Fe-
também de unidades em terra, cujo o                                                        vereiro de 1901, tem o seu primeiro
exemplo mais significativo foi o Corpo                                                     comando, o da canhoneira “Obuz” da
de Marinheiros, sediado no Quartel de                                                      Esquadrilha de Lanchas do Zambeze e
Alcântara e então liderado pelo 1º te-                                                     a partir de Novembro o do vapor “Bap-
nente Ladislau Parreira.                                                                   tista de Andrade”.
António Ladislau Parreira, nascido
na vila alentejana de Serpa em Outu-                                                          Terminada a sua terceira permanên-
bro de 1869, após frequentar o Colégio                                                     cia em Moçambique é promovido a 1º
Militar alistou-se na Armada, como as-                                                     tenente em Janeiro de 1902 e embarca
pirante de Marinha, em Novembro de                                                         no cruzador “Rainha D. Amélia”, o pri-
1888. A partir de 1891, ainda aluno da                                                     meiro navio de casco de ferro construí-
Escola Naval, esteve embarcado primei-                                                     do no Arsenal da Marinha em Lisboa,
ro na corveta “Mindelo”, em trânsito                                                       tendo estado em Junho presente em Spi-
para Moçambique e depois na canho-                                                         thead quando das cerimónias de coroa-
neira “Limpopo”, em serviço na Divi-                                                       ção do Rei Eduardo VII.
são Naval da África Ocidental, regres-
sando a Lisboa em Novembro de 93 e                                                            Em Dezembro integra a missão naval
promovido a 2º tenente em Dezembro                                                         que assiste em Livorno à reconstrução
desse ano.                                                                                 do cruzador “Vasco da Gama”, ficando
Após um curto período na corveta                                                           encarregado da sua artilharia. O navio
“Vasco da Gama”, em águas do Conti-                                                        termina os fabricos em Dezembro, re-
nente, inicia as suas comissões no Ultra-                                                  gressa a Lisboa para logo largar, em Fe-
mar que, com pequenas interrupções,                                                        vereiro de 1904, com destino à Estação
irão durar cerca de uma década. Logo        Ladislau Parreira – 2TEN.                      Naval de Macau. Após prestar serviço
                                                                                           em Angola, na Guiné e cumprido três
de Março a Maio de 1894 integra a coluna nas canhoneiras “Rio Lima” e “Cuanza” e           comissões em Moçambique o recém
de operações que na Guiné pacifica a ilha na corveta “Rainha de Portugal”, tendo re-       promovido 1º tenente Ladislau Parrei-
de Bissau, então teatro de uma revolta in- gressado a Lisboa em Junho de 1896.          ra vai conhecer o Extremo-Oriente, tendo
dígena, tendo sido pela sua acção nesta Mantém-se em situações de embarque              visitado portos do norte da China e perma-
campanha agraciado com o grau de cava- no Continente, nomeadamente no “Flu-             necido dois meses em Xangai, numa oca-
leiro da Ordem Militar de Torre e Espada. minante”, navio de treino e instrução do      sião de instabilidade política local.
Embarca a seguir na corveta “Afonso de pessoal torpedeiro. Foi o primeiro navio da        Em fins de 1904 é colocado na 2ª Repar-
Albuquerque” que, em fins de 1894, vai Armada que lançou torpedos Whitehead             tição da Direcção Geral da Marinha mas
reforçar a Divisão Na-                                                                  por limitado tempo já que em Janeiro de
val da África Oriental                                                                  1906 assume, em Angola, o comando do
e Mar da Índia, já que
tinha deflagrado uma                                                                                         vapor “Salvador Cor-
rebelião no distrito de                                                                                      reia”, cumprindo mis-
Lourenço Marques. A                                                                                          sões de transporte de
corveta transporta, de                                                                                       pessoal e de malas de
Mayotte para Moçambi-                                                                                        correio ao longo da cos-
que, o recém nomeado                                                                                         ta de Angola, nomeada-
Comissário Régio An-                                                                                         mente em Maio de 1906
tónio Ennes que mais                                                                                         na movimentação de
tarde enaltece a acção                                                                                       forças militares em au-
da Marinha durante as                                                                                        xílio do governador do
campanhas de pacifica-                                                                                       Congo quando da paci-
ção naquele território,                                                                                      ficação de povos suble-
designadamente no li-                                                                                        vados. Em Novembro
vro da sua autoria “A                                                                                        desse ano é exonerado
Guerra de África em                                                                                          da Divisão Naval do
1895”. A guarnição mili-  Vapor “Salvador Correia” fundeado em Moçâmedes em 1906.                            Atlântico Sul e passa em
                                                                                                             comissão civil ao servi-
tar em Lourenço Marques era escassa ten- e onde o tenente Ladislau Parreira se co-                           ço do Governo Geral de
do sido necessário recorrer ao pessoal dos meçou a interessar pela electricidade, es-                        Angola, tendo durante
navios para colaborar na defesa da cidade. sencial na operação dos torpedos. Em Se-     um ano procedido a trabalhos hidrográfi-
Assim, o 2º tenente Ladislau Parreira co- tembro de 1898 volta a Moçambique para        cos naquela província.
mandando um pelotão de marinheiros da prestar serviço na Esquadrilha de Lanchas           Em Novembro de 1907 termina a sua úl-
                                                                                        tima comissão no Ultramar. Dos 14 anos
                                                                                        de oficial dez tinham sido cumpridos

                                                                                        Revista da aRmada • SETEMBRO/OUTUBRO 2010 23
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