Page 13 - Revista da Armada
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NAVIO-ESCOLA “SAGRES”
         VOLTA AO MUNDO 2010
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A3ª Viagem de circum-navegação do
         N.R.P. “Sagres” teve os seus capítulos
         finais durante o mês de Dezembro. A
estadia no porto de Alexandria antecedeu a
última tirada, que atravessou o Mediterrâneo
com destino a Lisboa sob condições muito ad-
versas.
À chegada ao porto interior de Alexandria,
no dia 6 de Dezembro, repetiu-se o ritual de
receber os pilotos, que ajudaram na coordena-
ção dos rebocadores e o pessoal da manobra
de cabos. Num moderno terminal de passa-
geiros, esperavam-nos os representantes da
nossa Embaixada no Cairo, o Cônsul Hono-
rário e os representantes da Marinha Egípcia.
Apesar das excelentes condições do cais e por
alegados motivos de segurança, as autorida-
des não nos permitiram a realização da habi-     Homenagem ao Marinheiro Desconhecido em     A Comissão de Bem-Estar do Navio pre-
tual conferência de imprensa nem a abertura      Alexandria.                              parou excursões à cidade do Cairo. Dividiu-
a visitas públicas, o que melindrou a habitual   Nova Biblioteca de Alexandria.           -se a guarnição em três grupos e, um em cada
partilha do navio com a população local. O       Na Mesquita do Cairo.                    dia, com saída de bordo às 06:30 para regres-
programa protocolar do porto de Alexandria       Nas Pirâmides de Gizé.                   sar às 23:00. O passeio contemplou a visita às
iniciou-se imediatamente com uma cerimónia                                                pirâmides da região de Gizé, ao Museu do
de deposição de coroa de flores no Memorial                                               Cairo, à Cidadela de Saladino, a um Souk,
do Marinheiro Desconhecido. Seguiram-se os                                                (mercado tradicional), e à imponente Mes-
habituais cumprimentos protocolares ao Co-                                                quita de Mohammed Ali. Às primeiras horas
mandante Geral da Marinha e depois ao Go-                                                 de sol observámos as milenares pirâmides do
vernador da região. No início da tarde serviu-                                            complexo de Gizé e a guardiã do vale do Nilo
-se o almoço de retribuição de cumprimentos                                               – a Esfinge. No final do dia e com o sol a pôr-
a bordo, concluindo-se o primeiro ciclo de                                                -se visitámos o Museu do Cairo. Inaugurado
diplomacia desta visita. A nossa recepção foi                                             em 1902, alberga o espólio do túmulo do rei-
oferecida no terceiro dia e o número de pre-                                              -rapaz, Tutankhamun.
senças foi relativamente baixo apesar de se
terem enviado 450 convites. Algumas pessoas                                                  Um verdadeiro tesouro que incluía sarcó-
vieram exclusivamente do Cairo para a recep-                                              fagos de ouro, as carruagens em que se des-
ção, o que representa três horas de viagem em                                             locava, as suas mobílias, bengalas, jóias, etc...
cada sentido devido ao trânsito infernal, só                                              A riqueza e o esplendor deste recheio contras-
comparável ao que vimos na Índia.                                                         tam com as condições do edifício, há muito
                                                                                          ultrapassadas, apesar de ter sido o primeiro
   O tempo livre foi direccionado para a                                                  edifício construído propositadamente para
visita à cidade, no primeiro contacto com a                                               a função museológica. Terminámos a visita
cultura árabe destaca-se o comércio de rua                                                num souk onde despachámos as últimas li-
fervilhante. Nestes vende-se de tudo, frutas                                              bras egípcias a troco de souvenirs. Nesta altu-
e vegetais, carnes e peixes em estado de con-                                             ra já discutíamos sem contemplações, testan-
servação duvidoso, tecidos, malas e afins.                                                do a paciência dos vendedores.
Infelizmente o lixo acumula-se pelas ruas e
o pó do deserto, que se espalha por todo o                                                   Largámos na manhã de dia 10 com con-
lado, envolvem a cidade num tom sujo. Os                                                  dições meteorológicas pouco favoráveis pelo
bairros típicos ombreiam com uma ampla                                                    que o Piloto desembarcou ainda no porto
marginal, onde se observam edifícios mo-                                                  interior. O canal de saída é estreito mas está
dernos, em geral consagrados à hotelaria.                                                 bem balizado com bóias e tem um bom enfia-
Na marginal pode-se visitar a colossal Bi-                                                mento de faróis, porém existem 3 navios en-
blioteca de Alexandria, um edifício recente,                                              calhados dentro do porto, o que relembra as
inspirado na célebre biblioteca que ardeu                                                 dificuldades impostas pela teimosia do mar.
há cerca de dois mil anos. Para além da Bi-                                               As previsões indicavam-nos três tempestades
blioteca, poderiam ser visitados o Anfiteatro                                             ao longo do caminho até Lisboa, mas nada
Romano, as Catacumbas, algumas igrejas e                                                  muito forte.
mesquitas, hotéis de época, a Fortaleza Qai-
tbay, esta muito bem preservada e edificada                                                  Ao final do dia o tempo começou a piorar
no local onde se julga ter existido o mítico                                              e à meia-noite rasgou-se a primeira de muitas
Farol de Alexandria.                                                                      velas que se foram danificando. Na manhã
                                                                                          seguinte várias outras velas apresentavam
                                                                                          costuras a ceder. Com o vento sempre a cres-

                                                                                          13REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011
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