Page 18 - Revista da Armada
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queexerceuentre23deMaiode1915e10deMaio -se, depois disso, o comando do Corpo de Mari-                 Com uma atitude entusiasta, a sua primeira
de 1916. Nas suas palavras, «ser imediato de Leot- nheiros da Armada. A 18 de Dezembro de 1923 preocupação como ministro foi pôr os poucos
te do Rego era uma distinção – mais do que isso, Pereira da Silva tomava posse como Ministro da navios disponíveis a navegar, pois na sua opinião
era uma honra que se concedia». Entretanto, a 26 Marinha,proferindo,noseudiscurso,aslinhasque «havia um Ministério da Marinha, mas não havia
de Junho 1915 foi nomeado para integrar, como iriamnortearasuaacção:                                  Marinha». Assim, pelo Decreto n.º 10:040, de 27 de
vogal, a comissão encarregada de rever o projecto     «Tentarei, desde já, fazer navegar a Marinha e, Agosto de 1924, mandou constituir um agrupa-
deOrdenançaGeraldaArmada.A11deOutubro logo que mo consintam, dotá-la com os meios ne- mento denominado Divisão Naval Colonial, com
desseano,oMajorGeneraldaArmadadeferiaum cessários para a tornar útil a um País de tão largos afinalidadedeefectuarumpériploporÁfrica,que
requerimento seu, no qual «pedia para que fosse domínios a defender e de tão gloriosas tradições incluíaparagensnasprovínciasultramarinasecer-
oficialmente reconhecido com o seu nome um                                                            tos pontos estratégicos. No seu regresso a Lisboa,
sistema eléctrico de comunicações para regulação              Colecção CALM Roque Martins em Junho do ano seguinte, este agrupamento de
de tiro, que estudou e teve aplicação no cruzador                                                     navios foi recebido pelo Presidente Teixeira Go-
“República”». No início de 1916 foi-lhe atribuída, a                                                  mes (1860-1941) e pelo Ministro da Marinha Pe-
títulopessoal,atarefade«tomarconhecimentodas                                                          reira da Silva, que no seu discurso de boas-vindas
aspirações dos oficiais da Armada e dar parecer                                                       afirmou:
sobre a razão dessas pretensões».                                                                     «A Divisão Naval Colonial cumpriu honrosa-
Muito embora tivesse o maior prazer em tra-                                                           mente a missão que lhe foi cometida, vencendo
balhar com Leotte do Rego, não apreciava aquilo                                                       bem todas as dificuldades duma tão longa via-
a que chamava a «vida morna» do Tejo, pelo que                                                        gem, como é a volta ao continente negro – cerca
ansiava ardentemente navegar em alto mar e «fa-                                                       de 15000 milhas […] Afastaram-se os marinhei-
zer a guerra». Inteirado das legítimas aspirações do                                                  ros do ambiente citadino e deu-se-lhes o mar em
seu imediato, Leotte do Rego ter-lhe-á dito um dia:                                                   toda a sua plenitude. As autoridades da União
– Deixa-te estar, Fernando. Dou-te o primeiro co-                                                     Sul-Africana admiraram-se de que levássemos
mando que vagar e que seja próprio para a tua                                                         canhoneiras de 400 toneladas a dobrar o cabo da
categoria e para a tua personalidade.                                                                 Boa Esperança […] Não há dúvida: somos mais
Muitoemboraocomandodoscontra-torpedei-                                                                pobres, mas não somos inferiores aos outros».
ros fosse confiado a capitães-tenentes, ou mesmo a                                                    Relativamente às reformas de organização de
capitães-de-fragata,LeottedoRegonãohesitouem                                                          que a Armada carecia, considerava que a «orgâni-
recomendar o Primeiro-tenente Pereira da Silva                                                        ca militar é uma ciência e uma arte; ciência quanto
para comandar o contra-torpedeiro Douro. Duran-                                                       às suas leis, métodos e princípios reguladores; arte
te a Guerra, sob seu comando, entre 10 de Maio de                                                     quantoàssuasformasdeaplicaçãoedeefectivação».
1916 e 11 de Agosto de 1918, o contra-torpedeiro                                                      Com a reforma que introduziu no Ensino Na-
Douro efectuou um total de 34 missões de patrulha                                                     val em 1924, a formação dos alunos que se desti-
anti-submarina, participando na escolta de navios                                                     navam à marinha mercante passou a ser feita na
portugueses, mercantes e de transporte de tropas,                                                     recém-criada Escola Náutica, tendo igualmente
percorrendo neste período mais de 12.000 milhas. marítimas a manter. A Marinha não pode estar inaugurado escolas de pescas nos principais por-
Pelo seu notável desempenho no comando do longos períodos no Tejo. Daí advêm desprestígio tos do país. Por seu turno, a instrução dos alunos
contra-torpedeiro Douro, o então Presidente da e empobrecimento. Tudo isso é mau para a disci- militares era ministrada na Escola Naval, que
República, Almirante Canto e Castro (1862-1934), plina, além de se perderem o treino, o hábito e o considerava «um instituto Superior de ordem
condecorou-o com a Ordem da Torre e Espada. gostodomar».                                              científica, técnica, naval e militar, com o fim de
Finda esta comissão, integrou o grupo                                                                                            educar e instruir os seus alunos para
que escolheu o «local próprio para séde                                                                Arquivo Geral da Marinha  o exercício de funções de oficiais da
da esquadrilha de contra-torpedeiros».                                                                                           Armada». No quadro de reformas que
Transitou depois para o recém-criado                                                                                             considerava indispensáveis e urgentes,
Estado Maior Naval, onde impulsionou a                                                                                           a da Escola Naval foi uma das primei-
criação do Curso Naval de Guerra, com o                                                                                          ras a ser implementadas. Além de um
objectivo de preparar os oficiais da Arma-                                                                                       ensino mais sólido e actualizado à luz
da em áreas como a estratégia, a táctica, o                                                                                      dos ensinamentos colhidos na Guerra
valor e aplicação das diversas unidades                                                                                          1914-1918, foi por esta altura que se tor-
navais.                                                                                                                          nou efectivo o seu funcionamento em
Depois de ter sido Chefe do Estado-                                                                                              regime de internato.
-Maior da Divisão Naval de Operações                                                                                             No seu entender, era «no meio na-
durante alguns meses, foi chefe de gabi-                                                                                         val, aliando a experiência à teoria que
nete do Ministro da Marinha, entre 8 de                                                                                            se adquiria o equipamento moral e
Julho de 1919 e 14 de Janeiro de 1920. De-   O contra-torpedeiro Douro, que Pereira da Silva comandou                              mental», razão que o levou a assinar a
pois disso, chefiou a missão de aquisição    durante a Grande Guerra.                                                            portaria n.º 4:059, de 30 de Maio de 1924,

de dois cruzadores à Marinha Inglesa, assumindo,      Apesardaenormeinstabilidadepolíticaquese determinandoqueabarcaFloresseriaintegradana
já Capitão-de-fragata, o comando de um desses vivia,confirmadapelosinúmerosgovernosquese Armadasobadesignaçãodenavio-escolaSagres.
navios, o cruzador Carvalho Araújo, entre 5 de De- sucederam,PereiradaSilvadesempenhouocargo          Em sua opinião, a «invisibilidade» dos subma-
zembro de 1920 e 3 de Março de 1921.                  até31deMaiode1926,comumpequenointerreg- rinos, que constituíam um elemento importante
Comumapersonalidadesensataeponderada, no, entre Novembro de 1924 e Fevereiro de 1925. do seu Plano Naval, era considerada uma impor-
desenvolveusempreumaimportanteacçãopeda- Muitoporforçadaenormereputaçãoenotorieda- tantearmaparaa«defesamóveldasbasesdeope-
gógica junto das guarnições dos diversos navios de que entretanto granjeara, neste conturbado pe- raçõesepontosdeapoiodasforçasnavais».
onde esteve embarcado.                                ríodo foi o ministro que permaneceu em funções  Foi também a sua visão que o levou a instalar
Regressou ao Estado Maior Naval, seguindo- durantemaistempo.                                          a base da Flotilha Ligeira em Vila Franca de Xira,

18 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA
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