Page 17 - Revista da Armada
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ALMIRANTE PEREIRA DA SILVA
UMA VIDA DEDICADA À MARINHA
«As nações devem ter Armadas que se apropriem ou que sejam a consequência da sua política»1 .
Filho do oficial do Exército Gregório José
Pereira da Silva e de Luiza da Purifica- família Real aos Açores e à Madeira nesse ano, cessidade imperiosa do país dispor de uma nova
ção Correa e Silva, Fernando Augusto bem como na escolta do cruzador D. Carlos I que estratégia naval, Pereira da Silva e Botelho de
em 1902 transportou o príncipe D. Luís (1887- Sousa (1880-1960), os seus elementos mais notá-
Pereira da Silva nasceu em Lisboa, no dia 13 -1908) a Inglaterra, e a Tânger, Gibraltar e Porto veis, adoptaram como modelo o pensamento de
de Janeiro de 1871. Assentou praça na Escola Santo no ano seguinte. Alfred Mahan (1840-1914). Pelo seu desempenho
Naval a 13 de Novembro de 1889 e casou aos 31 Encontrando-se o país confrontado com a notável nesta causa, a 31 de Maio de 1904 Pereira
anos, no dia 1 de Dezembro de 1902, com Isaura desagregação do poder naval e consequente de- da Silva foi nomeado para integrar a Comissão
da Conceição Saraiva, de quem teve dois filhos, cadência do Estado nos territórios ultramarinos, do Plano de Reconstrução da Armada, tendo
ambos rapazes. em 1901 era criada a Liga Naval Portuguesa. concluído, por essa altura, o curso de Torpedos e
Segundo Maurício de Oliveira, terá sido ain- Depois de um intenso trabalho desenvolvi- Electricidade.
da como Aspirante, na sua primeira via- Por ser ainda Primeiro-tenente, exer-
gem de instrução a bordo da corveta Du- Arquivo Geral da Marinha ceu, interinamente, as funções de Co-
que da Terceira, em 1893-1894, que «tomou mandante do cruzador Rainha D. Amélia
plena consciência do portentoso Portugal (1906) e da corveta D. Estefânia (1909).
de além-mar […] e de quanto necessitá- Seguiu-se a sua nomeação, a 14 de
vamos de uma Armada disseminada em Setembro de 1908, para vogal efectivo do
permanência por todas aquelas longínquas Conselho de Guerra da Marinha. Incon-
paragens». Estando prevista para breve a formado com o progressivo declínio da
sua promoção a Guarda-marinha, não con- Marinha, que se vinha registando desde o
cluíu aquela viagem, tendo desembarcado Ultimato Inglês, fez publicar O Nosso Plano
a 5 de Março de 1894 na Ilha de Moçam- Naval, em 1909, em vésperas da implan-
bique, para se apresentar no Comando da tação da República, no qual preconizava
Divisão Naval do Índico. Participaria, nesse a criação de «uma base de operações no
ano, na campanha de defesa de Lourenço porto de Lisboa, um ponto de apoio nos
Marques, quando os nativos se sublevaram Açores e uma esquadra de combate de
por ocasião da revolta liderada pelo régulo carácter claramente ofensivo, organiza-
Gungunhana (c.1850-1906) em Moçambi- da dentro de recursos financeiros judi-
que2. Serviu ainda na canhoneira Quanza, ciosamente determinados». Nesta obra,
antes de regressar à metrópole como oficial afirmava igualmente que «a falta de um
de guarnição da corveta Afonso de Albu- curso de estratégia e táctica naval para ofi-
querque. O Contra-almirante Pereira da Silva. ciais de marinha, muito tem contribuído
Promovido a Segundo-tenente, foi oficial do pelo Segundo-tenente António Pereira de para os defeitos que apontamos».
imediato das canhoneiras Faro e Açor, perten- Matos, juntaram-se, entre outros, nomes como A 2 de Novembro de 1911, na sequência
centes à Esquadrilha de Fiscalização do Sul, que Gago Coutinho (1869-1959), Pereira da Silva, Er- da implantação da República, o governo
patrulhavam as águas do Algarve. Tendo-se nestodeVasconcelos(1852-1930)eHenriqueBen- provisório nomeou o Primeiro-tenente Pe-
voluntariado para servir no ultramar, partiu a saúde . Com o envolvimento dos seus membros reira da Silva presidente de uma comissão
18 de Março de 1896 para Moçambique a bor- em acções de propaganda por todo o país, a Liga que incluía mais de 40 oficiais da Armada.
do do transporte Índia. Comandou aí o seu pri- Naval Portuguesa contribuiu fortemente para o Tinha como missão preparar um plano naval
meiro navio durante mais de um ano, a lancha- ressurgimento marítimo nacional. Cientes da ne- com base nas ideias por si preconizadas, com
-canhoneira Obuz, que o objectivo estudar e
integrava a Esquadrilha Arquivo Geral da Marinha propor a reorgani-
do Zambeze. Em 1897 zação de todos os
seguiu para Angola a serviços da Marinha.
bordo da corveta Rainha Pouco depois, era
de Portugal, tendo sido nomeado vogal de
colocado no Comando uma outra comissão,
da Divisão Naval do à qual competia es-
Atlântico Sul. De regres- tudar a adopção do
so a Lisboa a 6 de Junho sistema de comuni-
de 1898, voltou à fiscali- cações por telegra-
zação da costa do Algar- fia sem fios (TSF) a
ve, desta vez a bordo da bordo dos navios da
canhoneira Tavira. Armada.
Em 1901 destacou Posteriormente,
para o novo cruzador foi convidado por Le-
Rainha D. Amélia. Como otte do Rego (1867-
encarregado dos ser- 1923) para seu ime-
viços de electricidade, diato no cruzador
participou na viagem da Cartaz da Liga Naval Portuguesa. Vasco da Gama, cargo
17REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011