Page 23 - Revista da Armada
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se podia fazer era, nos portos, procurar balão de irrisório e afirmou que foi alvo acima mencionada.
Não sabemos se esta medida proposta
saber se o seu funcionamento estava a ser de troça e de descrédito, a ponto dos al-
por Folque chegou a ser autorizada e se, em
correcto. Admitia-se que o funcionamen- manaques náuticos ingleses e franceses caso afirmativo, se obteve algum sucesso.
to dum cronómetro era aceitável, quan- publicarem notas de crítica dizendo que os Entretanto, devido a abalo de terra, o
edifício do Observatório da Marinha foi
do o avanço ou retardo diário fosse da sinais de Lisboa não mereciam confiança. abandonado e construiu-se um mastro de
7 metros de altura, suportado por uma es-
ordem dos poucos segundos mas, mais E, esta crítica era, seguramente verdadeira trutura de ferro, situado na cornija SE da
Sala do Risco. O balão, tinha 1 metro de
importante ainda, era averiguar se esses pois, em Abril de 1866, Filipe Folque refere
diâmetro e era içado por um
valores se mantinham. que a ascensão e queda do balão, instala- cabo enrolado num tambor,
accionado por uma manivela,
Para o efeito, começou por ser usado do no terraço do Observatório para indi- que se encontrava numa barraca
situada dentro da estrutura de
nos portos um dispositivo constituído por car diariamente a hora oficial, não eram ferro acima mencionada. Nas
proximidades, estava colocada
um mastro, com um balão (o uma peça de artilharia de calibre
38, que tornava o sinal óptico
chamado balão da hora) que, também sonoro.
manobrado manualmente, Um centro operacional esta-
va instalado na chamada sala
era içado a meia haste, depois dos cronómetros da Escola
Naval, onde se encontravam
a tope, alguns minutos antes as pêndulas destinadas à com-
paração dos cronómetros. Este
das 1300 (tempo médio) e que centro encontrava-se ligado ao
Observatório Astronómico da Ajuda,
caía nesta hora exacta. Assim, distante 4 000 metros, por dois fios tele-
fónicos (para precaver a ruptura de um
o piloto (ou o encarregado deles), que permitiam pôr a funcionar
electricamente o sistema que terminava
dos cronómetros de bordo) com a queda do balão.
Assim, o segundo balão começou a
podia avaliar, ao longo dos funcionar no dia 1 de Agosto de 1885 e
devido ao seu modo de funcionamento,
dias da sua permanência no foi um avanço considerável no sistema
de comparação dos cronómetros. Ao
porto, o avanço ou o retardo ponto do Diário do Governo publicar, pe-
riodicamente, a informação, para cada
de cada um dos cronómetros dia, com as diferenças entre a hora dada
pelo Observatório da Ajuda e a queda do
e, assim, conhecendo a suas balão, constatando-se que aquelas dife-
renças eram - com raras excepções - da
marchas, largava para viagem ordem de décimos de segundo.
Entretanto, o Balão do Arsenal que
com maior segurança e, con- tinha ainda os seus deméritos, foi subs-
tituído por sistemas ópticos comandados
sequentemente, muito mais O primeiro Balão do Arsenal. pelo Observatório da Ajuda: um situado
descansado. Vamos supor que no cais em frente da Alfândega, outro,
nas proximidades da Cordoaria Nacio-
durante a permanência no porto, o pilo- efectuadas com o rigor desejado, apesar nal e que foram abandonados em No-
vembro de 1945. Entretanto, o sinal horá-
to verificava que um dos cronómetros se das recomendações que tinham sido feitas rio, via rádio, foi ganhando o seu estatuto
até que, hoje, os modernos sistemas de
atrasava regularmente 2 segundos por dia; neste sentido. E mais, considera – veja-se medição do tempo, nos fazem esquecer
esta longa e dolorosa história que foi ter a
assim sendo, a navegar, ao fazer o ponto hora certa a bordo dum navio a navegar.
do navio, admitia-se que o cronómetro António Estácio dos Reis
CMG
mantinha aquela marcha e assim se usava
estacioreis@netcabo.pt
a hora em conformidade. Percebe-se que
Notas:
o procedimento em causa não era perfeito
O leitor mais interessado encontra o assunto do Balão
mas, na época, foi, sem dúvida, a melhor do Arsenal desenvolvido na obra do autor:
O Observatório Real da Marinha
solução possível.
O uso do balão começa quando no
fim da década de 1820, Robert Waucho-
pe capitão-de-mar-e-guerra da Marinha
Inglesa, propõe que, nos portos, exista
um balão, conforme acima mencionado.
O primeiro balão foi usado, em 1829, em
Portsmouth e outros foram sendo insta-
lados em diversos portos, até que Lisboa
teve um dispositivo idêntico, a partir de
1858, no Observatório Real da Marinha,
um edifício que se encontrava na área do
Estaleiro da Ribeira das Naus e que foi
demolido quando aquele estaleiro pas-
sou para o Alfeite. Admitimos, que esta
medida tenha sido inspirada pela visita
que Folque fez, em 1854, ao Observatório
de Greenwich, ao pertencer ao séquito de
D. Pedro V, quando este soberano visitou
vários países europeus, pois no seu diá-
rio refere-se claramente a este dispositivo. O segundo Balão do Arsenal.
No ano seguinte Folque seria nomeado
director do Observatório Astronómico da lá! - que “sem alguma penalidade” não se
Marinha. conseguirá que o anúncio da hora se faça
Como a operação do balão era ma- rigorosamente. Por isso, dirigiu-se ao Mi-
nual, o sistema pecava pela sua falta de nistro da Marinha -- na altura, o visconde
rigor. Todavia, eram assim os balões que da Praia Grande de Macau -- para que o
existiam noutros países. O vice-almirante autorizasse a descontar na folha da efecti-
Augusto Ramos da Costa classificou este vidade do dia, àquele que cometesse a falta
23REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2011

