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OS 150 ANOS
DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA
Em meados do século XIX, a Astrono- ser resolvido quando o Rei D. Pedro V, co Augusto Oom, engenheiro hidrógrafo,
que teve uma preparação invulgar dado
mia experimenta um grande desenvolvi- e, mais tarde, o rei D. Luís, contribuem que, durante cinco anos, foi estagiário no já
referido Observatório de Pulkova. Regres-
mento na Europa e surgem novos e mais com dinheiro do seu bolso. sando a Lisboa, a tempo de acompanhar
precisos instrumentos de medida. Uma Em 11 de Março de 1861 iniciam-se os o final das obras do edifício,
cuida da instalação dos ins-
estrela, designada Argelander, passa a ser trabalhos de construção e em 1867 são fei- trumentos. Manteve-se como
director até falecer, em 1890.
motivo de controvérsia quan- Curiosamente, será substi-
tuído por outro camarada
to ao valor da sua paralaxe. de armas: César Augusto de
Campos Rodrigues que se
Considera-se que Lisboa é o manterá em funções até 1919,
data em que deixou o mundo
melhor local para efectuar as dos vivos.
necessárias observações. Toda- A razão do presente ar-
tigo é, fundamentalmente,
via, o Observatório da Marinha associarmo-nos às come-
morações dos 150 anos do
não oferece condições mínimas Observatório Astronómico,
situado no belo parque da
para receber conceituados as- Ajuda, efeméride que ali foi
festejada no passado dia 11
trónomos estrangeiros. Gera- de Março.
-se, no nosso país, uma contro- Mas ainda há um outro
aspecto que não podemos
vérsia que põe em jogo o brio esquecer e que resulta da
contribuição deste Observa-
nacional. Em Abril de 1850, o tório no rigor conferido à re-
gulação dos cronómetros usados a bordo
Encarregado da Direcção do dos navios. Todavia, o termo correcto não
é regulação, dado que os cronómetros são,
Observatório da Marinha le- melhor, eram os únicos relógios que não
dispunham de dispositivo para regulação
vanta o problema e o assunto dos ponteiros. Por isso se deve dizer com-
paração, dado que o que vai obter-se é o
sensibiliza o Governo. Em 1853 chamado estado do cronómetro, um valor,
sempre positivo, que somado à hora do
é nomeada, na Câmara dos De- cronómetro fornece a hora do meridiano
de Greenwich.
putados, uma comissão, com
O BALÃO DO ARSENAL
plenos poderes, para estudar
O cronómetro, por ser instrumento
o assunto. O Observatório da mecânico, poderia ter um funcionamen-
to deficiente, sem que os utilizadores se
Marinha vai ter, finalmente, apercebessem. Uma possível solução
consistia em os navios disporem de dois
instalações dignas! ou três cronómetros, mas, se porventura,
mostrassem horas ligeiramente diferen-
Todavia, como o processo tes, a indefinição mantinha-se. Esta si-
tuação acontecia por não haver, a bordo
não anda, o ministro da Mari- O Observatório Astronómico de Lisboa na Ajuda. dos navios a navegar, possibilidade de
nha decide convidar Filipe Fol- comparar os cronómetros e assim, o pro-
blema só foi definitivamente resolvido
que para o lugar de director do degradado tas as primeiras observações no Observa- quando, já no século XX, o sinal horário
passou a ser transmitido por ondas hert-
Observatório da Marinha. A escolha é ade- tório Astronómico de Lisboa, concebido zianas. E, até lá como foi?
quada, sem qualquer dúvida, pois Folque, nos moldes do seu congénere de Pulkova, Como não era possível comparar os
cronómetros a navegar, repetimos, o que
além da sua experiência como ajudante na Rússia, perto de São Petersburgo, mas
do Observatório, possui um currículo in- que ficará sem qualquer vínculo à Marinha
vejável dado que, não só desempenhou -- a não ser o facto do seu primeiro director
importantes funções no domínio da geo- ser oficial da Armada. Seu nome: Frederi-
desia, como foi professor de astronomia, o
que lhe confere o lugar de membro da co-
missão designada para a construção dum
novo Observatório.
Folque, que é um homem inteligente
e decidido, põe condições: pretende um
outro local para instalar o Observatório e
novos instrumentos, adequados à prática
da astronomia que já se faz nos modernos
observatórios europeus. Não consegue
tudo. Quanto ao local apenas lhe é permi-
tido aumentar as modestas instalações que
foram construídas por um seu antecessor,
numa plataforma, sobre a casa das bomba,
que existia no Arsenal, a Sul da Sala do Ris-
co, mesmo sobre o rio. O Observatório da
Marinha atingirá assim, quando considera-
mos o binómio instalações/instrumentos,
a sua maior eficiência.
Todavia, não era esta a solução pre-
tendida. O objectivo era a edificação
dum Observatório de raiz, o que exigia
verbas que não se encontravam disponí- A primeira gravura de um Balão da Hora,
veis nos cofres do Estado. O assunto irá inventado pelo Comandante Robert Wauchope
22 SETEMBRO/OUTUBRO 2011 • REVISTA DA ARMADA