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entre punhaladas e Em 1734, depois
execuções, a rebel- de um breve domí-
dia de alguns nobres. nio austríaco, Nápo-
Em Nápoles, tam- les torna-se um reino
bém por essa altura, independente sob a
Fernando de Aragão coroa de Carlos de
enfrentou o mesmo Borbón (Carlos III).
tipo de rebelião, ten- É interessante notar
do derrotado a céle- que no brasão de ar-
bre Conjura dos Ba- mas borbónico figu-
rões em 1486. rava, entre outros, o
Quando os sonhos escudo português.
de um grande im- Este escudo tinha
pério português se sido incluído nas ar-
desvaneceram em Filipe II, Filipe III e Filipe IV de Espanha, que foram também reis de Nápoles e de Portugal. mas de Carlos III na
1578, na trágica ba- altura em que este
talha de Alcácer Qui- se tornara duque de
bir, D. Sebastião teve Parma. O símbolo
a seu lado um bata- português fazia parte
lhão italiano de 600 do brasão de Parma
voluntários, entre os desde finais do sécu-
quais se contariam, lo XVI, quando o du-
certamente, muitos que de Parma, casado
soldados originários com a infanta Maria
do “Mezzogiorno”. de Portugal, tinha
Sem descendentes, o manifestado as suas
jovem rei deixava o pretensões ao trono
caminho livre às pre- As revoltas portuguesa (1640) e napolitana (1647) contra o domínio espanhol. luso (pouco antes da
tensões de Filipe II de Espanha. Assim, em união com a Espanha de Filipe II).
1580, Portugal juntou-se a Nápoles debaixo É, aliás, neste século que as relações luso-
da coroa espanhola. -napolitanas se tornam mais fortes, como o de-
Durante os 60 anos que durou esta união, monstra a significativa importação de cereais
muitos missionários da Itália meridional foram provenientes da Sicília para abastecimento dos
enviados a evangelizar as colónias portugue- mercados portugueses.
sas em África e no Brasil. A maior parte deles Em 1759, o Marquês de Pombal expulsa de
teve oportunidade de passar por Lisboa antes Portugal os padres da Companhia de Jesus,
de partir nesta aventura. tendo tido, na ocasião, o apoio incondicional
Entretanto, vários impostores se fizeram de Fernando IV de Nápoles, que lhe seguiu o
passar pelo desaparecido D. Sebastião, ten- exemplo oito anos depois.
do sido prontamente desmascarados. O mais Em 1784, forças navais portuguesas e na-
célebre e o mais convincente foi um tal Mar- politanas serviram conjuntamente na expe-
co Tulio Catizone, natural da Calábria (Sul de dição multinacional, sob comando espanhol,
Itália), que foi enforcado em Espanha em 1619. enviada a combater os piratas argelinos. En-
Durante as lutas contra os holandeses no tre os oficiais que se distinguiram naquela
Brasil, um terço napolitano de cerca de 4.000 operação figuram os nomes de dois jovens
homens, sob o comando de Giovanni di San Brasão de Armas do Reino de Nápoles, onde, à tenentes-de-mar: o português Domingos Xa-
Felice,condedeBagnoli(1575-1640),desempe- esquerda, é bem visível o escudo português. vier de Lima, Marquês de Nisa, e o príncipe
nhou um importante papel na reconquista de napolitano Francesco Caracciolo. Além da re-
Salvador da Bahia (1625) e na defesa de Per- conhecida coragem e virtudes marinheiras, al-
nambuco (1636). O Conde viria a morrer em gumas interessantes coincidências ligam estas
Salvador em 1640. duas emblemáticas personagens que viriam
A 1 de Dezembro desse ano, começou em a encontrar-se novamente em Nápoles quin-
Lisboa a revolta contra o rei espanhol. Sete ze anos depois: pertenciam ambos ao mesmo
anos mais tarde estalava em Nápoles a revol- signo do Zodíaco e morreriam no mesmo dia
ta de Masaniello, de carácter popular e mui- (30 de Junho), com três anos de intervalo, Ca-
to semelhante a uma outra desencadeada – e racciolo em 1799 e Nisa em 1802.
prontamente sufocada – dez anos antes no Sul Os dois reinos voltaram a unir armas na
de Portugal, a Revolta do “Manuelinho”. Em- guerra contra a França napoleónica. Em 1798,
bora não tenha sido vitoriosa como a de Lis- Os almirantes Francesco Caracciolo e Marquês Portugal enviou para o Mediterrâneo uma
boa, a rebelião napolitana, juntamente com a de Nisa. divisão naval sob o comando do Marquês de
insurreição catalã, mantendo ocupada uma viu-seobrigadoacontarcomoauxíliodaFran- Nisa. Esta força naval, juntamente com a es-
boa parte do exército espanhol, ajudaram Por- çaedaInglaterra.Naturalmente,esteapoionão quadra do almirante britânico Nelson, tomou
tugalarecuperarasuaindependência.Foiesse foi gratuito e, em 1641, Luís XIV pediu a Portu- parte no bloqueio de Nápoles e, alguns meses
o motivo que levou a Coroa Portuguesa a en- gal que apoiasse com navios de guerra a toma- maistarde,nareconquistadacidade.Entretan-
viaralgunsagentes(entreelesoPadreAntónio da de Nápoles. Porém, com o reino depaupe- to, a partida da corte napolitana para a Sicília,
Vieira) para fomentar o espírito revolucioná- rado e a esquadra empenhada no combate aos quando as tropas francesas se aproximavam,
rio dos napolitanos, embora tais tentativas se holandeses em África e no Brasil, o rei portu- viria a servir de modelo à família real portu-
tenham gorado. guêsrecusouo“convite”.ApazcomaEspanha guesa na sua retirada para o Brasil durante a
AguerradaRestauraçãofoilongaeD.JoãoIV viria, finalmente, em 1668. Primeira Invasão Francesa (1807).
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