Page 7 - Revista da Armada
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A INSPECÇÃO DAS REPARAÇÕES DOS SUBMARINOS
I.R.S.
AI.R.S. foi criada por despacho 4/74 de 7
de Março de 1974 do Administrador do Marinha Almirante Pereira Crespo, que atribuía aos outros organismos intervenientes. E embora
Arsenal do Alfeite. ao Arsenal do Alfeite, no que dizia respeito pouco tempo depois se constatasse que o novo
aos submarinos, as funções técnicas que com- esquema resultava, nunca houve a vontade de o
As circunstâncias que levaram a tal decisão petiam normalmente à Direcção das Constru- alargar à manutenção dos navios de superfície!
já foram por mim descritas em 1990 num arti- ções Navais (D.C.N.) e as funções de organismo No entanto, foi ainda necessário, e já depois
go que então foi publicado nos Anais do Clube abastecedor da competência da Direcção do do 25 de Abril, extinguir no interior do Arsenal a
Militar Naval1, pelo que serei muito mais breve Serviço de Abastecimento (D.S.A.). Desta directi- Divisão de Submarinos, passando a I.R.S. a ser o
no seu relato. va era então excluído o material da competência único serviço no Arsenal a dirigir a manutenção
No entanto, já terminado o ciclo da vida da Direcção dos Serviços de Electricidade e Co- dos submarinos.
útil dos submarinos municações (D.S.E.C.), mas mesmo esse campo Durante o longo período em que a I.R.S. se
da 4ª Esquadrilha2, é dedicou à manuten-
necessário fazer um ção dos submarinos, a
rápido balanço sobre Marinha continuou a
a influência que teve fornecer ao Arsenal os
a actividade da I.R.S. técnicos, na sua grande
na operacionalidade maioria submarinistas,
dos 3 submarinos da que souberam manter
classe "ALBACORA". o elevado nível de rigor
E uma coisa é certa. e de exigência neces-
Navios que se pensa- sários para garantir o
va poderem ter uma funcionamento seguro
vida pouco superior a dos navios. Os restan-
20 anos acabaram por tes serviços do Arsenal
permanecer em ope- souberam igualmente
ração por mais de 40 acompanhar esta evo-
anos! E se o mérito des- lução qualitativa da
se prolongamento em manutenção, o que se
parte se deve à Esqua- traduziu por um melhor
drilha de Submarinos, nível de qualidade na
a actuação da I.R.S. ao reparação dos navios de
longo desse prolongado superfície.
período teve também
uma influência funda-
mental, que se traduz J. Falcão de Campos
por uma favorável CMG ECN
apreciação da genera-
lidade dos utilizadores
dos submarinos. Notas:
Tanto mais que, ao 1A manutenção dos subma-
rinos. 1970-1974, um perí-
contrário do que suce- odo difícil, Anais do Clube
deu com os submarinos Submarino da classe Albacora em Grande Revisão na doca flutuante Engº Perestrello de Militar Naval, Vol. CXX,
da 3ª Esquadrilha, os Vasconcelos, no Arsenal do Alfeite. Janeiro-Março 1990, pág.
navios foram utiliza- 67-80.
dos até ao final da sua de actividade veio a ser atribuído ao Arsenal do 2Inicialmenteconstituída por 4
vida sem limitações à Alfeite quando da posterior integração das cor- navios, "ALBACORA", "BAR-
imersão máxima a que respondentes oficinas no Grupo de Oficinas de RACUDA", "CACHALOTE"
podiam mergulhar. As Armamento e Material Electrónico (G.O.A.M.E.) e "DELFIM", a Esquadrilha
ficou reduzida a 3 unidades
após a cedência à Marinha Francesa em 1975 do "CA-
condições de segurança em imersão mantive- CHALOTE", por se ter considerado na altura inviável, com
ram-se inalteradas ao longo de toda a sua vida, os recursos então existentes no Arsenal, a manutenção das
o que só pode ter sido alcançado com uma exi- quatro unidades, sem recorrer à criação de uma segunda
gente e cuidadosa manutenção dos navios3. linha de grandes reparações, o que não era sustentável
Voltando ao acto inicial da sua criação, pode- do Arsenal do Alfeite. economicamente.
-se afirmar que a I.R.S. nasceu de um equívoco, Juntamente com o destacamento para o Arse- 3Os submarinos da classe "ALBACORA" foram construí-
aliás consubstanciado no seu próprio nome: Ins- nal da maioria dos técnicos que tinham acom- dos a partir de 1964 e seriam idênticos aos submarinos
pecção, que de acordo com o despacho acima panhado em Toulon a grande reparação do "AL- "JUNON" e "VENUS", os dois submarinos franceses en-
citado "não devia interferir nem na execução dos BACORA", passou o Arsenal a controlar todos tão mais recentes da classe "DAPHNÉE". Na década de
trabalhos, nem no funcionamento dos outros os recursos de pessoal e de material de que a 60 do século passado estes submarinos convencionais
órgãos" do Arsenal, mantendo-se sempre em Marinha dispunha, para ser o único organismo eram dos melhores que então se construíam. A longa
funções a Divisão de Submarinos que até então responsável pela manutenção dos submarinos. vida dos 3 submarinos portugueses e a circunstância de
Em termos de organização era uma verdadeira por motivos orçamentais por norma só terem sido intro-
revolução no sistema então existente para a ma- duzidas as alterações que diziam respeito à segurança
coordenava a grande reparação do "BARRACU- nutenção dos navios da Armada! Um só respon- dos navios, levou a que estivessem militarmente obsole-
DA" no interior do Arsenal do Alfeite. tos no fim da sua vida.
Só que é preciso recordar que a criação da
I.R.S. era o resultado imediato do despacho de sávelpelosprazos,peloscustosepelaqualidade, N.R.
25 de Fevereiro de 1974 do então Ministro da sem a possibilidade de atribuir eventuais desvios O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2013 7