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REVISTA DA ARMADA | 522
Foto: Rui Salta
F.B.A. 100 cv, o primeiro hidroavião da Marinha Portuguesa.
Entretanto, os U-boat aventuravam-se cada vez mais na costa portuguesa,
aumentando exponencialmente os afundamentos e atacando inclusivamente
os navios no porto, tal como aconteceu no Funchal a 3 de dezembro. Perante
esta situação e na sequência de um pedido para comentar o plano do tenente
Larrouy, em 14 de janeiro de 1917, Sacadura Cabral faz uma exposição ao
Ministro da Marinha onde, de uma forma muito bem fundamentada, vai
expor as vantagens da vigilância aérea. Este relatório vai ter a maior receti-
vidade por parte do Ministro Azevedo Coutinho, também ele um grande
entusiasta das capacidades da aviação. Pode-se mesmo afirmar que a Aviação
Naval teve a sorte de ter tido Azevedo Coutinho como Ministro da Marinha
em dois momentos fulcrais: em 1917, na sua criação, e em 1922, aquando da
Travessia Aérea do Atlântico Sul.
A partir de janeiro de 1917 vão-se começar a tomar medidas concretas
para a edificação da aviação da Marinha. Em fevereiro começam na doca do
Bom-Sucesso as obras de instalação do futuro Centro de Aviação Marítima
de Lisboa, em março Sacadura Cabral e Roger Soubiran fazem em Vila Nova
da Rainha o primeiro voo numa aeronave da Marinha, é disponibilizada uma
verba de 500.000 francos e em abril Sacadura parte para França para adqui-
rir seis novos hidroaviões e material de apoio. Em junho partem para aquele
país mais dois futuros pilotos: o 2TEN Pedro Rosado e o 2TEN Santos Moreira,
assim como os técnicos para terminarem a sua formação. Em 21 de junho é
assinado um acordo de defesa com a França, onde se estabelece que este país
ficava com o comando do centro de hidroaviões de Aveiro e dos dirigíveis ,
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enquanto Portugal ficava responsável pelos centros de Lisboa e do Algarve.
Em 28 de setembro é finalmente promulgado o Decreto 3395, que cria de jure
o Serviço de Aviação da Armada e respetiva Escola, e na prática seria a partir
daqui que a Aeronáutica Naval iria seguir independente da Aeronáutica Mili-
tar. O início de facto da Aviação Naval dá-se no dia 14 de dezembro de 1917,
quando os dois F.B.A. da Marinha amararam no Bom-Sucesso, vindos da EAM,
marcando assim o início da atividade operacional, ainda muito condicionada
pelas dificuldades do con-
texto da época, sob a direção
Notas do carismático CTEN Afonso
1 Não está confirmada a afiliação deste oficial no de Cerqueira.
AeCP, mas na altura estava em diligência na Com- Assim começou a compo-
panhia de Aerosteiros do Exército; provavelmente
terá sido este o motivo que levou o Ministro da nente aérea da Marinha, que
Marinha a nomeá-lo para integrar a Comissão de ao longo dos seus 35 anos de
Aeronáutica Militar. existência continuou a deba-
Qualificado em observador aeronáutico desde
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1913, tinha já por esta altura comandado dois cen- ter-se com dificuldades e
tros de aviação (Corfu e Tessalónica). Em janeiro sempre a lutar pela sua pró-
de 1918, iria ser nomeado comandante do Centre pria existência, mas que dei-
d´Aviation Maritime d´Aveiro.
3 Em setembro de 1917, o 2TEN Adolfo Trindade foi xou marcas indeléveis na His-
incumbido de selecionar a localização das bases do tória, que certamente serão
Norte e do Sul, tendo escolhido S. Jacinto (Aveiro) e assinaladas nos próximos
a Ilha da Culatra (Faro-Olhão).
4 Portugal ficaria responsável pela construção das anos, pela comemoração dos
infraestruturas da base dos dirigíveis. Este projeto seus centenários.
nunca chegou a arrancar porque só os custos de
aquisição dos terrenos (Benfica ou Belém) estavam
muito acima da capacidade financeira do Ministério. Baptista Cabral
CFR
20 SETEMBRO/OUTUBRO 2017