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          surpresas quase todos sócios do Aero Club   mais tarde viria a ser fulcral. Havia também   agora, este é o primeiro sinal claro que se
          de Portugal, incluindo o 2TEN Lopes Vilari-  concorrido  para  piloto  o  Guarda-marinha   conhece  da  intenção  que  a  Marinha  tinha
          nho, o 2TEN Rego Chaves e o 2TEN Maqui-  de  Administração  Naval  António  Joaquim   de criar uma componente aérea. Logo em 10
          nista  Naval  Silva  Migueis .  Estas  comissões   Caseiro e os dois oficiais partem para França   de outubro de 1916 é apresentada uma pro-
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          vão  estabelecer  a  orgânica  da  escola  de   em  novembro  de  1915,  para  a  Escola  de   posta para instalar este centro no Alfeite, na
          aviação e a sua lotação, assim como vão pro-  Aviação Militar de Chartres. António Caseiro   área que atualmente fica entre a entrada da
          por a localização da escola, sendo um dos   recebe o brevet em 5 de fevereiro de 1916,   estação naval da BNL e o CNOCA, localização
          requisitos a proximidade ao rio para permitir   cabendo-lhe assim o mérito de ser o primeiro   esta que tinha as características ideais para a
          o treino com hidroaviões. A localização pre-  piloto da Marinha. Já Sacadura Cabral rece-  hidroaviação. No entanto, e por motivos que
          ferencial seria em Alverca, mas dificuldades   beu o brevet no dia 9 de março de 1916, após   não estão completamente esclarecidos, esta
          diversas vão forçar a escolha de um terreno   222 voos (aterragens) em 28h57m de voo.  proposta não foi aceite, pelo que Sacadura
          próximo de Vila Nova da Rainha. Desconhe-  De  Chartres,  Sacadura  Cabral  segue  para   Cabral contrapropôs a instalação provisória
          ce-se para já qual seria realmente a visão da   Saint Raphaël para se especializar em hidroa-  deste centro na doca do Bom-Sucesso que,
          Marinha para a sua aviação, porém os indí-  viões, ao passo que Caseiro vai para Ambé-  não  sendo  boa,  seria  pelo  menos  aceitá-
          cios indicam que na altura o foco da atenção   rieu  para  se  especializar  em  aviões  Voisin.   vel. Esta segunda proposta foi aceite, mas o
          eram os novos submersíveis e a aviação nem   Durante  esta  sua  estadia  em  França,  Saca-  Bom-Sucesso revelou-se um autêntico pesa-
          sequer era uma preocupação.       dura Cabral vai adquirir os primeiros hidroa-  delo. Não era abrigado nem ao vento nem à
           Refira-se  também  que  foi  em  1912  que   viões da Marinha, dois F.B.A de 100 cv que   mareta, o espaço na doca era exíguo, o lan-
          o GMAR AN Miguel Freitas Homem fez um   vão chegar a Portugal em janeiro de 1917. É   çamento  dos  hidroaviões  através  da  única
          requerimento  para,  à  primeira  oportuni-  também em Saint Raphaël que vai conhecer   rampa  de  madeira  era  moroso  e  o  movi-
          dade,  frequentar  um  curso  de  pilotagem,   Roger Soubiran, que no final do ano vai ser   mento de navios ou embarcações no rio e na
          sendo por isso o primeiro militar português   contratado para mestre geral das oficinas do   doca muitas vezes conflituava com os hidros.
          a candidatar-se a piloto.         Bom-Sucesso, sendo assim este francês o pri-  Refira-se  também  que  o  Bom-Sucesso
           Será em 14 de maio de 1914 que vai ser   meiro mecânico de aviação da Marinha.  manteve o seu estatuto de “provisório” até
          promulgada a histórica Lei nº 162, que cria   De regresso a Portugal, em setembro de   1952. Embora a entrada no conflito europeu
          a Escola de Aeronáutica Militar (EAM) e que   1916, ambos os pilotos ficam como instru-  fosse um objetivo estratégico para Portugal,
          marca  também  o  início  da  aviação  militar   tores de voo na EAM, onde Sacadura Cabral   havia uma clara consciência de que o país
          portuguesa. “Para instrução e serviço espe-  vai ser também o Diretor de Instrução. O pri-  não  estava  minimamente  preparado  para
          cialmente com os hidro-aeroplanos e ainda   meiro curso de Vila Nova da Rainha arranca   a guerra. A maior preocupação da Marinha
          com o material naval indespensável para o   no final de 1916 e conta já com dois alunos   era a ameaça dos U-Boat, pelo que grande
          funcionamento  da  Escola  haverá  anexa  à   da Marinha: o 2TEN Azeredo e Vasconcelos   parte do esforço de modernização foi no sen-
          mesma Escola uma secção de marinha”.   e o 2TEN Adolfo Trindade. Vai ser também   tido de obter acesso às novas tecnologias de
           Em 14 de agosto de 1915, o Ministério da   na EAM que vão começar a sua formação   defesa antissubmarina. No que diz respeito
          Guerra abre finalmente um concurso para os   os primeiros técnicos: para montadores de   à aeronáutica naval, toda a colaboração veio
          oficiais do Exército e da Armada que desejas-  hidroaviões,  os  sargentos  carpinteiros  Joa-  de França, tendo-se comprometido este país
          sem obter o seu brevet de piloto no estran-  quim  Caperta  e  António  Tavares,  o  criado   a fornecer o material necessário e a formar
          geiro. É aqui que entra em cena aquele que   Romão  e  o  1º  artilheiro  Gonçalves;  para   todo o pessoal aeronáutico. Foi também de
          viria a ser o grande impulsionador da Avia-  mecânico de aviação, o sargento serralheiro   França que veio o primeiro estudo de imple-
          ção Naval: o 1TEN Artur de Freire Sacadura   José de Faria.          mentação de um sistema de vigilância aérea
          Cabral. Este oficial tinha regressado a Lisboa,   Após  a  chegada  de  Sacadura  Cabral  de   da costa portuguesa. Este estudo, efetuado
          após  ter  passado  os  últimos  14  anos  em   França, o Ministro da Marinha, então o CTEN   pelo Lieutenant de Vaisseu Maurice Larrouy ,
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          África, alguns dos quais na equipa do CTEN   Victor Hugo de Azevedo Coutinho, designou   no final de 1916, preconizava a instalação de
          Gago Coutinho, com quem desenvolveu uma   aquele aviador para escolher um local para   três centros de hidroaviões (Norte, Lisboa e
          relação  de  amizade  e  respeito  mútuo  que   a instalação dum centro de hidroaviões. Até   Sul)  e um centro de dirigíveis (Lisboa).
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