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REVISTA DA ARMADA | 522
HOMENAGEM A JACINTO CÂNDIDO
EM PENAMACOR
o passado dia 9 de julho, teve lugar em
NPenamacor uma homenagem a Jacinto
Cândido, para a qual foi convidada a Mari- Fotos: CMG FZ Carmona
nha, que se associou com entusiasmo,
colaborando nas diversas realizações.
O conselheiro Jacinto Cândido nasceu
em Angra do Heroísmo, nos Açores, a 30
de novembro de 1857. Ligam-no, contudo,
a Penamacor os laços do casamento que
contraiu, em 1893, com Dona Balbina Osó-
rio de Castro Meneses Pita, filha do conde
de Proença-a-Velha, cuja residência prin-
cipal era nesta vila. Conheceu-a através
dos irmãos, que foram seus condiscípulos
na Universidade de Coimbra, crescendo
com eles uma amizade que se consolidou
com este casamento e que levou o jovem
açoriano para as terras da Beira Baixa, às
quais ficou ligado de forma indelével. Nas
palavras do seu médico, amigo e biógrafo,
José Lopes Dias, em Penamacor “demorou, da classe João Coutinho. O NRP Jacinto 2.º repartição da Direcção Geral do Ultra-
com intermitências, o melhor de 33 anos” Cândido entrou ao serviço em junho de mar e, em 1895, depois da vitória eleito-
da sua vida. 1970 e ainda prossegue, 47 anos depois, a ral do seu partido, foi nomeado Ministro
Jacinto Cândido faleceu em Lisboa, em sua missão de serviço de Portugal. Todos da Marinha e Ultramar.
1926, e aí foi sepultado, porém, aquando do os marinheiros sabem bem de que navio Anos mais tarde, num texto dedicado
centenário do seu nascimento, o município se trata, mas serão menos os que têm ao seu filho, escreveu que entrou para o
de Penamacor prestou-lhe homenagem, consciência da verdadeira dimensão do Ministério “muito contrariado e a muitas
transferindo as suas cinzas para o jazigo da seu patrono. instâncias a rogos do Hintze Ribeiro, mas
família Menezes Pita, adoptando-o definiti- Nasceu – como já referido – nos Açores, saí de lá convencido de que algo de útil
vamente como um “filho da terra”. Em 1958 em 1857, onde permaneceu até à idade tinha feito”. É a modéstia que o impele a
erigiu em sua memória, no Jardim Público, de 19 anos, quando veio estudar para a classificar como tendo sido “algo de útil”
um monumento com o busto do insigne Universidade de Coimbra. Cursou Direito aquilo que foi uma obra meritória, cuja
conselheiro, enquadrado numa quadrela de e apaixonou-se pela advocacia e pela dimensão só não foi maior, dada a preca-
granito, onde pode ler-se um trecho dum actividade política, que exerceu entusias- riedade dos governos de então, onde os
discurso por si proferido no parlamento. ticamente desde muito cedo, em Angra ministros não aqueciam as cadeiras e as
do Heroísmo. Tinha excelentes dotes de obras ficavam sempre a meio.
O CONSELHEIRO oratória e ideias políticas muito fortes, Encontrou a Marinha dominada por um
JACINTO CÂNDIDO sendo eleito deputado pela sua região, sentido global de revolta, vivendo um
ambiente insustentável que passara por
em 1886, pelo Partido Regenerador, cujo
A Marinha conhece bem o nome de chefe era Ernesto Hintze Ribeiro, natural agressões físicas dentro do Parlamento,
Jacinto Cândido, dado a uma das corvetas de Ponta Delgada. Em 1892 era chefe da mas conseguiu uni-la numa missão patrió-
tica, empolgando o seu sentido de dever
numa via à qual dedicou toda a sua energia
e empenho. Recordemos que a segunda
revolução industrial – aquela que trouxe
os benefícios da electricidade e das ligas
de aço – permitiu a criação de unidades
navais de muito maior porte e capacidade.
Portugal ficou fora dessa revolução e per-
deu considerável poder oceânico, nomea-
damente no que diz respeito à defesa de
Lisboa e dos espaços adjacentes, como os
arquipélagos atlânticos. Para superar esta
dificuldade, o novo ministro fez aprovar,
em 1896, uma lei que previa a construção
de vários cruzadores ligeiros. Foi possível
financiar quatro deles, a que se acrescen-
16 SETEMBRO/OUTUBRO 2017