Page 13 - Revista da Armada
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A Capitania do Porto de Aveiro
           A Capitania do Porto de Aveiro



                                   Breve Historial do seu antigo Edifício








         Desde que em 1996 passou a ser notícia nos jornais,                   pitania, chegou mesmo a ser designado
         o antigo edifício da Capitania do Porto de Aveiro                     como Ribeira das Azenhas, em face do ele-
                                                                               vado número daqueles engenhos que se
         tornou-se, talvez, no mais conhecido edifício                         concentraram ao longo das suas margens.
         da Marinha e, também, no mais polémico.                               Com a continuação da expansão ultrama-
                                                                               rina e consequente abandono da agricul-
         Mesmo em termos locais, todos conhecem o edifício                     tura, as azenhas do Cojo perdem valor
         da Capitania, ponto de referência obrigatório                         económico e entram em ruína. Durante
         dos aveirenses, mas poucos conhecem o seu passado                     algum tempo não se sabe sequer a quem
                                                                               pertenceram. Em 1700 encontravam-se na
         e a sua ligação com a história local.                                 posse de António de Távora Noronha e

              ste emblemático edifício tem uma
              longa história, que remonta aos
         E tempos do início da expansão por-
         tuguesa. A mais antiga referência feita a
         um edifício naquele local, é um do-
         cumento da chancelaria de D. João I data-
         do de 8 de Janeiro de 1406, autorizando o
         escrivão da câmara do monarca a fazer em
         Aveiro umas moendas num esteiro do mar
         que entra pela parte do dito lugar, acima da
         dita ponte, que moesse com água do mar (1).
           Nessa época remota, Aveiro encontra-
         va-se num período de grande desenvolvi-
         mento com a barra da ria natural e franca,
         facultando a navegação fácil e o fluxo de
         correntes a penetrar até zonas onde hoje
         só já há terrenos e águas quase paradas.
           Aquelas azenhas passariam mais tarde
         para a posse do Infante D. Pedro; após a
         sua derrota e morte na batalha de Al-
         farrobeira, os seus bens seriam confiscados  de Julho de 1449. Referem duas azenhas  Leme, fidalgo da casa de sua Majestade,
         e entregues a apoiantes de D. Afonso V.  “que Sm no RO que vai per a junto da uilla  morador da cidade do Porto. Os seus pa-
         As casas e azenhas são doadas ao conde  daveiro que mooem com aagoa do mar que  rentes, anteriores proprietários, haviam
         de Odemira. Existe uma carta de doação  foram do Iffante dom pedro”.  permitido que a caldeira se entulhasse, que
         de D. Afonso V a este nobre, datada de 6  O actual Canal do Cojo, vizinho da Ca-  a casa da azenha se destelhasse e ficassem
                                                                               apenas as paredes de pé.  O edifício era de
                                                                               um só piso, com as janelas viradas para
                                                                               Oeste, e assentava em arcos por onde pas-
                                                                               sava a água que fazia mover as pás.
                                                                                 Em 1830, José Ferreira Pinto Basto, fun-
                                                                               dador da Fábrica de Porcelanas da vista
                                                                               Alegre, comprou o ilhote do canal do Co-
                                                                               jo, reconstruindo o edifício e reactivando o
                                                                               moinho de marés para servir de apoio à
                                                                               fábrica de porcelanas.

                                                                                 Para isso foi necessário desaterrar uma
                                                                               parte do ilhote a fim de formar uma
                                                                               caldeira. As obras do edifício foram entre-
                                                                               gues a Joaquim José de Oliveira, que mante-
                                                                               rá as pequenas abobadas formando vãos em
                                                                               arco, onde as rodas activavam as mós colo-
         O Moinho de Maré, cerca de 1850.                                      cadas no amplo salão interior do edifício.   ✎
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2000  11
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