Page 16 - Revista da Armada
P. 16

piso do edifício, a título precário, a Asso-  móvel, em terreno con-
         ciação de Municípios da Ria de Aveiro  tíguo ao do seu edifício
         (AMRIA), período que coincidiu com a  de Aveiro, por o
         utilização da sede daquela instituição (a  mesmo contrariar a
         antiga Assembleia Distrital) como tribunal  legislação relativa ao
         para o julgamento do processo que ficou  uso do Domínio Públi-
         conhecido como Aveiro Connection.  co Marítimo, uma vez
           Após a transferência dos serviços para o  que pressupunha a
         Forte da Barra a Marinha viria a receber  constituição de pro-
         informações sobre o interesse de alguns  priedade privada em
         serviços no seu edifício, tentando mesmo  área do Domínio Pú-
         que ele viesse a ser utilizado e evitando a  blico (10). No entanto,
         sua degradação e esquecimento (7).  o edifício veio a obter
           Esta verdadeira obra-prima da arquitec-  licença de construção
         tura portuguesa do princípio do século  da Câmara Municipal
         XX em Portugal, que contribuiu para que  de Aveiro e, em finais
         Aveiro merecesse o título de Veneza por-  de 1993 iniciam-se os
         tuguesa, que há anos é divulgada como  trabalhos de demolição
         ex-libris da Cidade de Aveiro e que  do edifício conhecido
         chegou a ser apontada como sede possível  como Garagem Trin-
         do futuro Museu da República, é cobiçado  dade onde posterior-
         pela Câmara.                       mente iria ser construí-
           Em 30JAN93 sai no Diário de Aveiro um  do o edifício hoje de-  A fachada Norte com a entrada principal em 1998.
         artigo em que é afirmado que "a Câmara  signado como Centro
         Municipal de Aveiro está disposta a dar o que  Avenida, constituído por duas caves para  Em 23NOV95, a residência é, final-
         for preciso para obter o edifício da antiga  estacionamento e 4 pisos acima da superfí-  mente, abandonada e, na manhã do dia
         Capitania". Após a notícia a Marinha escreve  cie, ultrapassando, em muito, a altura do  24NOV são retirados do edifício todos os
         ao Presidente da Câmara  para saber do  edifício da Capitania, embora numa  bens pertencentes à Capitania, nomea-
         real interesse do Município (8) pelo edifício.  gradação em socalcos.  damente parte da Biblioteca, o armamento
         Após algumas diligências a C.M.A. comu-  É notório o desrespeito pelo velho edifí-  e todo o recheio da residência do capitão
         nica que "a Câmara não tem dinheiro para  cio público, parecendo mesmo que "pre-  do porto (12). Logo a seguir foram corta-
         pagar à Marinha o que esta pede, pois entre ou-  paratória ou mesmo tendente a provocar o seu  dos os abastecimentos de água e electrici-
         tros compromissos teve de comprar por  desaparecimento, para dar lugar a uma anódi-  dade, por razões de segurança, e pro-
         450.000.000$00 o Teatro Aveirense" (9).  na construção moderna (que já se encontra no  cedeu-se ao escoramento do interior do
           Em Abril de 1993 foram também estabe-  local e parece aguardar o seu desaparecimento)  edifício (13).
         lecidos contactos com a Universidade de  e chocante pelo seu desajustamento em relação  Algumas afirmações do presidente da
         Aveiro que, embora manifestando inte-  ao (…) centro histórico"(11).  Câmara de Aveiro (14) em reunião camará-
         resse no edifício nada mais adiantou.  Como curiosidade sobre o que atrás fica  ria, em que acusava a Marinha pelo estado
           Em Novembro de 1993, a Capitania dá  referido, foi constatado pelo autor que a  de degradação do edifício, e esquecendo as
         um parecer negativo ao projecto de cons-  maqueta do novo edifício e suas envol-  eventuais responsabilidades da edilidade
         trução de um edifício destinado a comércio,  ventes, não contemplava o edifício da  em todo o processo de licenciamento da
         serviços, habitação e parqueamento auto-  Capitania. Também um folheto de propa-  obra, provocou algum mal estar (15).
                                                   ganda que foi deixado no pára-  Nos primeiros meses de 1996 verificou-
                                                   -brisas do carro do autor, apre-  -se mais um facto insólito. Durante uma
                                                   senta, no local do edifício, um  das inspecções ao edifício verificou-se que
                                                   passeio para peões…         tinham sido montados andaimes da obra
                                                    Em Novembro de 1993, a pedi-  no terreno (vedado) do edifício e sobre a
                                                   do do Capitão do Porto é efectua-  garagem do mesmo, para efectuar os aca-
                                                   da uma vistoria ao edifício por  bamentos exteriores do novo edifício e
                                                   técnicos da Junta Autónoma do  sem que tenha sido solicitada,  à Capitania
                                                   Porto, da Direcção de Infra-Estru-  ou à Direcção de Infra-Estruturas, a neces-
                                                   turas e da Câmara Municipal.   sária autorização. Uma queixa crime, por
                                                     Em Março de 1994, e após  entrada em propriedade vedada, foi for-
                                                   muitos reparos ao dono da obra,  malmente entregue pela Capitania na
                                                   relativamente aos estragos que  Delegação do Ministério Público junto do
                                                   aqueles trabalhos provocavam no  Tribunal Judicial de Aveiro, mas não se
                                                   edifício da Capitania, foi solicitado à  tem, até ao momento, conhecimento do
                                                   Câmara Municipal de Aveiro uma  seu desenvolvimento.
                                                   vistoria ao edifício de modo a poder  Os andaimes foram retirados, em pou-
                                                   apurar-se quais os danos provo-  cas horas, após notificação entregue pela
                                                   cados pela construção em curso.  Polícia Marítima ao empreiteiro no local
                                                    Em Outubro do mesmo ano,   da obra (esta decorria em área do
                                                   nova vistoria confirma o agrava-  Domínio Público Marítimo).
                                                   mento dos danos. Apesar dos   No primeiro semestre de 1996 a crítica
                                                   sucessivos pedidos da Capitania  de arte Dr.ª Maria João Fernandes, bisneta
                                                   para que os trabalhos fossem  de Silva Rocha, inicia uma campanha em
                                                   embargados ou suspensos, estes  defesa do edifício, e que culminaria com a
                                                   prosseguiram sempre em ritmo  sua classificação como de interesse público.
         A fenda na fachada Norte (Avenida Lourenço Peixinho).  acelerado.     Assinaram o documento, entre outros,
         14 JANEIRO 2000 • REVISTA DA ARMADA
   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21