Page 17 - Revista da Armada
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Siza Vieira, Agustina Bessa Luís, Barquero va e as sucessivas alterações introduzidas, Só em Janeiro de 1994 a empresa
Moreno, José Augusto Seabra e Júlio nomeadamente as duas portas interca- responsável pelo projecto do Centro
Resende. Siza Vieira diria, a respeito ladas por uma janela em cada uma das Avenida elabora o projecto de contenção
daquele edifício "... uma obra de excepcional fachadas laterais do edifício bem como a periférica através da aplicação da técnica
qualidade arquitectónica e de valor histórico lareira onde os trabalhadores aqueciam as das paredes moldadas que delimitariam
indiscutível..." suas marmitas, uma vez que, sujeitos aos todo o contorno da obra, o que seria
O pedido é justificado porque a "extraor- horários das marés, eram obrigados a lon- acompanhado de algumas medidas
dinária beleza da construção reside na sere- gas permanências no moinho. Também cautelares que incluíam:
nidade e equilíbrio que nos comunica, como se foram observadas, junto às janelas da • Inspecção prévia do edifício da Capi-
fosse a imagem construída do meio natural em fachada poente (a da Ria), sobre a arcaria, tania e conhecimento do projecto para es-
que se insere, as águas da ria deslizando calma a parte superior das abóbadas de pedra tudo das deformações admissíveis nas
e inexoravelmente a seus pés. O subtil jogo de que albergavam os rodízios, cobertas que várias fases de construção;
movimentos da composição da fachada, parece estiveram, durante décadas, por um piso • Diminuição da pressão de injecção
culminar no crescendo do das ancoragens.
frontão triangular, remata- Já depois de iniciadas
do por dois arabescos. Uma as obras, e por solici-
imagem do equilíbrio da tação da Capitania, a
dinâmica de forças em Câmara Municipal de
acção da natureza; o re- Aveiro realizou, em
pouso e a expansão, a cal- Março de 1994, uma
ma e o movimento, o en- vistoria ao imóvel onde
raizamento e o fluxo das terão concluído que:
águas, das nuvens e do • O edifício se en-
vento, gloriosa sinfonia contrava fundado em
que tem resistido ao zona lodosa, suspeitan-
tempo…" (16). do-se que as fundações
Em Novembro de tenham sido executadas
1996 efectuam-se algu- por meio de fundação
mas perfurações, no directa complementada
logradouro da capitania, com estacaria de ma-
para determinar as ca- deira;
racterísticas geológicas • A demolição do
do solo em que o edifí- Estado actual do imóvel em finais de 1998. Por trás observa-se o polémico Centro Avenida. edifício contíguo, com
cio assenta e também utilização de equipa-
para determinar, com mento pesado, com a
precisão, a altura das lamas e calcular o de enchimento de tijolos e cimento. Eram queda de elementos de construção pesa-
comprimento das novas estacas de modo também visíveis, nesta fase da obra, os dos, tenha feito vibrar razoavelmente o
a assentarem em solo resistente, para que orifícios por onde passava o freio que liga- solo, afectando o frágil equilíbrio da Ca-
não se verificassem posteriores assenta- va as rodas das mós. pitania;
mentos e novas inclinações. Estes estudos Todo o edifício correspondente à primi- • Os utilizadores do edifício apresen-
geológicos indicaram solo firme a 35 me- tiva área do moinho apresenta ainda, sob tam novas fendas surgidas após o começo
tros de profundidade! uma placa de material de enchimento, o dos trabalhos de demolição.
Entretanto, o projecto de recuperação lajeado em pedra em excelente estado de
do edifício é concluído, não prevendo a conservação. Em Outubro do mesmo ano, uma
demolição de nenhum dos alçados. O edi- Uma eventual decapagem exterior do segunda vistoria alega que o estado
fício prevê a instalação de serviços no rés- edifício permitiria um melhor estudo das avançado da deteriorização se agravou
-do-chão, residências no 1º andar e arqui- diversas fases de construção e das sucessi- porque:
vos no sótão. vas alterações do edifício. • As fissuras anteriormente notadas
Desde 1996 até ao início das obras o A segunda fase de recuperação do edifí- alargaram e estenderam-se;
edifício era inspeccionado exteriormente cio – reconstrução do seu interior – veio a • Apareceram novas fissuras em eleva-
todos os dias e visitado interiormente ser suspensa devido à não aprovação, do número, nomeadamente nos cantos
todos os Domingos (17). pelo Tribunal de Contas, do projecto ali das portas e janelas (18);
Em 21 de Janeiro de 1997 deu entrada apresentado, situação que se mantém. • A porta da garagem deixou de poder
no Tribunal Judicial de Aveiro uma acção Evolução da Degradação depois de movimentar-se;
de indemnização com vista ao ressarci- 1993. • Apareceu uma enorme fissura na
mento dos danos causados por parte dos A degradação estrutural do edifício fachada principal do edifício (Av. Dr.
promotores da construção do Centro Ave- aumenta, de modo nunca antes verificado, Lourenço Peixinho) que o corre de alto a
nida, presumíveis responsáveis pela actu- a partir de Novembro de 1993. Esta baixo e com grande abertura junto ao te-
al situação. evolução da ruína do edifício vem sendo lhado (19).
O Diário da República de 30 de atribuída principalmente ao início da
Outubro de 1997 publica a classificação do construção de um edifício adjacente – o São deste período também as grande
edifício da Capitania como Imóvel de Centro Avenida – cujo volume de esca- fissuras horizontais na cozinha e na casa
Interesse Público. Em Março do ano vações movimentou terras com a altura de de banho da residência que originaram
seguinte têm início os trabalhos da 1ª fase duas caves (cerca de 9 metros). rupturas nas canalizações e que coincidi-
das obras de recuperação do edifício, cons- O projecto inicial da nova construção ram com a realização das ancoragens (20).
truindo novas fundações através do sis- não especificava quaisquer competências
tema designado por micro-estacas. técnicas quanto à consolidação dos ali- Um parecer do Laboratório Nacional de
Durante as obras foi possível observar cerces tanto do novo edifício como do da Engenharia Civil, emitido em Janeiro de
no interior as zonas da construção primiti- Capitania. 1995, considera que os danos estruturais ✎
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2000 15