Page 15 - Revista da Armada
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Câmara Municipal de Aveiro pretendia
levar a efeito.
Só em meados de 1965 o Ministério da
Marinha vem a ter conhecimento oficial das
intenções da Câmara em transferir para a
zona do Canal da Pirâmides o edifício da
capitania, a fim de demolir o existente e ali
construir uma ponte.
No entanto, a nova localização proposta
para a Capitania mereceu reparos desfavo-
ráveis quer do Capitão do Porto, quer da
Direcção-Geral de Marinha, nunca se tendo
acordado no novo local para a instalação da
Capitania.
Mas outras dificuldades viriam a surgir
com o Plano Rodoviário da Câmara Municipal
de Aveiro. As novas pontes a construir sobre
o Canal Central obrigariam a reduzir de 30
para 10 metros a largura do canal e limita-
O Edifício já a funcionar como Capitania do porto de Aveiro. Notar as lanchas atracadas. vam ainda a altura das embarcações que ali
navegavam.
dívidas à Caixa Geral de Depósitos, liber- Traçado Rodoviário do Plano Director da Cidade Tais factos vieram a levantar as objecções
tam o edifício em 16 de Fevereiro de 1922. de Aveiro. É na sua qualidade de vogal da dos responsáveis pela Junta Autónoma do
Em 14 de Agosto de 1925, o comerciante Comissão Administrativa daquela Junta (4) Porto de Aveiro pela Capitania do Porto,
e armador Alfredo Esteves, membro da que o capitão do porto de Aveiro tem co- merecendo ainda a crítica do clube Os
Comissão Consultiva da Empresa de nhecimento do plano que implicava a pura Galitos – através de exposição dirigida ao
Navegação e Exploração de Pesca, Lda., demolição do edifício da Capitania, tendo capitão do porto – e alguns artigos de jor-
compra o imóvel à sua proprietária, então levantado, desde logo a questão da necessi- nais regionais.
em liquidação, pelo valor de 170.000$00. dade de ser consultado o Ministério da Ma- Por razões que se desconhecem, mas que
O edifício foi também sede do Clube do rinha. Estes factos foram comunicados à poderão estar ligadas com os elevados cus-
Galitos. Câmara pela Junta Autónoma e à Direcção- tos do projecto, este plano não viria a ser
Em 1925, como resultado de uma ordem -Geral de Marinha pela Capitania em realizado, e como tal, nem a Capitania foi
de expropriação (Portaria n.º 301 de 23 de Dezembro de 1962. demolida nem o canal viu a sua largura re-
Dezembro de 1923) o imóvel foi vendido Em princípios de 1964, apareceu na Junta duzida.
pelo comerciante e armador Alfredo Este- Autónoma o plano de Arranjo Urbanístico da Em Setembro de 1992, as obras em curso
ves ao Ministério da Marinha, passando Zona Central de Aveiro para aquela entidade no Porto de Aveiro, que transferem para a
desde então a servir e a ser conhecido como informar o que tivesse por conveniente… zona da Gafanha da Nazaré e Forte da Bar-
o edifício da Capitania do Porto de Aveiro, Este processo deu entrada naquela Junta ra os principais terminais portuários e a se-
e também residência do capitão do porto. através da Direcção-Geral dos Serviços Hi- de da Junta Autónoma do Porto de Aveiro,
A escritura efectuou-se em 7 de Janeiro de dráulicos (5), levando aquela entidade a ofi- levam a Capitania a transferir também para
1926 e os seus proprietários receberam a ciar, em Março de 1964, a Direcção-Geral aquele local as suas instalações (6), dei-
quantia de 250.000$00 como valor da in- dos Serviços de Urbanização, chamando a xando apenas no edifício de Aveiro a resi-
demnização pela expropriação. atenção para o facto de que teria sido prefe- dência do capitão do porto. Em 1993 são fei-
A construção do torreão, onde mais tarde rível a Câmara Municipal de Aveiro ter soli- tas na residência do Capitão do Porto im-
viria a ser instalado o Centro de comu- citado directamente aquela informação, an- portantes obras de beneficiação; as paredes
nicações da Capitania (2), provocou uma tes do seu envio a instâncias superiores, o foram picadas e rebocadas, e foram subs-
ligeira inclinação do edifício que se estabili- que permitira o ajustamento imediato de tituídas as loiças e os azulejos da cozinha e
zou com a demolição da parte superior qualquer ponto que merecesse reparo. Desta das casas de banho, trabalhos em que foram
daquele, cerca de 1940 (3 ). resposta deu a Capitania conhecimento à gastos cerca de 1.900.000$00!
Em princípios da década de 1960, a Direcção-Geral de Marinha, nomeadamente Em 1993 e 1994 esteve instalada no 1º
Câmara Municipal de Aveiro manda elabo- transcrevendo o que
rar um importante estudo urbanístico com ali foi dito relati-
vista à renovação urbanística do centro da vamente à Capitania,
cidade e à resolução do problema do trá- concretamente no
fego rodoviário e incluído no Plano que respeitava à utili-
Director da Cidade. zação do Canal Cen-
Esse estudo, designado Arranjo Urba- tral de Navegação e
nístico da Zona Central de Aveiro, e que pre- suas margens e à ocu-
via a demolição do edifício da Capitania e pação do Domínio
de outros edifício ao longo do Canal Cen- Público Marítimo, e
tral, nasceu torto e nunca se endireitou, cujo parecer poderia
razão pela qual veio a morrer prematura- entravar a boa mar-
mente. cha do processo.
A Marinha – então Ministério da Ma- Apesar destas in-
rinha – só muito tarde veio a conhecer este tervenções, o Minis-
projecto, como sempre tem acontecido… tério da Marinha con-
Vamos aos factos! tinuou sem qualquer
Em 1962 é enviado à Junta Autónoma do informação formal
Porto de Aveiro o projecto do Esquema do sobre as obras que a Vista aérea do Edifício, cerca de 1945. ✎
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2000 13