Page 94 - Revista da Armada
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de Monumentos Cartográficos da Idade Mé-                               tos e introduzidas as adequadas alterações nos
         dia, autêntica e melhor história da Geografia                          navios, foram usados o caravelão, a caravela
         dessa época); a Documentação Gráfica; os Mo-                           latina, a caravela redonda, a nau e o galeão.
         delos; e a Pintura (especial referência para a co-                    Este último, era um navio que para além de
         lecção de treze quadros a óleo e doze aguarelas                       estar preparado para o transporte de grande
         da autoria de Roger Chapelet, pintor francês                          volume de carga, podia ainda efectuar a escolta
         grande amigo de Portugal e da Marinha Por-                            das Armadas portuguesas, sobretudo durante
         tuguesa, um quadro a óleo de grandes dimen-                           a viagem de regresso da Índia.
         sões da autoria de Morel Fatio representando                            A vasta colecção de modelos de navios de
         a Batalha Naval do Cabo de São Vicente em                             vários tipos utilizados na época dos Descobri-
         5 de Julho de 1833 e ainda um pequeno qua-                            mentos mostra a importância dos meios uti-
         dro a óleo de Peter Monamy representando                              lizados para concretização de uma estratégia
         um combate naval entre um navio Português                             de expansão, por um lado, e da procura de
         e vários navios de piratas berbéres).                                 produtos para satisfazer as necessidades dos
           Dispõe ainda o Museu de um Arquivo de                               portugueses, por outro.
         Fotografia, que engloba vários tipos de ima-                             De entre os modelos expostos merece refe-
         gens fotográficas (negativos, diapositivos e pro-                      rência especial a Nau “Madre de Deus”, mode-
         vas em suporte de papel) fundamentalmente                             lo construído por três colaboradores do museu.
         relacionadas com temas de natureza naval ou                           Os desenhos e relatórios existentes nos arqui-
         marítima e que se encontra em permanente                              vos do Museu Marítimo de Greenwich relati-
         crescimento, como também de um Arquivo   Henrique Maufroy de Seixas.  vos àquela nau foram analisados e estudados
         de Imagens em Movimento, de diversas épo-                             durante cerca de quatro anos, prolongando-se
         cas, e ainda de um Arquivo Histórico de Dese-  brimentos constitui o principal tema da exposi-  a sua construção por mais três anos. Trata-se
         nhos e Planos, constituído por uma numerosa  ção permanente do Museu, já que evoca a épo-  de um navio da carreira da Índia que em 1592,
         colecção de documentos respeitantes à cons-  ca áurea das navegações portuguesas. O espaço  na sua viagem de regresso a Lisboa, carrega-
         trução naval de navios e embarcações nacio-  dedicado a este período da nossa história, a sala  do de especiarias e carga diversa, foi apresado
         nais dos mais diversos tipos, e que ascende  das descobertas, engloba objectos de natureza  por piratas ingleses ao largo dos Açores e le-
         a mais de 1500 exemplares. Estes Arquivos  diversa: réplicas de padrões, uma escultura ori-  vado para Dartmouth, Inglaterra. Tinha mais
         encontram-se acessíveis ao público. Refira-se  ginal em madeira representando o Arcanjo São  de 1.200 tons de deslocamento, 49,5m de com-
         ainda a Biblioteca especialmente dirigida para  Rafael, santo patrono do navio com o mesmo  primento, 13,8m de boca e 7,8m de calado à
         a investigação interna mas que permite o acesso  nome capitaneado por Paulo da Gama, quan-  chegada a Dartmouth. As grandes dimensões
         público. Possui cerca de quinze mil títulos de-  do da viagem de descobrimento do caminho  do navio comparativamente às praticadas na
         dicados preferencialmente aos Descobrimentos  marítimo para a Índia; um altar portátil de  maioria das construções da época foi motivo
         e à temática naval. Do seu acervo bibliográfico  madeira, de finais do séc. XV, que se admite  de grande admiração por muitos interessados
         destacam-se manuscritos originais e obras im-  ter acompanhado Vasco da Gama a bordo da  e estudiosos.
         pressas anteriores ao séc. XIX, algumas de raro  nau “S. Gabriel”; várias peças de artilharia na-  Em núcleo dedicado à navegação, para além
         valor e beleza.                    val dos séculos XV a XVII, de que sobressaem  das réplicas de cartas náuticas da autoria de ar-
           A exposição permanente estende-se ao longo  quatro falconetes, e quatro berços manuelinos  tistas portugueses, podem ser apreciados nes-
         de treze salas situadas nas alas norte e oeste do  recuperados da nau “Santiago”, afundada no  ta sala muitos e variados instrumentos náuti-
         Mosteiro, junto ao qual foram construídos um  canal de Moçambique em 1585, que constituem  cos expostos em núcleo próprio. De destacar a
         amplo pavilhão para exposição das galeotas e  uma colecção de peças de artilharia reveladora  valiosa colecção de nove astrolábios náuticos,
         um complexo destinado à direcção e serviços a  da superioridade técnica patenteada pelos por-  constituindo a maior colecção deste tipo de
         que se juntou, posteriormente o Planetário Ca-  tugueses naquela época, e inúmeros modelos  instrumentos a nível mundial, que evoca o pe-
         louste Gulbekian. No piso inferior do edifício  de navios e embarcações que traçam uma evo-  ríodo em que a investigação e tecnologia por-
         que aloja a direcção e serviços, desenvolve-se  lução cronológica da construção naval durante  tuguesas caminhavam na vanguarda.
         a todo o comprimento uma galeria onde se en-  a expansão Portuguesa.    Pedro Nunes, insígnie matemático, teórico
         contram expostas quatro embarcações tradicio-  A barca foi o tipo de embarcação inicialmen-  da curva loxodrómica e autor de numerosas
         nais portuguesas de grande porte e nove peças  te utilizado nas primeiras incursões dos portu-  obras que o projectaram além fronteiras, criou
         de artilharia naval dos séculos XVI a XIX.  gueses na costa africana; sucessivamente, e à  o nónio, método que permitiu aumentar a pre-
           A sala de entrada do Museu pode ser con-  medida que iam sendo recolhidos ensinamen-  cisão das leituras nos instrumentos de altura
         siderada como um espaço de                                                     cujas escalas, até então, tinham
         preparação para a visita. Uma                                                  como menor divisão o grau. Inte-
         estátua do Infante D. Henrique                                                 grado no núcleo dos instrumen-
         rodeada pelas estátuas dos nave-                                               tos náuticos, pelo seu incontes-
         gadores portugueses que come-                                                  tável interesse para a história da
         çaram a aventura marítima sob a                                                ciência, pode ser apreciada a répli-
         sua orientação directa conferem                                                ca de um quadrante astronómico,
         uma atmosfera de sobriedade                                                    com aplicação do nónio de Pedro
         que convida à contemplação e à                                                 Nunes, cujo original se encontra
         aprendizagem. Sobre um grande                                                  no Museu de História da Ciência,
         planisfério que cobre a parede do                                              em Florença.
         fundo estão indicadas as grandes                                                 Na sala consagrada à activida-
         rotas marítimas dos portugueses                                                de naval do séc. XVIII e princípio
         dos princípios do séc. XV até ao                                               do séc. XIX, encontram-se algu-
         fim do séc. XVI, bem assim como                                                 mas peças notáveis. Chamam
         o meridiano acordado entre as co-                                              particularmente a atenção os mo-
         roas de Portugal e de Castela pelo                                             delos da “Nau Príncipe da Beira”
         Tratado das Tordesilhas.                                                       – um exemplo ilustre da arquitec-
           A grande epopeia dos Desco-  Sala dos Descobrimentos.                        tura naval típica do séc. XVIII e

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